Caçadora de Unicórnios - Diana Peterfreund

UNICÓRNIO: animal mitológico com a forma de um cavalo e com um chifre espiralado. É associado à pureza e força e, em diversas narrativas, é dócil. Segundo o mito, o único ser capaz de aproximar-se é uma donzela virgem. (fonte: Wikipédia)

Além desta breve definição de unicórnio, temos diversas referências destes seres mágicos na literatura e sua benevolência é praticamente unanimidade entre aclamados autores. Dentre eles, C. S. Lewis e J. K. Rowling. Não obstante, Diana Peterfreund (famosa pela série Sociedade Secreta, também publicada pela Editora Record) nos desafia com sua temática totalmente antônima ao que se conhece mundialmente sobre essas criaturas. Você pode pensar: “Lá vem mais uma maluca querendo desmitificar o que já existe”. Porém quero convidá-lo (a) para embarcar numa história que nasceu de um sonho (ou pesadelo?) de Diana, onde estava sendo perseguida por um unicórnio que desejava estraçalha-la para se alimentar. Deixe com que a imagem construída se desfaça e abra sua mente para conhecer A Ordem da Leoa.


"Os unicórnios são monstros que comem pessoas. Eles não têm asas, não são cor de lavanda nem cintilantes, e você jamais conseguirá capturar um e cavalgá-lo sem que ele perfurasse seu tórax até arrancar suas tripas. E mesmo se ele não atingisse as artérias principais, coisa que nunca acontece, você ainda morreria por causa do veneno mortal que ele tem no chifre, mas não se preocupe. Minha tatara-tataratia Chlotilde matou o último bicho da espécie 150 anos trás."


Astrid é uma adolescente que cursa o ensino médio, claro, namora o cara mais popular da escola e que sonha em seguir carreira na medicina. Não fosse por sua obcecada mãe e o fato de que, com sua ininterrupta ladainha, jamais a deixa esquecer que descendem de uma linhagem mortal de caçadoras de unicórnio, ela poderia ser uma garota totalmente normal. Suas preocupações resumiam-se à escola, ao trabalho voluntário em um hospital, em alguns bicos como babá e nas elaborações de planos para esquivar-se das investidas apimentadas de Brandt, pois ainda não achava que era a hora de perder sua “virtude”. Tudo ia bem, até a noite em que ela é surpreendida por um – que até então achava ser imaginário – unicórnio.

O animal a reverenciava, mas não poupou esforços em atacar Brandt. Desesperada, Astrid vê o animal desaparecer e o namorado agonizar com o veneno se espalhando rapidamente. A jovem liga para a mãe que, ao medicá-lo com um misterioso líquido, consegue salvar o garoto. Após o bizarro acontecimento e o rompimento em público do namoro, Lilith diz à filha que ela será enviada para Itália, para treinar com um grupo recém-recrutado de descentes de caçadoras. Astrid considera tudo aquilo uma loucura, afinal, os unicórnios não estavam extintos? O que diabos levava a mãe a pensar que ela poderia matá-los? Logo ela que sequer tinha coragem de esmagar uma formiga.

No fim das contas, Astrid embarca para a Europa e encontra sua prima e melhor amiga Phillipa, mais velha e que já estava na faculdade, mas que decide unir-se às caçadoras para protegê-la dos perigos vindouros. Logo o pequeno grupo está completo e os treinamentos se iniciam, pois os ataques a humanos na cidade e a animais em propriedades rurais tornaram-se frequentes e apenas as caçadoras eram capazes de matá-los. No entanto, teriam que descobrir por si só como fazê-lo, uma vez que não haviam manuais deixados pelas antecessoras e poucas eram as garotas, ainda virgens e “voluntárias”, que descendiam das linhagens de Alexandre, o Grande (vou explicar). Portanto, além de não saberem matar, estavam também em desvantagem de número.

Bem, por incrível que pareça, os três parágrafos acima são um BREVE resumo e, mais do que isso, daria spoilers. Sério. Vocês não fazem ideia da quantidade de informação que há nas 360 páginas deste livro e tinha que reunir o suficiente apenas para introduzir lhes à história. Obviamente (pelo tom empolgado, percebem?), Caçadora de Unicórnios está no meu top 5 de 2013. Vou dizer-lhes o porquê. Primeiramente porque estava precisando de um livro de fantasia faz tempo e este me surpreendeu. Pensei que encontraria um cenário com castelos, camponeses, linguagem mais antiga e etc. Entretanto, fui surpreendentemente presenteada com o séc. XXI, com uma personagem principal totalmente dinâmica, engraçada, realista e uma linguagem totalmente atual.

