Filhos do Jacarandá - Sahar Delijani

Mais do que apenas relatos contados em uma história, “Filhos do Jacarandá” é um espelho de todas as lutas que aconteceram, que estão acontecendo e que ainda vão acontecer. A luta dos filhos de um país em busca do melhor para todos.

“Mas eles sabiam que alguma coisa havia dado errado. Os homens de rostos severos e bocas cheias de raiva, desumanidade e Deus, que tomaram o país desde estão, bradando serem os portadores das palavras justas e das leis sagradas, lhes davam arrepio. O que está acontecendo? Às vezes, ela recorria a Ismael, desesperada. Aos poucos, ficou claro para todos que aqueles homens se consideravam os únicos e legítimos proprietários da revolução, donos inquestionáveis da vitória. Expurgaram das universidades o que chamavam de atividades antirrevolucionárias, fecharam jornais, baniram partidos políticos. Suas palavras se tornaram lei, e todos os outros foram considerados reacionários; com eles, Arazi e Ismael.”

Não é comum começar com um quote, mas achei interessante pois explica bastante sobre o livro. Depois do Irã finalmente ter destronado o Xá (rei), a população ficou aliviada e esperançosa. Porém eles logo perceberam que aqueles que haviam tomado o poder não estavam lá pelos motivos que fizeram um povo lutar. Então, após uma revolução, houve outra... Muitos pais e mães lutaram contra o novo governo e pagaram por isso.

“Amir foi empurrado com violência por duas mãos às suas costas. Sentiu, então, a textura áspera da corda no pescoço. Quis gritar. Mas não conseguiu. E isso foi tudo, Depois, por apenas um instante, o tempo parou, e então, imprevisto como uma avalanche, acabou.”

Esses pais e mães tiveram filhos, e ninguém sabia se iria encontrar ou conhecer a família. Anos se passam e esses filhos vão se encontrar (ou não) com os pais, conhecer a sua história e ir de encontro ao lado mais obscuro do ser humano. E tudo o que aconteceu em 1983 se repete com os filhos desses prisioneiros, e começa tudo de novo.

Esse é o primeiro romance de Sahar Delijah, e segundo a biografia na contra-capa o livro foi baseado em experiências de seus familiares ativistas políticos e prisioneiros no Irã. Ao pegar o livro acreditei que fossem apenas relatados, objetivamente escritos, porém me enganei. Ela criou uma narrativa toda especial, sem tornar, no entanto, a verdade menos crua. É difícil não pensar que essas histórias, contadas como contos, se repetiram milhares e milhares de vezes, entre diferentes pessoas. Filhos que choram com a chegada da mãe, por não reconheceram aquela mulher que nunca viram. Outros que acreditam que o pai morreu de câncer, quando na verdade ele foi executado na chamada “Limpeza” e está enterrado numa vala comum como se fosse um lixo. E ainda aqueles cujos pais estavam do lado errado da luta, mas escolheram lutar junto ao povo.

Mais próximo da realidade do que qualquer livro sobre guerras e batalhas, “Filhos do Jacarandá” abre os nossos olhos sobre a cruel verdade do Irã pós-revolução, a cruel realidade do ser humano e do que ele é capaz. E assim como nenhum país está livre desses relatos, nenhum povo também pode ser feito prisioneiro dele próprio (não consegui deixar de pensar nas manifestações ocorridas aqui no Brasil, porque no Irã não foi tão diferente, exceto pela violência da polícia. Sim, lá foi muito mais violento).

Eu estava esperando esse livro há tempos, mas ele veio na hora certa. E no momento atual, recomendo o livro a todos que fazem parte de uma nação.
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. interessante ver o contexto histórico e os aprendizados do livro
    mas não é uma leitura que me interesse
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Deve ser bem impactante a história do livro por retratar um período de grande aflição para todos. Gosto de livros históricos, esse não me chamou muito a atenção na época que o vi pela primeira vez, mas hoje acredito que leria.

    ResponderExcluir

Deixe sua opinão ;)

Comentários ofensivos serão excluídos.
Caso tenha um blog, deixe o link no final do comentário.