Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1


Oi pessoal! Hoje vou falar um pouco sobre A Esperança - Parte 1 e do que eu senti quando assisti ao filme e um pouco sobre a série em si e a minha história com ela. (Isso acabou virando uma verdadeira análise!) Obviamente, se você não leu os livros, vai ter spoilers. Se você não assistiu ao filme vai ter spoilers do filme, mas ainda assim, eu garanto que vale a pena ler!


Quando os livros de Jogos Vorazes saíram, não senti vontade de ler. Esperei até o livro, literalmente, cair no meu colo, para ler (isso só aconteceu no aniversário do meu irmão, quando ele ganhou de presente e depois de ler super rápido, jogou em mim e me mandou ler.) Acabei achando a história legal, vi em Jogos Vorazes um ideal de mudança, envolvimento político e uma ideia gigantesca de controle do governo e coisas que outras séries que andavam saindo não abordavam. Suzanne Collins escreveu a série como uma crítica gigantesca aos EUA e senti isso muito forte, foi bem legal. Li a série toda em muito pouco tempo.



A adaptação do primeiro livro já havia saído naquela época e eu assisti ao filme no cinema. Fiquei bem feliz, pouca coisa havia sido mudada, apostei todas as minhas fichas e fiquei maluco pelo segundo, Em Chamas. Não fui nem por um segundo decepcionado na adaptação cinematográfica do segundo livro, achei inclusive uma produção digna de um Oscar. É sensacional como não existem palavras pra adjetivar de forma clara o segundo filme. Mas é justamente na sequência que entra o problema: A Esperança. De longe o livro mais parado da série. De longe o que tinha mais reviravoltas políticas e o livro que mais envolve um confronto físico, mas ligado mais à ideia de Katniss como Tordo e o embate gigantesco entre o Distrito 13 e a Capital com comerciais de TV, hackeamento dos sistemas de comunicação e tentativas de invasão que não seriam facilmente mostrados em um filme. Fiquei com o pé atrás desde então. Quando vi que a divulgação estava mega parada, senti que algo errado estava acontecendo, mas sinceramente não sabia bem o quê. Mais perto do lançamento do filme, um trailer com algumas imagens e uns mini-trailers para TV super bem feitos, mas ainda assim era exatamente o que eu estava esperando: o filme seria bem parado. Natural, é claro, e eu não estava tão empolgado com o filme justamente por saber de tudo isso que iria acontecer, mas ainda assim também vi um marketing bastante preguiçoso nas ações da Paris Filmes. Pensamentos desses à parte, vamos ao que realmente interessa: o filme.

Fui assistir ao filme na quinta-feira depois do lançamento pelo simples motivo de querer o pôster que estava sendo dado na pré-venda, já que sou muito fã dos livros (se não fosse pelo pôster iria me demorar mais para ver, já que detesto gente gritando nas salas de cinema quando vou assistir ao filme e prefiro, então, deixar a afobação da galera mais nova passar). Não consegui o pôster porque já estavam esgotados no cinema em que fui assistir ao filme (sério, a quantidade de salas lotadas para esse filme chega a ser absurda), mas acabei comprando o ingresso assim mesmo porque eu já estava lá. "É Jogos Vorazes, afinal!", pensei comigo mesmo. "Não pode estar assim tão ruim." Realmente não está!


O filme é muito bom na questão visual e nos aspectos do cinema que eu, sinceramente, não sou o melhor para analisar. Não sei falar sobre atuação, direção ou sei lá mais o quê, mas eu senti que o filme é espetacular nesse sentido e que as cenas épicas tem uma trilha sonora genial, as cenas de ação e as cenas paradas são intercaladas e aquela ideia de ápices de ação e uma quebra de ritmo grande dos livros está ali. O filme é todo constituído de cenas de ação e de repente uma interrupção brusca, assim como os livros. E o mais engraçado foi que isso nem me incomodou como eu disse ali em cima que talvez me incomodasse. Meu Deus, deem mais um Oscar para a JenLaw, sério!

O que mais me incomodou, entretanto, foi outra coisa, uma coisa mais profunda, ligada à ideologia da série e que sinceramente não entendi ainda: que tipo de Distrito 13 o filme está tentando retratar?

