O amor nos tempos do ouro - Marina Carvalho


"Sabes que nunca me apaixonei, maman, mas se porventura o tivesse feito, seria por alguém como ele?"
Cécile Lavigne perdeu todos os que amava e agora está sozinha no mundo. Ela, uma franco-portuguesa que ainda não completou vinte anos, está sendo trazida ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com o mais poderoso dono de terras de Minas Gerais, homem por quem Cécile sente profundo desprezo. Após desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile ainda precisará fazer mais uma difícil viagem. O trajeto até Minas Gerais lhe reserva provações e surpresas que ela jamais imaginaria. O explorador Fernão, contratado por seu futuro marido para guiá-la na jornada, despertará nela sentimentos contraditórios de repulsa e de desejo. Antes de enfim consolidar o temido casamento, Cécile descobrirá todos os encantos e perigos que existem nessa nova terra, assim como os que habitam o coração de todos nós. Com o passar dos dias, crescerá dentro dela a coragem para confrontar todas as imposições da sociedade e também o seu próprio destino. Sinopse retirada do Skoob.

Marina Carvalho já é um nome conhecido na blogosfera desde o lançamento de Simplesmente Ana pela Novo Conceito. O livro fez sucesso por todo o conjunto: capa linda, ações de marketing, enredo chamativo e uma escrita fluída fácil de acompanhar. Foi o primeiro livro da Marina que li e, no geral, achei o livro bom, pendendo para o regular. Deixe-me explicar: à primeira vista, numa leitura despretensiosa, a história era ok, mas parando para pensar no assunto, eram inúmeras as falhas e pontos a melhorar. Em seguida, veio Azul da cor do mar, que ainda não li; depois De repente Ana, o que conseguiu ser regular e, logo após, Elena, livro que acabei abandonando (temporariamente) por volta da página 100. Entre essas leituras teve também Ela é uma fera. Marina Carvalho era um nome riscado da minha lista de autores para acompanhar. Até chegar O amor nos tempos do ouro em casa. Bastou ler a primeira página para entrar numa leitura frenética ao mesmo tempo em que dosada, para saborear por mais tempo e ler com mais atenção aquela história deslumbrante. Surpresa e encantamento definem esta leitura.


Quando falo que o livro é ótimo, não é só em comparação às demais obras da autora. Ele se destaca entre elas, sim, mas se destaca dentre todas as minhas últimas leituras. Além de ter ganhado meu coração, a obra é de qualidade inquestionável - é visível o cuidado da autora em retratar com fidelidade e certa licença poética o clima e meio sociais da época. Acredito que a experiência da autora como professora a tenha ajudado muito na hora de inserir informações históricas de forma didática e totalmente incorporada na trama. Além disso, a construção do romance também chama bastante a atenção, me deixando até dividida na hora de escolher meu ponto favorito. Foi uma mistura muito harmoniosa: o enredo é interessante, o desenvolvimento é absolutamente fascinante, a ambientação verossímil e rica. Sem dúvidas, o livro virou favorito.

Cécile é uma protagonista forte e determinada, de uma sensibilidade ímpar e um senso de humanidade raro na época - a forma como ela enxerga os escravos vai totalmente contra o que muitos  (infelizmente) praticavam e pregavam. É doloroso ler certas partes onde são descritas as atrocidades que eles sofriam, assim como a submissão imposta às mulheres (e aí você vê o quanto o feminismo foi e é importante: de onde saímos, onde estamos, para onde temos que ir). Fernão não é bem um mocinho, mas é um personagem representado de forma bem humana: com defeitos e qualidades, com passado e um jeito que conquista. Uma personagem me chamou atenção e, no finalzinho da história, vi que tinha uma nova história em potencial ali - e está confirmado! Mal posso esperar, sério. 

A narrativa é, na maior parte do tempo, em terceira pessoa, mas, eventualmente, surgem páginas do diário da Cécile e cartas de Fernão. No início de cada capítulo, há trechos de outras obras históricas., o que me rendeu algumas marcações a mais. Minha única crítica ao livro, é sobre as notas. Alguns termos usados precisam de certas explicações, mas elas são numeradas e listadas ao final da obra. É cansativo parar a leitura para ver o significado lá no final e então depois voltar. Notas no rodapé funcionariam melhor (confesso que, se eu não estivesse tão envolvida, passaria direto por estas observações, perdendo "parte" da leitura, mas li cada nota, então imaginem).

