Mini-opiniões: Diário de um ladrão de oxigênio - Anônimo

Sabe aquela história de "a curiosidade matou o gato"? Pois bem, aqui ele foi lentamente torturado antes do inevitável e triste desfecho. A capa não diz nada, o título menos ainda e o nome do autor não é revelado. Curioso, né? Bastante intrigada, achei que devoraria este pequeno livro sem orelhas e, em menos de um dia, terminaria a leitura que seria de tirar o fôlego. Só que  tudo ao contrário.

O livro deveria contar sobre um homem paranoico que abusa emocionalmente das suas parceiras, além de outras coisas um tanto desprezíveis. Mas a verdade é que temos um cara frustrado e amargo que fica divagando sobre sua carreira e fatos bem desinteressantes da sua vida. E os relacionamentos? Bem, temos uns dois ou três fins basicamente pincelados no início do livro e o resto é basicamente ele sozinho numa espécie rehab de mulheres e álcool, mas que não tem efeito nem importância, pra falar a verdade. Ele se perde contando os fatos, abre muitos "parênteses" ao narrar e as coisas acabam perdidas, sem propósito. Ah, tem aquela parte que ele recebe o troco... sério, mesmo com a leitura arrastada e decepcionada com tudo, eu ainda esperava um final mais emocionante. No fim, me vi frustrada como o autor e se ele queria abusar da minha paciência com esse livro, conseguiu.

Pra mim, uma leitura vazia que se estendeu por dias e não consegui tirar algo bom.

Destinos entrelaçados - Sheila Guedes

"Clara Andrade acredita sempre no melhor que cada um
pode dar. Para se afastar dos problemas de casa, vai passar
suas férias na casa de praia dos seus pais. . Numa manhã de
mar agitado, salva o misterioso Théo do afogamento.
Théo Diniz foi criado apenas por sua mãe. Após sua morte
ele decide resgatar sua história e acertar as contas com o
seu passado.
O encontro inesperado entre os dois os lança em um emaranhado
de emoções e a paixão é instantânea. Théo busca
vingança, Clara busca paz e um segredo do passado pode
acabar com as chances desse amor.
Será que o amor é capaz de fazê-los superar toda a dor?" Sinopse retirada do Skoob.

Quem me acompanha há bastante tempo, sabe da minha preferência por romances açucarados, daqueles bem perfeitos e cheios de declarações - pois bem, eu já não gosto mais tanto assim. E tirando alguns detalhes que logo explicarei, é só por esse motivo (gosto pessoal atual de leitura) que Destinos Entrelaçados não me fez ficar louca de amor (e não me desidratou de chorar).

Clara é uma personagem fácil de gostar, ela é simples apesar da vida de luxo, é bem na dela e "confortável dentro de si". Não é impulsiva nem uma rebelde sem causa. Está vivendo um momento tenso dentro de casa e por isso resolve se afastar, já que o problema não a envolve diretamente. Do outro lado está Théo, um cara bem bacana e levemente conquistador, que tem lá seus problemas e segredos e encontra na enseada, assim como Clara, um refúgio. Mas ambos sabem que precisarão encarar a realidade, só não esperavam ter os caminhos cruzados e um envolvimento entre eles pudesse interferir na "vida real" a ponto de separá-los de forma tão drástica.

Como todo o início do livro - e início do envolvimento do casal - é contado pela Clara, temos uma visão idealizada de Théo, afinal, ela está encantada por ele. Assim, acreditamos que está tudo bem e talvez lá na frente algo dará errado, mas ambos partiram do mesmo ponto. Aí quando chega o capítulo narrado pelo mocinho, o segredo é revelado ao leitor (ponto positivo), mas o romance já está num estágio bem avançado, Théo já está envolvido e nós perdemos sua intenção inicial. É difícil acreditar que um cara tem segredos obscuros e está escondendo propositalmente da mocinha quando ela já nos convenceu que ele foi um fofo no começo e quando chega na parte dele, ele já está transformado, entende? Aí o que sustenta a história é só o que ele esconde dela e o leitor não tem a chance de acompanhar uma rendição do personagem. 

"Sentir saudade é um saco. Mas não é a saudade que está me incomodando, o que tem me atormentado é a dúvida"

Preciso deixar claro: o segredo é realmente forte para segurar a trama, além de não ser banal nem incoerente. Muito bem delineado, com motivo, circunstância e consequência.

