Divergente - Veronica Roth


Quando um livro te deixa com a sensação de déjà-vu, mas mesmo assim ele se torna favorito.

Depois de tantas guerras, foi necessário chegar em um consenso onde separaram as pessoas em Facções de acordo com a “personalidade” delas, que era definida pelo motivo que culpavam o início de uma guerra. Quem culpava o egoísmo, ficou para a Abnegação. Já a agressividade, ficou para Amizade; A duplicidade, ficou com a Franqueza; a covardia, foi para a Audácia e aqueles que culparam a ignorância, ficaram na Erudição.

Como possuem os mesmos princípios, as pessoas vivem em paz. Porém, ao fazer 16 anos, os jovens passam por uma simulação para ver para qual facção eles pertencem e logo depois tem a Cerimônia de Escolha, onde eles escolhem para qual Facção vão – e, no caso de escolherem outra diferente da que foram criados, significa renunciar à família e todas as coisas que aprendeu.

 “Facção antes do sangue.” 

 Aqueles que não se saem bem nos testes e não passam do processo de iniciação, acabam sem-facção o que significa muito trabalho e recursos insuficientes. Beatrice e seu irmão Caleb têm poucos meses de diferença de idade, então fazem o Teste e vão para a Cerimônia de Escolha juntos. Ela sempre teve certeza de que ele escolheria ficar onde nasceram, afinal ele sempre esteve disposto a ajudar o próximo, nunca fora egoísta e sempre seguiu instintivamente aos ensinamentos da Abnegação, enquanto ela não sabia qual escolher, já que seu teste deu algo diferente do comum. Mas a utopia tem fim quando além de escolher a Audácia, tem que passar pela iniciação - um processo que todas as facções têm, mas no caso da escolhida vira uma competição por sobrevivência.

A grande graça da distopia, pra mim, é a “descoberta”. Não se trata de passado ou presente, se trata de futuro – e o fato de ser imprevisível, abre as portas para a imaginação de quem se propõe a isso. Divergente não é de todo inédito, afinal, eu li outras distopias antes dele, então acho que é um sentimento comum (o mesmo acontece com qualquer gênero literário), mas possui seus diferenciais.

Tris, a personagem principal é um dos motivos para o sucesso da narração: ela se descobre a cada página, mesmo parecendo decidida em certos momentos, algumas coisas a surpreendem e ela se supera. Ela se torna uma pessoa corajosa e impulsiva para tomar decisões, mas não é precipitada nelas. Felizmente, ela não é muito caricata, muito fácil de catalogar e isso significa que a autora foi feliz na escolha da protagonista: ela é, de fato, uma divergente. Suas ações mostram isso e não apenas descrições.

O fato da autora colocar esta Chicago futurística inicialmente como uma utopia não me convenceu, porque eu sabia que alguma coisa iria acontecer para mudar o cenário, alguma coisa estava errada por trás do funcionamento perfeito da cidade. Mas foi só pelo meu pé atrás, porque a autora não deixou escapar indícios do que poderia estar errado logo no início. Porém, a iniciação da Audácia me assustou. Eu não conseguia imaginar o porquê de algo tão cruel se não existia guerra nem predisposição para isso.

Este livro me prendeu do início ao fim - era uma ansiedade pelo momento em que eu poderia voltar a lê-lo. A autora sabe guardar bem os segredos e conseguiu me surpreender em muitos momentos. E, OMG, teve romance de uma forma natural, sem soar desnecessária (Quatro ♥)

"Ele não é doce, gentil ou especialmente bondoso. Mas é esperto e corajoso e, embora tenha me salvado, tratou-me como uma pessoa forte. Isso é tudo o que eu preciso saber."

Mas, ao terminar de ler, algumas perguntas pularam na minha cabeça. Aí, achei que alguma coisa não estava tão completa assim. Veja bem: o único momento em que me questionei durante a leitura - que senti falta de alguma coisa -, foi sobre a iniciação, porque não nos dá nem ideia de como acontece nas outras facções e ficava me perguntando por que aquele processo tinha que ser tão forte e como as pessoas conseguiam viver em paz depois daquilo. O que mais me preocupou na verdade, foi quando fechei o livro e vi que ainda estava curiosa sobre o resto do mundo (a única população sobrevivente era aquela?). Por mais que tenha continuação, considero isso uma questão fundamental que poderia ser esclarecida neste primeiro volume. Resumindo: o pano de fundo não é muito explorado. Claro, existem informações, mas ainda as achei insuficientes.

