Um encontro e vários desastres



Conheci X em uma viagem há uns anos atrás, então tinha contato com a criatura há muito tempo. E a gente sempre conversava. Um dia ele começou a me dar mole, mas sempre ignorei porque eu não queria sair com ele por motivos de a) ele fala muita, muita besteira (a gente releva online, mas...) b) escreve "agente" ao invés de "a gente", "amisade" ao invés de "amizade" e etc. e c) fica mudo quando meus amigos chegam perto de mim ao falar com ele. Mas conversa vai, conversa vem (online, porque relevando os erros de português até que era legal conversar com ele), uma amiga pegou meu celular e acabou vendo tudo. E disse para eu parar de ser besta, ele era fofinho, e blá blá blá.

Aí eu decidi dar uma chance, porque era verdade. Ele era fofinho. Então marcamos de ir ao cinema.
Eu marquei no cinema, porque ele queria sair andando na rua sem rumo. E escolhi o filme mais chato que estava passando com um propósito... o de não assisti-lo. Mas ele chegou lá e não queria ver o filme, exatamente porque escutou a mesma coisa que eu sobre ele. Então fomos para um filme de terror? De ação? Não, porque o cinema da minha cidade não tinha. Então fomos ver uma animação. Uma. Animação. 
Pausa para o fato de que fomos no dia em que todo mundo pagava meia entrada porque ele não queria pagar a entrada inteira. Aí eu pensei: ok, nada demais. Mas vocês pensam que ele, nem que contra a vontade, ofereceu comprar a minha? Não! Comprou a dele logo e pronto. Mas eu relevei, porque eu não queria sair para que ele bancasse tudo, de qualquer forma. Só foi um grão a mais para o papo da galinha, que estava vazio até então.

Aí entramos na sala. A sala estava lotada... de crianças. "Ok", pensei, desde que não joguem pipoca em mim nem fiquem chutando minha cadeira... E então o filme começou. O filme era bom, não me entendam mal, ri muito... mas ele rio mais do que a maioria das criancinhas que estavam lá. Não se virou para falar comigo durante o filme nem uma única vez e quando quis me oferecer pastilhas, ele ficava balançando na frente dele para que eu ADIVINHASSE que ele estava me oferecendo pastilhas. Disse que não.
O cinema fica localizado no pólo de restaurantes da cidade relativamente pequena na qual moro, e ele disse que estava com fome. Tem um lugar bem perto onde vendem hambúrgueres fantásticos em um posto na frente do cinema, e eu não me importaria de ir lá com ele. Ele não queria ir, porque os amigos dele - e ele - frequentavam lá e ele disse que estava enjoado de lá. Ao lado do cinema tem uma burgueria que vende um café fantástico, e era isso o que eu queria. 

Ele: Náááááá, café? Quero comer.
Eu: Ok, mas aqui vende hambúrguer, já que você não quer ir lá no outro hambúrguer.
Ele: Não, aqui é caro. (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)
Eu: Ok, então escolha. Não estou com fome.
Ele: Que tal irmos ao Chinês?
Eu: Ok.

No pólo existem dois restaurantes chineses, chamaremos o mais legal de Y e o outro de Z. Eu preferia ir à Y, porque eu gosto mais do ambiente. Era mais espaçoso, menos abafado e o atendimento é melhor. E não é exatamente mais caro. Mas ele quis ir à Z, porque lá eles vendem meia porção, que é o suficiente para duas pessoas e é. Mais. Barato. Respirei fundo e fomos em frente. Ele me envolveu com seu braço achando que estava sendo romântico, e eu pensando em quantos grãos aquela galinha estava comendo naquele momento. Chegamos lá. Sentamos. O lugar estava cheio e, como é pequeno, tem poucos garçons. Ele esperou pacientemente até ser visto? NÃO! Ele ficou batendo na mesa como uma criança de 7 anos chamando GARÇOM, GARÇOM, GARÇOM!!! E rindo disso! E veio contar essa história super engraçada de como um amigo dele fez isso uma vez há anos atrás, e kakakakakakakakaka, foi muito engraçado e kakakakakakakaka. E eu pensando: ele só deve estar nervoso, quer descontrair, releve, deixe de ser inflexível. E o papo da galinha enchendo cada vez mais.
Aí o garçom chegou com os cardápios, entregou o de comida japonesa para ele e o de comida chinesa para mim. 