Eu não sei, pode ser muita paranoia minha depois de ter voltado do cinema, principalmente pelo tema do filme, mas senti uma espécie de censura ao Distrito 13 que vemos nos livros retratados no filme. Durante o filme comecei a perceber que algo estava errado e, na cena que para mim demonstra de forma fatal a falha magna (ou proposital) de representação desse local tão ruim quanto a Capital nos livros, percebi. O Distrito 13 é outro. Não é o Distrito 13 que nós lemos, não é o local que Collins tenta de todas as formas possíveis retratar. É um Distrito 13 diferente e bonito, idealizado, sentimos quase que uma familiaridade e um aconchego nas cenas que, na verdade, deveriam demonstrar um ambiente hostil e desagradável.

1 - Effie Trinket e a cena fatal.
A cena que me fez perceber de forma clara que algo na ideologia do Distrito 13 do filme mudara demais se dá quando, no momento em que Katniss aceita ser o Tordo da rebelião, eles "esquecem" os maquiadores e a equipe de preparação - torturada pelo Distrito 13 - do filme e colocam apenas uma Effie reclusa em condições de vida comuns no Distrito 13, reclamando porque não tem todo o luxo de seus dias na Capital. Effie, uma das pessoas que "assessora" Katniss no filme, é mostrada apenas em uma sala, com as portas abertas (como o Plutarch insistiu em dizer), como se ela estivesse fazendo um grande drama sobre não poder usar perucas e roupas que ela queria e como se isso fosse a pior coisa do mundo naquele momento e não as pessoas morrendo no conflito com a Capital. Mas todos nós que lemos o livro sabemos como a equipe de preparação toda da Katniss foi tratada quando chegou ao Distrito 13:
- Cina solicitou isso? - rosno para ele. Porque se existe algo que eu sei é que Cinna jamais teria aprovado o uso de violência nessas três pessoas, que ele administrava com gentileza e paciência. - Por que eles estão sendo tratados como criminosos?
[...]
Não consigo fazer com que Octavia descubra o rosto, mas ela o levanta ligeiramente. Os grilhões em seus pulsos movem-se alguns centímetros, revelando feridas em carne viva.
[...]
O pessoal da equipe foi forçado a ficar numa posição tão contraída, e por tanto tempo, que mesmo quando os grilhões são retirados, eles têm dificuldade para caminhar.[...] As manchas de miséria humana que devem ter sido retiradas com uma mangueira desses ladrilhos.
(A Esperança - páginas 58/59)

É claro que nada é falado sobre Effie no livro, mas quem dá à Katniss os trajes do Tordo é Effie no filme, o que deveria ter sido feito por Plutarch logo antes de levá-la à quem realmente a veste e a faz parecer "bonita" para os comerciais em A Esperança: sua equipe de preparação. Esse ocultamento da tortura e as condições de vidas muito boas de Effie no Distrito 13, querendo retratá-la apenas como uma mimada ingrata e fútil da Capital me fez ter quase que uma repulsa pela troca explícita de situações. Algo que deveria ter acontecido não aconteceu e o contrário total acabou aparecendo. Se apenas tivessem cortado isso do filme seria uma coisa, mas o fato de eles terem apagado e feito com que o Distrito 13 não tivesse torturado pessoas da Capital apenas por serem pessoas da Capital muda muito o sentido da história.

2 - Presidenta Alma Coin e a amabilidade materna.
Seguindo em frente, outra situação colocada em cheque é a da Presidente Coin. Julianne Moore está incrível no papel e é uma atriz espetacular, sem dúvidas. Mas novamente, vemos um problema: a presidenta não convence como malvada. Parece que, na tentativa de deixar o Distrito 13 um lugar bom, mágico e acolhedor, faltou uma líder má, gananciosa e com sede de poder como ela é retratada no livro. É isso que faz com que a gente tenha na presidenta uma referência gigantesca de mãe, como se ela estivesse ninando a Katniss e afastando ela de todos os problemas. Não é assim que o livro retrata a presidente Coin e, não sei se isso foi um problema da atriz ou se foi do roteiro ou se existe algo maior por trás de toda a história, mas ela está caracterizada de forma totalmente contrária à que deveria ter sido.