Também sou apaixonada pelo Egito Antigo, Civilizações (Maias, Incas...) e Mitologia Grega (não graças aos meus professores de ensino médio), que é o coração do livro. A autora ligou a linhagem das caçadoras a Alexandre, o Grande. Para Diana, seu cavalo, Bucéfalo, era na verdade um unicórnio gigantesco e mortífero da espécie persa. Ele pôde domá-lo porque era capaz de comunicar-se com o animal através do pensamento e a união de ambas as forças os tornavam destruidores e invencíveis. Como Alexandre era um garanhão conquistador, suas aventuras fizeram com que sua herança genética desse origem a diferentes linhagens e as descendentes diretas eram as chamadas Llewelyn, as caçadoras mais poderosas.

E a aula de história não se resume a isso (e quem dera livros como esse fossem indicados na escola). No decorrer das páginas há um belo passeio pela antiguidade e pelos séculos seguintes, onde grandes artistas retratavam em telas belas virgens ao lado de unicórnios. Não bastasse o fato de os unicórnios serem assassinos sanguinários, havia cinco espécies: os zhi, os kirin, os re’em, os einhorn e os karkadann. Do menor e não menos fatal, ao maior e mais letal (e mais difícil de matar, pois seu tamanho assemelhava-se a um mamute/elefante). Ou seja, Peterfreund foi audaciosa e criou um universo incrível e único, onde o pano de fundo é Roma, com toda sua beleza e carga histórica, dando mais charme ao enredo e nos encantando com os passeios como, por exemplo, ao Coliseu.

Um detalhe significativo do livro é quanto prevalência da virgindade, assunto que há muito deixou de ser tabu, mas que ainda assola muitas mocinhas. Fato. Imagine você, garota, em pleno século XXI e tendo que permanecer casta pelo bem da humanidade e a decisão não depende única e exclusivamente de você, pois o maior sonho de sua mãe é que você saia pelo mundo matando seres que, supostamente, não existem. Êeeeee, que felicidade, hum?! #sqn Felizmente, para Astrid, há uma prima maluca – que, apesar de já passar dos vinte, ainda se mantém “pura” – lhe dando força e que está adorando o fato de manejar arcos, machados e todo tipo de parafernália que derrube um unicórnio. Sem contar as aventuras a parte que ela é capaz de proporcionar com as escapadas do Claustro.

"O kirin estava rosnando agora, prostrado na grama, com cada esforço para respirar pontuado por gritos sibilantes, sons que eu me lembrarei pelo resto da vida. Os olhos dele estavam arregalados de pavor, revirando nas órbitas como bolas amarelas. Phil se aproximou lentamente. Ele mal se moveu quando ela ficou de pé acima de seu corpo ferido, respirando com toda a dificuldade de um animal morrendo. Ela ergueu a faca bem alto. Ande. Ah, Deus, ande logo. Eu apertei bem os olhos. Squish. Squish. Squish. Quando olhei de novo, estava tudo terminado e Phillipa Llewelyn estava coberta de sangue de unicórnio."

O conteúdo é bem equilibrado, as personagens bem construídas e com personalidades fortes e marcantes, daquelas que ou você ama ou você odeia. Apesar da quantidade de informação (já que é necessário esclarecer ao leitor e às herdeiras de sangue sobre seus antepassados, por isso a aula de história) a trama gira em torno de uma empresa da indústria farmacêutica que financia a sobrevivência da Ordem da Leoa e busca desenvolver um remédio que seja capaz de curar TODAS as doenças, baseando-se nos fatos de que o veneno de unicórnio é inofensivo às caçadoras e eles são capazes de curar-se rapidamente dos ferimentos. O mistério maior é com relação ao aparecimento repentino das criaturas, já que estavam extintas, e o porquê. Entrelaçado a isso, surgem dois rapazes interessados em Astrid e Phil, o que vai se revelar uma confusão, pois como bem sabemos, relacionamento está fora de cogitação para quem quer ser uma caçadora (leia-se: nada de sexo, seja virgem e mate unicórnios).

Há ação, suspense, mistério, romance, polêmica... É um mix de gêneros, temas e todos eles nos proporcionam uma leitura viciante, daquelas que não te deixam largar o livro e ir madrugada adentro. Foram necessárias apenas algumas horas para finalizar a leitura e, sinceramente, foi mais demorado escrever esta resenha (dois dias). Havia uma coleção de flags marcando quotes e informações históricas e muitos parágrafos relevantes que achava que deveria citar neste texto. No entanto, quando me deparei com tudo que já havia escrito, murchei. Então, só posso dizer que AMEI esse livro e estou super-mega-ultra-power ansiosa pelo próximo e indico sem sombra de dúvidas.