Ele: Eca! Japonês! Você gosta?
Eu: Não, não...
Ele: Garçom, os preços estão todos no cardápio? ------> WTF??
Garçom: Sim.
Ele começou a olhar os preços dos pratos, ao invés de olhar sequer o prato, e ficava apontando para absolutamente TUDO dizendo que era tudo caro. 
Ele: Caro, caro, caro, caro... SETE REAIS uma porção minúscula de batata frita? Que absurdo! Vamos comer o quê, um Shop Suey? 
Eu: Pode ser.
Ele: Aah, aqui, meia porção. Ótimo (significa 'barato').
Calada estava, calada fiquei.
Ele: Você quer algum acompanhamento? Batata... arroz...?

Se o cara mal pega no cardápio e fica dizendo que tudo está caro, o que eu iria dizer? Que sim? "Sim, baby, quero um risoto, rolinho à primavera e depois eu quero sobremesa. Obrigada." Não, né. Não estava ruim o suficiente, um amigo dele chega lá. Um amigo da faculdade. Minha faculdade é pequena. Eu conheço muita gente do curso dele. Não estou ansiosa para descobrir se virei o assunto do mês entre os nerds solteiros e sem vida de lá. Ele foi falar com o cara e voltou. E começou a falar mais besteira, alto. Ele tava quase gritando! Blá blá blá. blá blá blá, blá blá blá, e eu no modo 'sorria e acene, sorria e acene', até que ele se cansou de falar dele e perguntou uma ou duas coisas sobre mim. (Que amor ele, não?)

Até que ele começou a reclamar que a comida estava demorando. E voltou a bater na mesa, com aquela brincadeira chata e sem graça de chamar o GARÇOM, GARÇOM, GARÇOM. E rindo. E RINDO! E tudo o que eu pensava era em como eu ia escapar daquela situação constrangedora. A comida chegou. Então ele foi um cavalheiro e me deixou servir-me primeiro e... espera. Não! Ele se serviu primeiro, pegou quase todos os poucos camarões que vêm na porção e me passou o prato com a comida. E começou a comer. Que nem um porco. Se abaixou em cima do prato e ficou com a cara a uns 10cm da comida, e entrou num modo de garfo-comida-boca interminável. Ele não mastigava, só colocava comida, e mais comida lá, e não se levantava! Eu comecei a assistir a novela e a mexer no celular, porque aquilo era um absurdo. 

Ele: Eu tenho essa péssima mania de me abaixar para comer e ficar lá, mas eu não sei o quanto isso afeta as pessoas. Me avise se incomodar.
Se ele não se tocou sozinho, o que ele faria se eu dissesse que estava constrangida? Ia se melar todo e ia colocar guardanapo na gola da camisa como babador, como ele 'brincou' que ia fazer quando a comida chegou? 
Então ele terminou a primeira porção dele, colocou mais e come, come, come, come sem respirar, levantava pra falar uma besteira, se abaixava e come, come, come, até que se levantou com uma mancha de molho no queixo. E eu pensando em como pinoia tinha me metido naquilo. E eu ainda na minha porção. Ao terminar de comer, ele fez a seguinte pergunta:
Ele: Vai comer esse restinho? (!!!!!!!!!!!!!!!)
Eu: Não.
E ele colocou até a última gota que tinha no prato da refeição no dele e começou a comer. E eu já estava impaciente e queria ir para casa, mas não sabia como. Então fui mexer no celular para mandar uma SMS para minha mãe me ligar para me mandar ir para casa, mas ele notou e perguntou:
Ele: Tem que ir para casa cedo?
Eu: ÉÉÉÉÉ, tenho... é que é aniversário de uma amiga da minha mãe e eles vão à uma pizzaria... e minha mãe quer que eu vá... (o que não era mentira)
Ele: Ok, deixa só eu terminar de comer aqui.

Comeu, comeu, comeu, comeu...

Aí ele pediu a conta. E eu gritando por dentro muitos OBRIGADA, MEU DEUS!!!
Quando o garçom traz a conta, ele olha, passa pro meu lado e diz:

Ele: 12,25 para cada um.

Sério. Sério mesmo.