Quando a presidenta faz o comunicado para todos dizendo que Katniss havia aceitado ser o Tordo com algumas condições e declara que se Katniss não cumprisse seu papel, ela não cumpriria o dela na frente de todo mundo (que nos livros é uma cena infinitamente mais desagradável do que no filme), Katniss diz, no livro:
Mais uma força a ser enfrentada. Mais um jogador poderoso que decidiu me usar como uma peça em seus jogos, embora as coisas jamais pareçam seguir de acordo com o plano. [...] E agora Coin, com seu pulso forte recheado de ogivas nucleares e seu distrito-máquina muito bem azeitado, descobrindo que é ainda mais difícil cuidar de um Tordo do que capturar um. [,..] Ela foi a primeira a me caracterizar publicamente como uma ameaça.
(A Esperança - página 70)
Além dessa passagem específica, inúmeros outros momentos marcam a insatisfação e os choques da Katniss com a Presidente Coin, que deveria ser muito mais autoritária e radical do que a Alma gentil, acolhedora e materna do filme. (Nem preciso falar sobre aquela cena logo depois que o Distrito 13 perde a comunicação com os 4 agentes que estão indo resgatar Peeta e os outros vitoriosos da Capital (inclusive Gale está nela) e a presidente chega fazendo a linha da amiga pra Katniss e diz pra ela ser forte e etc. Qual é, aquela é a Presidenta Coin ou é a mãe da Katniss?)

3 - O Distrito 13, enfim.
Não estou querendo ir muito longe na procura das passagens que comprovem que algo muito errado aconteceu com o filme, por isso estou me atendo às passagens logo do início do livro, na parte que pra mim o Distrito 13 deveria ter sido caracterizado e não foi. Para mostrar meu ponto, portanto, basta apenas passarmos direto para a página 92 de A Esperança, logo antes de ela embarcar para ir até o hospital improvisado.


Falando sobre Boggs:
Ele falou duas vezes de um jeito que me faz pensar que ele prefere que sejamos amigos em vez de inimigos. Talvez eu devesse lhe dar uma chance. Mas ele parece entrosado demais com Coin...
[...]
O Hangar. Os calabouços. Defesa Especial. Algum lugar onde a comida é produzida. A energia gerada. A água e o ar purificados.
- O 13 é ainda maior do que eu imaginava.
[...]
Sinto novamente aquela pontinha de ódio do 13.
(A Esperança - Página 92)
É bem impossível que Katniss, dada toda a situação vivida, pudesse gostar de todo o controle exercido pelo distrito 13 na vida de seus cidadãos. Não está presente no filme, mas as tatuagens de controle com toda a programação do dia dos habitantes é uma falta gigantesca para a adaptação que apenas demonstraria a sociedade toda hierarquizada e muito bem controlada e reprimida vivida no 13.

Essa ideia presente no discurso de Katniss do excerto de que o Distrito 13 poderia ter ajudado a todos muito antes por conta de seu armamento e de suas instalações super tecnológicas está presente no filme em 1 cena, que é exatamente essa citada acima do livro, mas de uma forma tão rápida e irrelevante que quase nem chama a atenção. No livro, o descontentamento em muitos sentidos de Katniss com o Distrito 13 é largamente marcado.

4 - Portanto.
Por fim, é bem claro o que acontece nesse filme: não sei bem o motivo, mas estão querendo que a gente goste do Distrito 13. Ainda não entendi como é que vai ser colocada para o público a cena em que o Presidente Snow vai ser executado pela Katniss e ela mira a flecha na direção da Coin e dispara. Como isso vai acontecer? Quais vão ser os motivos plausíveis (além de, claro, a morte da Prim como culpa do 13) para fazer com que Katniss tenha um ódio tremendo do Distrito 13 no fim dos filmes? Ainda não entendi. Estou bastante curioso mas, ao mesmo tempo, com um receio gigantesco de que tudo dê errado e o filme fique absurdamente raso e leviano. Como Coin vai passar de mãe boazinha à madrasta malvada em um filme? E, a pergunta que não quer calar: QUAL A RAZÃO PARA ISSO ESTAR ACONTECENDO? Tenho umas teorias conspiratórias, mas não acho que elas sejam válidas.


A conclusão a qual eu chego é que o filme é maravilhoso, mas mal apresentado. Talvez um cuidado um pouco maior do roteiro e da montagem do filme em si (isso é, as cenas que são retratadas, em que ordem e o que acontece nelas) seja o maior problema. Anyway, o filme vale a pena! Corre ver.