O que atrapalhou mesmo minha leitura foi o romance instantâneo. Eu nunca tive problema com isso, porque me apegava fácil (pois é), mas - nesse momento - eu precisava de mais para ser convencida. Eu cheguei a dar uma pausa na leitura de um mês e foi como se esse tempo tivesse passado na história também e consegui aceitar melhor toda aquela paixão arrebatadora e cheia de juras. O meu problema foi só no primeiro terço do livro onde esse romance começa, porque depois os conflitos começam e eu quero sangue! Muito provavelmente eu choraria muito nessa parte.

Os personagens secundários são bem interessantes e a autora dá dicas das histórias pessoais deles e eu preciso saber sobre Ian e Maysa! Com certeza esta introdução aos dois na história já me vendeu muito bem o romance turbulento deles e tem tudo para me ganhar, já que tem um tempo maior de envolvimento, mostrou mais intensidade e Maysa é desbocada e se mostrou bad ass, o tipo de protagonista que venho preferindo.

Não posso deixar de comentar dos inícios dos capítulos que têm quotes lindos que vão de William Shakespeare, passando por Carlos Drummond de Andrade até Tati Bernardi. Maravilhoso, apenas.


A escrita da autora é muto fluída e envolvente, tanto que depois da pausa, li todo o restante do livro no domingo de manhã entre os afazeres domésticos rsrs. Não tem monotonia, os momentos são bem distribuídos e a ambientação é bem visual. Algumas descrições são muito detalhadas e não tão necessárias, mas nada que atrapalhou a leitura. O que me cansou foi a protagonista sempre lendo o olhar do Théo. Ela sempre estava vendo dúvida, dor, angústia etc etc etc no olhar dele, até quando eles nem se conheciam direito. So calm down, sweet.

O romance é bonito, fofo e shippável. Tem tudo que um bom livro do gênero romântico deve ter e indico para quem gosta de leituras que façam suspirar, chorar e suspirar de novo.

Mini-opiniões: Sway - Kat Spears



"Sway é o apelido de Jesse Alderman, por causa de seu talento para conseguir qualquer coisa para qualquer pessoa, como providenciar trabalhos escolares, fazer com que pessoas sejam expulsas da escola, arrumar cerveja para as festas, entre outras coisas, legais ou ilegais... É sabendo dessa fama que Ken Foster, o capitão do time de futebol da escola, pede a ele um trabalho controverso: Ken quer que Bridget Smalley saia com ele. Com seu humor ácido e seu jeito politicamente incorreto de ver a vida, Sway terá que encarar o trabalho mais difícil que já teve: sufocar todos os sentimentos que Bridget desperta nele, a única menina verdadeiramente boa que ele conheceu em toda a sua vida." Sinopse retirada do Skoob.

Sway nas mãos de Colleen Hoover viraria um mar de desgraças, nas mãos de Simone Elkeles viraria um drama de redenção, mas com Kat Spears virou um retrato fiel de um cara ainda no ensino médio, revelando seus pensamentos e rotina, sem a preocupação de ser politicamente correto em seus comentários, sem também incomodar com isso. Sway erra, você acha que ele vai se abrir, voltar atrás nas palavras, de alguma forma reverter uma situação, mas lá esta ele as reafirmando. Jesse - esse é o nome dele - tem um jeito tão natural de ser que não consigo rotulá-lo de badboy ou qualquer outra coisa (ok, talvez ele seja o típico badass), ele é simplesmente daquele jeito e vive a vida fazendo suas coisas (que não aprovo). Tem suas mágoas, suas limitações e sua defesa para não encarar conversas que se voltem para seus sentimentos. Mas nada muito pronunciado e destacado, nada dramatizado. Bridget é uma mocinha certinha, orgulho dos pais, muito responsável, faz trabalho voluntário com crianças especiais, mas não é inocente como as personagens assim costumam ser. Ela também tem um humor ácido, tem uma visão muito clara das coisas e isso me ajudou a gostar dela. Seu irmão é quase mais importante que ela na história e, sério, ele me cativou muito.

Às vezes o que queremos e o que o mundo espera de nós são duas coisas diferentes.