Ler O amor nos tempos do ouro foi como fazer uma viagem no tempo, quase ter uma aula de história em campo, ser arrebatada por um romance apaixonante e ainda ser surpreendida com a elegante escrita da autora.

Vivian contra o apocalipse - Katie Coyle

"Vivian Apple tem 17 anos e mal pode esperar pelo fatídico “Arrebatamento” — ou melhor, mal pode esperar para que ele não aconteça. Seus devotos pais foram escravizados pela Igreja faz tempo demais, e ela está ansiosa para que voltem ao normal. O problema é que, quando Vivian chega em casa no dia seguinte ao suposto Arrebatamento, seus pais sumiram e tudo o que restou foram dois buracos no teto…
Vivian está determinada a seguir vivendo normalmente, mas quando começa a suspeitar que seus pais ainda podem estar vivos, ela percebe que precisa descobrir a verdade. Junto com Harp, sua melhor amiga, Peter, um garoto misterioso que tem os olhos mais azuis do mundo e informações sobre o verdadeiro paradeiros dos seguidores da Igreja (ou é o que ele diz), e Edie, uma Crente que foi “deixada para trás”, os quatro embarcam em uma road trip pelos Estados Unidos. Mas, depois de atravessar quilômetros de eventos climáticos bizarros, gangues de Crentes vingativos e um estranho grupo de adolescentes auto-intitulados os “Novos Órfãos”, Viv logo vai perceber que o Arrebatamento foi só o começo." Sinopse retirada do Skoob

Quem me acompanha no snap (ceilem) ou no twitter (@EsteJaLi), me viu falando bastante deste livro. Eu não sabia muito bem o que esperar, mas o que encontrei me pegou totalmente desprevenida e acabei adorando! Pelo que andei lendo, livros sobre arrebatamento não são tão novidades assim, mas esta foi minha primeira leitura com o tema e adorei o enredo.

Vivian contra o apocalipse é narrado em primeira pessoa e, diferente do que acontece em muitos YAs, é possível terminar o livro sem estar de saco cheio da mocinha. Vivian muda muito durante a história e realmente vira sua própria heroína, como ela mesma pediu ao Universo. Apesar de um maketing focado na protagonista badass, já vi melhores (ou piores?), mas ela não deixa a desejar - é bem coerente com a história, se fosse um pouco mais, seria forçado. Eu achei que Harp iria se sobressair na trama, porque ela era a garota do f*da-se, mas a história era mesmo da Vivian, então sua melhor amiga é uma parceira e tanto e ambas se completam, porém em nenhum momento divide o protagonismo. Já Peter é um mocinho fofinho, mas tenho certo receio de confiar nele, então vamos dizer que ele ainda é um mistério.

Durante toda a leitura, fiquei imaginando como todo este enredo pré-apocalíptico está perto da nossa realidade, como o fanatismo pode transformar qualquer coisa de forma radical demais - começando como um textão no facebook e logo virando discurso para uma multidão. As pessoas têm a necessidade de acreditar em alguma coisa e em tempos de crise, isso se torna ainda mais gritante. Aí junta a intolerância, desgoverno e ignorância e puft!, temos o cenário perfeito para surtos e cultos coletivos.

Gostei de como a autora deixou claro que tudo aquilo contido no Livro de Frick é uma visão distorcida e manipulada de uma crença humana, não tratando aquilo como verdade celestial, por assim dizer. Além disso, sua narrativa é bem fluída e instigante, dá sempre vontade de ler mais um pouco e não cansa. O final foi totalmente imprevisível, mas isso não quer dizer que foi um tapa na cara, eu só não esperava mesmo. Aliás, este livro tem muitas coisas imprevisíveis. 

Vale lembrar que o livro é Young Adult, então ele não tem aquela profundidade cabida para os temas abordados, mas com certeza é na medida para os jovens leitores e vai trazer reflexões. Sério, fico imaginando um professor de história discutindo com seus alunos do primeiro ano durante a aula... Então, digamos que o livro não é excelente, mas abre muitas possibilidades para discussões e para relacionar com nossa atual situação onde Bolsonaro é chamado de mito e Malafaia/Feliciano são ovacionados. Vivian contra o apocalipse é uma duologia e Vivian contra a América já foi lançado aqui (e é minha atual leitura).