"Acima de nós, uma sombra gigante cobriu o céu da aurora. Fiquei paralisada. O karkadann estava no pico da colina. (...) Por um momento, o mundo parou, uma desaceleração que fez meu senso de caçadora parecer, em comparação, com um trem bala."

Há um mundo escondido nessas páginas e, mesmo tendo me surpreendido, não esperava menos de um livro indicado por um de meus autores favoritos, Scott Westerfeld (conhecido pela série Feios). Se busca sair dos livros clichês de fantasia e com temas super batidos, leia este. Se cansou de triângulos amorosos, leia este. Se não aguenta mais fadas, vampiros e lobisomens, leia este. E, se você simpatiza com história antiga, Caçadora de Unicórnios é um prato cheio. E aí? Preparado (a) para enfrentar um terrível karkadann? Pegue sua arma feita de alicórnio (chifre retirado do unicórnio abatido) e vamos à batalha. Raaaaaw!

Comentários
11 Comentários

11 comentários:

  1. Gente, que resenha legal 8D Eu não dei nada pela capa, mas por sua resenha já vi que tava errada! Eu não enjoei propriamente dito de contos de fadas, vampiros e lobisomens (tá, triângulos amorosos sim,e como enjoei!) mas ler algo diferente sem dúvidas é convidativo. Adorei a resenha e as ideias, saber que é um livro rico e com varias passagens histórias me agradou ainda mais, sem dúvidas tá na listinha!
    Um abraço flor!
    Pan
    http://pansmind.blogspot.com/2013/11/sorteio-de-natal-amazonia-arquivo-das.html

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  2. Hahahaha, "seja virgem e mate unicórnios", Deus, tô chorando.

    Eu fiquei morrendo de vontade de ler a série só porque é da Diana Peterfreund. Amo Sociedade Secreta ♥ A sua resenha só me animou mais ainda porque simplesmente adoro livros com bastante história e mitologia.

    Sem falar que você também ama Scott, cara, qualquer um que tenha Scott Westerfeld como um dos autores favoritos merece, no mínimo, o benefício da dúvida. E a resenha está ótima, agora sou eu quem está super-mega-ultra-power ansiosa para ler.

    Beijitos

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  3. Essa é a segunda resenha desse livro que vejo e gostei do que li, a sinopse me deixa curiosa e junto com a resenha essa curiosidade só aumenta, parece ser um livro bem legal.

    http://momentocrivelli.blogspot.com.br/

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  4. Você realmente apaixonou pelo livro, dá para perceber em sua resenha. É tão bom quando um livro faz isso com a gente. Vou acompanhar por resenhas essa série. Quero ver como vai ficar mais a frente. Mas, sempre tive unicórnios como seres dóceis e puros. Esses ai saiu de um pesadelo mesmo. E não sabia disso, foi uma surpresa ler isso.

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  5. Fiquei com desejos conflitantes ao ler sua resenha.
    Não gosto muito de fantasias e de séries, mas você empolgada fez eu achar esse livro excelente, e despertou minha curiosidade por essa leitura.
    Gostei da trama original, da protagonista, dos dilemas, ação, tem de tudo essa obra.

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  6. como a Shadai fiquei um pouco receosa com a leitura do livro, não sei se esse lado mitológico me agrada!
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  7. Olá Sabrina!
    Meu deus, que resenha maravilhosa *---*
    Eu confesso que não estou cansada de triângulos amorosos e muito menos de vampiros de lobisomens, mas preciso ler esse livro! rs.
    Parece ser uma leitura maravilhosa, surpreendente e que prende muito!
    Beijos,
    Ana M.
    http://addictiononbooks.blogspot.com.br/

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  8. Essa capa é muito bonita e a história também.

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  9. Eu gosto bastante de livros de fantasia/magia/aventura. Achei super interessante essa ideia de abordar os unicórnios como criaturas maléficas. Fora isso, vi que esse livro foge bastante de vários clichês que encontramos por aí. Claro que terei que ler esse livro, e espero que seja em breve.

    @_Dom_Dom

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  10. Não imaginei que a história do livro seria tão boa, pela capa e sinopse já dava para reparar que fugiria do comum, com certeza quero muito ler quando tiver um tempo vou comprar e devorar sem dúvida!

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  11. Oi! Primeiramente, adorei sua resenha.
    A proposta do livro é bem bom mesmo, gostei que esse livro foge completamente dos livros de fantasias que temos por ai, já cansei de ler sobre vampiros, lobisomens, bruxas, anjos, arghhh... Nunca li nada sobre unicórnios, sério! Fiquei curiosa em relação a este livro.
    So o que me desanimou é que é uma série, porque os autores não fazem mais livros que seja único? Poxa :/
    Beijos

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