(O post todo foi coroado de gifs do filme só pra aumentar a sua empolgação!)
Comentários
9 Comentários

9 comentários:

  1. oi Ceile, tenho os dois primeiros livros da trilogia, mas não me animo a ler e também não assisti os filmes, pouco posso opinar a respeito, entretanto conhecendo mais a fundo a trama muito me impressionei!
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  2. Assisti esse filme logo no dia seguinte à estréia e amei demais!! Mas ainda não li os livros, então não sabia desse lado frio e hostil do distrito 13... Achei mesmo algo estranho, pois como um distrito completamente baseado em militares, com todas as suas regras, em que não pode nem mesmo ter um gato, poderia ser tão amável com as pessoas que vieram da capital e aceitar tudo que a Katniss impôs para se tornar o tordo... De qualquer forma, achei o filme muito bom, e sem duvida nenhuma estou morta de curiosidade pra assistir o próximo... Quanto aos livros, tô planejando ler os 3 de uma só vez, e provavelmente nessas férias...
    Kisses =*

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  3. Eu realmente não havia pensado nisso... Achei muito legal que o filme conseguiu retratar a situação de rebeldia dos distritos, mas agora fico pensando que eles não demonstraram a situação dentro do próprio distrito... mas respondendo ao seu questionamento a respeito de como eles explicarão o disparo da flecha da Katniss na Coin, acho que eles demonstraram um pouco da raiva dela porque em determinado ponto do filme a Katniss questiona o excesso de bombas que eles guardam no D13, falando que eles se esconderam enquanto poderiam estar ajudando, então acho que eles apontarão a Katniss contra o distrito 13 por achar que eles são meio egoístas ou sei la... talvez eles foquem mais os problemas deste distrito no próximo filme...

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  4. Fiquei pensando que a ideia era fazer do filme algo mais do que o livro. Achei a primeira parte do livro meio eletrizante, mas lá pro meio e também o fim foi morgando e perdendo toda a graça. Isso quando li, três anos atrás...Mas aí vendo o filme fiquei com essa sensação: eles fazem agora a parte chatinha , mostram que tem algo errado mas sem mostrar o quê...e arrasam com o fim! Porque, vai, toda essa coisa de morninho deixa uma brecha pra explosão no ultimo filme. Todas as revelações, a Katniss descobrindo o jogo da presidente, os podres da "nova Capital" onde ela vive agora e etc. Fiquei achando que essa era ideia...Agora, se for daqui à um ano e não ver nada disso, vou ficar decepcionada pra caramba. Porque não passaram a chatice que foi esse ultimo livro no filme, ahhh não! Eu quando li achei bem broxante, pensei que ia ser de dar um infarto e foi tudo muito político e parado pro meu gosto, pelo ritmo que foi a história nos livros anteriores. Agora, o filme? Demais! Só nos resta esperar uma explicação mais ou menos por aí no próximo e último filme: que nos enganaram com calmaria para revelar todos os podres no fim e deixar aquela sensação de MAS QUE P#$%! oO
    =D.

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  5. Agora so falta eu assisti o ultimo filme para começar a ler os livros...
    #ansioso
    http://mergulhado-em-historias.blogspot.com/

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  6. Eu assisti o filme segunda-feira e gostei muito.
    Confesso que não tinha parado para refletir sobre as questões que você abordou no post, até porque li o livro a mais de 2 anos atrás e não tenho ele muito vivo na memória.
    Realmente o Distrito 13 deveria foi retratado de forma bem diferente do livro mesmo e assim como você não sei como eles vão tratar alguns acontecimentos importantes do livro na parte 2.
    De qualquer forma acredito e aposto que eles farão um bom trabalho.

    bjs
    Tais
    http://www.leitorafashion.com.br

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  7. Segundo as notícias, o final do filme será diferente do do livro, e talvez seja por isso que já foram fazendo estas alterações. Mas eu tmb não gostei, e estou para ver o que vão fazer...
    www.fofocas-literarias.blogspot.pt

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  8. Eu gostei muuuito do filme!!! Mas também estranhei a presidente Coin ser tão amável... e agora que eu li o seu texto estou refletindo melhor que o filme não mostrou que o 13 é todo cheio de regras, que a katiniss não tem nenhuma regalia e que as pessoas lá são bem hostis. se mudarem o final vai mudar muito. Mas por um lado talvez eu não ache ruim... achei o final do livro bem ruinzinho... se mudarem para melhor vai salvar a série.

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