A autora é do time que não poupa mortes - algumas são tão rápidas que nem me tocaram (também nem sei se deveria), enquanto outras me arrancaram algumas lágrimas. E não são só mortes que chocam: existem algumas coisas bem cruéis em Divergente. Uma ação em particular, teve grande destaque, mas eu confesso que não me lembrava do personagem antes disso (não o suficiente para me solidarizar).

Enfim, Divergente é o livro que, à primeira vista, não apresenta falhas ou dúvidas: é pegar e ler sem parar. Mas depois de ficar um pouquinho mais inteirada no tema, é impossível não se incomodar com uma coisa ou outra - nada que tire o favoritismo do livro. A leitura é fácil: acredite, a autora tem uma narrativa um pouco crua e simples, mas não menos envolvente.
Comentários
24 Comentários

24 comentários:

  1. Oi, Ceile!
    Assim como você, também amei Divergente. Posso falar por horas e horas sobre o livro mas mesmo assim sempre vou achar que não falei tudo. HAHAHA O que você acha sobre as comparações com Jogos Vorazes? Bem, vejo que você gosta do Quatro também... MAS ELE É MEU HAHAHA Brincadeira, podemos dividi-lo :p Sobre o que você disse sobre querer saber sobre como ocorrem as coisas nas outras facções, também senti isso, por isso gostei tanto quando a Christina falou sobre os testes de iniciação da Erudição. Adorei sua resenha!

    Beijos
    http://enclausuradas.blogspot.com.br/ :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não sou a maior fã de comparar livros assim, mas tem coisas em Divergente muito parecidas com Jogos Vorazes - principalmente quanto à classificação da iniciação.
      Acho JV mais completo - ele não te deixa muitas dúvidas depois de terminar, sabe? Mas eu não saberia dizer qual meu preferido rs.

      Beijo!

      Excluir
  2. O que mais me preocupou na verdade, foi quando fechei o livro e vi que ainda estava curiosa sobre o resto do mundo (a única população sobrevivente era aquela?). -- Eu li uma resenha falando que o segundo livro a autora vai falar sobre os outros lugares do mundo e tals...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ahhh e eu tbm amei o Quatro kkkkk (como não amar?) e gostei bastante do livro, está nos meus favoritos também!!!

      Excluir
    2. É, fiquei sabendo mesmo que Insurgent é bem mais completo, mas acho que isso deveria ao menos ser "pincelado" neste primeiro volume, sabe?

      Beijos!

      Excluir
  3. Aaaaah poxa que resenha detalhista tanto que dá vontade de correr e ler tambem!
    É sério o que li em outra resenha que é parecido com Jogos Vorazes?!

    ótima resenha Ceile!!

    Beeijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, até tem umas coisas parecidas, mas felizmente Divergente prende e estas coisas não incomodam tanto, sabe?

      Beijo!

      Excluir
  4. Vc conseguiu apimentar ainda mais a minha vontade de ler.
    Espero que a autora esclareça melhor essa sociedade nos próximos livros.


    Bjus!

    ResponderExcluir
  5. Ah Ceile, você sempre me deixando louca pelas distopias.
    Ainda não li Startres que você me deixou doente de curiosidade com sua resenha, mas 2013 promete. Resenha impecável.

    Beijos
    Fernanda Souza
    @LeitoraIncomum / www.leitoraincomum.com

    ResponderExcluir
  6. Estou louca pra ler este livro, já li resenhas falando muito bem dele... algumas falhas na história de uma distopia acho que são normais - é quase impossível pensar em tudo, e colocar no papel em um livro só -, e pelo que você disse não é nada tão ruim assim... e que bom que a Tris é uma boa protagonista! Dá mais vontade de ler sabendo disso!
    Bjus, ótima resenha!
    Paty Algayer - http://www.magicaliteraria.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É, a autora tem uma imaginação, nós temos outra... Impossível bater tudo. Felizmente não são coisas que incomodam muito, porque tem continuação e a autora virá com muitas respostas ;)

      Beijo!

