Minha Metade Silenciosa - Andrew Smith

"Stark McClellan tem 14 anos. Por ser muito alto e magro, tem o apelido de Palito, mas sofre bullying mesmo porque é “deformado”, já que nasceu apenas com uma orelha. Seu irmão mais velho, Bosten, o defende em qualquer situação, porém ambos não conseguem se proteger de seus pais abusivos, que os castigam violentamente quase todos os dias. Ao enfrentar as dificuldades da adolescência estando em um lar hostil e sem afeto – com o agravante de se achar uma aberração –, o garoto tem na amizade e no apoio do irmão sua referência de amor, e é com ela que ambos sobrevivem. Um dia, porém, um episódio faz azedar terrivelmente a relação entre Bosten e o pai. Para fugir de sua ira, o rapaz se vê obrigado a ir embora de casa, e desaparece no mundo. Palito precisa encontrá-lo, ou nunca se sentirá completo novamente. A busca se transforma em um ritual de passagem rumo ao amadurecimento, no qual ele conhece gente má, mas também pessoas boas. " Sinopse retirada do Skoob

Você pode ler a sinopse de Minha Metade Silenciosa e relacioná-lo com outros livros, mas eu já adianto que ele é diferente. O protagonista não tem mais a inocência de uma criança, apesar de ainda estar descobrindo muitas coisas. A vida que ele leva é cheia de regras impostas pelos pais - ele não sabe o motivo, as coisas só são assim. As punições são absolutamente severas e desumanas e, apesar de incômodo e inquietação, Palito acha que a vida em família é realmente assim, afinal, esse é o jeito que a dele sempre foi. E a narrativa é isso: a vida de Palito como ela realmente é, sem a perspectiva de intervenção externa.

"Eu me movia com cuidado para onde quer que fosse. Não conseguia ouvir nada que eu mesmo fazia, mas me perguntava o quanto eu deixava o mundo deles barulhento, já que eles tinham duas orelhas e tudo."

É até complicado falar que este é um livro lindo, porque, bem, a história não é exatamente feliz, sabe. Diante da realidade dos personagens, algumas coisas são animadoras, como a amizade entre Palito e Emmy e o afeto da família dela com ele. Mas, no geral, a história é dolorida. Me senti com as mãos atadas , numa situação que eu só podia observar e lamentar. O que agrava esta sensação é saber que esta história não é tão ficcional quanto parece: muitas crianças e adolescentes passam pelas mesmas coisas dentro de casa e a gente só observa. Deve haver tanto barulho em meio ao silêncio, não? Como eu queria pegar este menino no colo e falar que está tudo bem, porque parece que é exatamente isso que falta.

Um beijo, uma porrada, um abraço. Coisas inéditas na vida de Palito - o garoto que está entrando na adolescência e tendo descobertas, experimentando coisas novas, sensações que o deixam constrangido, mas são inevitáveis. Tudo parece tão confuso, mas ele não tem com quem conversar sobre isso. Quem vai responder tantas perguntas? Há uma devoção entre os irmãos que é reconfortante. Bosten tem mais que aquele cuidado de irmão mais velho - ele suporta coisas que Palito nem imaginava -, ao mesmo tempo em que conta com o apoio do irmão - seja para se divertir ou guardar segredos.   

"E a minha janelinha, 
e o nosso jeito secreto de fugir,
e tudo o que Bosten e eu tivemos na vida foi um ao outro."

O livro é rodeado de símbolos - seja no acúmulo de habilidades do protagonista (tem que ler para entender do que ele é capaz) ou quando, algumas vezes, as falas são espaçadas                                                 assim e o texto é alinhado à direita. É o mundo pelos olhos e ouvido direito de Palito.

Como eu já esperava, a resenha não saiu como eu gostaria, mas não é assim que ficamos com livros que gostamos muito? Queremos falar tudo, mas não queremos estragar a história. Há tanto para se dizer, mas não dá pra colocar em palavras, entende? Este é o tipo de livro para ler uma vez e pensar sempre. Não por alguma possível lição que este possa passar, mas porque ficamos íntimos dos personagens - são como conhecidos nossos, alguém de quem ouvimos uma história e queremos encontrar novamente, nem que seja para saber se está tudo bem. Ou, no caso do Palito, se ele ainda usa a camisa da Sex Wax.

"E nada do que aconteceu conosco fazia sentido se eu não deixasse os verdadeiros monstros que nadavam em minha cabeça aflorarem e mostrarem seus dentes. E não há amor na minha casa, somente regras."
Comentários
4 Comentários

4 comentários:

  1. A resenha foi ótima, Ciele me instigou a ler
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Ceile, parabéns por me matar de ansiedade. Estou louco por esse livro desde quando soube que a Gute comprou os direitos, e agora sua resenha me mostrou que tenho que estar bem preparado para ler!

    Robs - http://www.perdidoempalavras.com/

    ResponderExcluir
  3. "Não conseguia ouvir nada que eu mesmo fazia, mas me perguntava o quanto eu deixava o mundo deles barulhento" Preciso ler :(

    ResponderExcluir

Deixe sua opinão ;)

Comentários ofensivos serão excluídos.
Caso tenha um blog, deixe o link no final do comentário.