Tirei o dinheiro da bolsa e entreguei a ele. Ele pagou e fomos embora. Eu agradecendo por morar a dois quarteirões do cinema, e ele reclamando disso. Com o braço ao meu redor. E eu não escutava nada do que ele dizia, porque eu só pensava POR FAVOR, POR FAVOR, POR FAVOR NÃO TENTE NADA! Aí fomos atravessar um cruzamento e ele me soltou; não deixei que se reaproximasse. Discretamente.

Ao - FINALMENTE - chegarmos à minha casa:

Ele: Então, foi muito bom... eu achei que não ia conseguir conversar com você...
Eu: É... eu também.

Ele pegou minha mão de qualquer jeito, deu um beijo sem graça e ME DEU A DELE PARA EU BEIJAR TAMBÉM. Quando eu fui fazer isso, ele METEU A MÃO NO MEU NARIZ. Riu, pediu desculpas e foi me dar um abraço. Apertado. Eu virei tanto a cara para o outro lado que ele me soltou para me agarrar, viu que não dava e me abraçou de novo. Quando soltou:

Ele: Me diverti muito.
Eu: É...
Ele: Vamos fazer de novo, qualquer dia desses... sabe, como amigos.
Eu: Claro, claro... (QUE FUCKING NÃO!)

Então, além de ter me proporcionado um programa de índio desses, de ser mal-educado, de só falar besteira e de meter a mão no meu nariz, ainda me dispensou discretamente querendo ser só meu amigo.

Por favor, vida, vamos ter uma conversa...
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Este texto foi enviado por uma leitora para participar do concurso "Levei um pé na bunda" e ela ganhou um kit do livro O Teorema Katherine.

O texto foi reproduzido na íntegra.
Comentários
12 Comentários

12 comentários:

  1. meudeus, eu to rindo horrores aqui! UASHUASHAUSHAUSHAUSH' o melhor pé na bunda de todos os pés na bunda!

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  2. COITADA CARA, eu teria saído no meio do cinema, porque né? Enfim, ri muito com o texto!

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  3. Nem me fale de pé na bunda, porque olha... UAUHAHUAHUA Ah, tô seguindo o blog.

    Um beijo, Karine Braschi.
    Geek de Batom.

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  4. Tadinha!!! Ri muito com essa história, mas deu uma pena dela... rsrsrsrs
    Letras & Versos

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  5. Boa tarde,

    Mas que coisa hein, uma história e tanto; não é fácil passar por essa situação....abçs.

    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

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  6. Olha, ela devia é ter agradecido por ter sido dispensada, isso sim! Imagina aturar este mala perturbando pra tentar algo? Acho que eu teria matado a tal amiga que colocou pilha, ou tentaria armar um encontro dele com esta tal amiga... *sorriso maléfico*

    Beijos
    http://fromafallenangelsheart.blogspot.com.br/

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  7. Vixe coitada...kkkkkkkkkkk
    Mais a história foi engraçada até, no momento dá raiva mais depois acredito que até ela dá risada disso.

    bjs
    Tais
    http://www.leitorafashion.com.br

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  8. Hahahahah imagino ela contando pra amiga que disse que ele era fofo coitada!

    Homens que comem como cachorro, conheço muitos assim, enfiam a cara no prato e parece que nada mais no mundo existe aff!

    Eu ri lendo aqui hahaha

    Tem promoção lá no blog, passa lá :)

    www.chatadoslivros.blogspot.com.br

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  9. Ai, ai... gostei do papo da galinha enchendo. :)

    Bye da Pah
    Livros Estrelas

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  10. Nada como -O que nos acontece- para dizer "EITA VIDA!".
    Adorei este episodio,principalmente sobre o papo de galinha que foi enchendo aos poucos.
    Não,e o que mais dei risada aqui,foi do fora que ela levou,apesar de tudo.Não só por Deus mesmo,são cada figura que surgem em nossas vidas...

    Beijokas Ana Zuky

    sanguecomamor.blogspot.com.br

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  11. Tudo bem que o cara foi sem noção, mas como ele iria saber se estava exagerando, se alguém não dá esse toque?!?! Vai ver que com a turminha dele ele seja assim o tempo inteiro, e o pessoal não reclama.

    @_Dom_Dom

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  12. kkkkkkkkkk adorei! E que final?! Nossa, muito bom! Esse texto foi mega criativo, bem bacana mesmo.

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