      Excluir
  7. Oi Ceile,
    Estou com divergente em casa! Ganhei em uma promoção e não sabia o que esperar, até então eu não tinha lido nenhuma distopia e não sabia se gostaria do gênero.
    Daí li Legend e amei! Resolvi procurar algumas resenhas de Divergente, acho que irei gostar, mas gostei muito da sua resenha sincera!
    Vou adiantar minha leitura deste livro!

    Beijos
    Chrys
    Todas as coisas do meu mundo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, Chrys! Eu também AMO Legend <3 Corre pra ler Divergente, é sensacional =)

      Beijo!

      Excluir
  8. Oi Ceile!

    Esses dias fui ouvir falar desse livro, via todo mundofalando muito, mas não conhecia. A sua é a segunda que leio com a mesma opinião, e o livro me parece ser mesmo bom! Não gosto muito de distopias, não são meu forte, mas acho interessantes os novos mundos criados pelos autores. E essa coisa de morte... nossa é cruel demais! Sei bem o que quer dizer com mortes rápidas... já tive essa sensação antes, de ser tão rápido que não deu para sentir.
    Espero poder ler esse livro, e achar ele bom também! ;)

    Beijos,

    Marcele
    bestherapy.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Marcelle!
      Ah, leia o livro! Quem sabe você não passa a amar distopias? rs

      Beijo!

      Excluir
  9. ooi,Ceile
    Eu também já li este livro, e amei posso dizer que é um dos meu preferidos.Além de adorar os personagens, acho que me apaixonei pelo quatro, hahahah,e adorei sua resenha acho que descreveu muito bem o livro. Estou super ansiosa para ler insurgent.
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ahhh, o Quatro é um lindo! Impossível não se apaixonar ♥

      Também estou MUITO ansiosa pra ler Insurgent *0*

      Beijo!

      Excluir
  10. Para, Divergent é A+. Eu também fiquei meio assim por tudo acontecer só em Chicago, mas discordo quando você fala que ela devia ter explorado isso no primeiro livro, porque é um conteúdo muito denso e, principalmente, porque se trata do ponto de vista da Tris e o que ela conhece do mundo dela. Acredite em mim, a visão dela se expande no segundo livro e tenho certeza que teremos mais respostas ainda no livro 3. AI MAL POSSO ESPERAR :(

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, By, eu queria ter pelo menos uma noção - sei lá, a Tris viveu 16 anos naquele lugar, nenhuma informação vazou? rs
      O livro é meu favorito porque amei e não consegui largar e mal posso esperar por Insurgent ♥

      Beijo!

      Excluir
  11. Ainda não li nenhuma distopia. Não tive interesse em nenhuma em particular.

    Não gosto de leituras cheia de mortes...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, Gladys, meu interesse só foi surgir mesmo depois de pegar um livro sem saber do que se tratava e assim descobri o gênero e não larguei mais!

      Beijo!

      Excluir
  12. Oi Ceile, tenho gostado dos livros de distopia. Este eu ainda não li, mas pretendo ler.
    Bjs, Rose.

    ResponderExcluir
  13. Odeio ser o chato que é do contra, mas adorei o livro. E considerando que é contado do ponto de vista da Tris, e sabendo que tudo no mundo de Divergent é mantido bem em segredo, não achei estranho não ter de cara todos detalhes de todas facções. Espero ancioso pelo proximo livro, e sinceramente tenho reclamações sobre ele não, até porque ao contrario de THG, consegui ler ele todo. THG nao consegui passar nem do quinto capitulo x_x

    ResponderExcluir
  14. Sou louco por distopias, e com "Divergente" não seria diferente. As distopias que li até agora não me pareceram tão cruéis quanto essa (só colocaria "Jogos Vorazes" nesse patamar). Gosto dessa narrativa crua e envolvente e de fácil compreensão. Enfim, mais uma série distópica pra minha listinha de próximas leituras.

    @_Dom_Dom

    ResponderExcluir

Deixe sua opinão ;)

Comentários ofensivos serão excluídos.
Caso tenha um blog, deixe o link no final do comentário.