Gostei da atmosfera real que a autora trouxe nas pequenas coisas. O cara que não maltrata a menina, mas também não demonstra afeto; a menina que não insiste, mas se mantém ali para qualquer sinal de aprovação. Não se trata de um romance milagroso, onde o cara mau se "converte" por amor, a mocinha dá uma lição nele e só depois que está tudo perfeito, o aceita. Não, é algo mais real. O cara tem seu jeito, descobre o amor e naturalmente encaixa isso na sua vida. Por outro lado, falta algo que impulsione mais a leitura, que te faça torcer pelos personagens. A experiência de leitura foi boa: é um livro dinâmico, fluido e bom, mas nada tão extraordinário ou intenso como eu esperava pelo tema que trata. O encerramento da história deu um quentinho no coração e foi bem fofo, o que me fez olhar o livro com mais carinho, confesso. Mas, pensando em todos os lados, trata-se de um livro bom, nem extraordinário nem desprezível, sabe? Indico para quem gosta de livros mais leves, aqueles que você coloca entre leituras mais densas.  

As mil noites - E. K. Johnston

"Clássico da literatura universal, as histórias de As mil e uma noites estão no imaginário de todos — do Oriente ao Ocidente. É impossível que alguém nunca tenha ouvido falar sobre Ali Babá e seus quarenta ladrões, ou sobre Aladim e o gênio da lâmpada. Ou sobre Sherazade, a mulher sagaz e inteligente que se casou com um homem cruel, e, por mil e uma noites, driblou a morte narrando contos de amor e ódio, medo e paixão, capazes de dobrar até mesmo um rei. Em As mil noites, a história se repete, mas com algumas diferenças…
Quando Lo-Melkhiin chega àquela aldeia — após ter matado trezentas noivas —, a garota sabe que o rei desejará desposar a menina mais bela: sua irmã. Desesperada para salvar a irmã da morte certa, ela faz de tudo para ser levada para o palácio em seu lugar. A corte de Lo-Melkhiin é um local perigoso e cheio de beleza: intricadas estátuas com olhos assombrados habitam os jardins e fios da mais fina seda são usados para tecer vestidos elegantes. Mas a morte está à espreita, e ela olha para tudo como se fosse a última vez. Porém, uma estranha magia parece fluir entre a garota e o rei, e noite após noite Lo-Melkhiin vai até seu quarto para ouvir suas histórias; e dia após dia, ela continua viva.
Encontrando poder nas histórias que conta todas as noites, suas palavras parecem ganhar vida própria. Coisas pequenas, a princípio: um vestido de seu lar, uma visão de sua irmã. Logo, ela sonha com uma magia muito mais terrível, poderosa o suficiente para salvar um rei..." Sinopse retirada do Skoob.

Com a proposta de uma releitura de As mil e uma noites, As mil noites traz a história de duas irmãs que vivem nas tendas do seu pai no deserto. Com a proximidade da chegada do rei Lo-Melkhiin para escolher sua próxima noiva - ou vítima, já que suas esposas são mortas na noite de núpcias ou poucos dias depois -, a mais nova, ciente do quanto sua irmã chama atenção, pede para a mãe da irmã arrumá-la como arrumaria a própria filha, de forma que ela fosse o destaque e, assim, acabar despertando o interesse do rei e poupando sua irmã da morte. Depois de ser levada, o que mais intriga é que a nova rainha permanece viva, dia após dia, e um estranho poder começa a despertar, e sua irmã pode não ser a única a ser salva. 

Primeira coisa: esqueça o romance romântico. Isso foi a primeira surpresa pra mim, mas muito bem vinda, já que ando me distanciando deste tema. Toda a trama envolve muito mais o amor entre irmãs, o poder dos deuses menores, esperança e mistérios do deserto. Há certo miticismo envolvendo tudo, mas tal qual a protagonista, nosso conhecimento sobre o real poder disso se dá conforme tudo vai acontecendo. A protagonista está sempre contando histórias que vivenciou com sua família, histórias que ouviu pelas tendas sobre o deserto, outras que seu pai trazia quando voltava com sua caravana. A narrativa é absurdamente rica em detalhes visuais e sensitivos. Todas as descrições são vívidas e formam a atmosfera perfeita que faz toda a diferença na experiência de leitura. Há nuances, temperatura, cheiros e texturas, além de toda cultura exposta. 

Eu menti, mas vi a manhã chegar mesmo assim.

Os personagens, em sua maioria, não têm nome. A protagonista é tão "internalizada" com a sua vida que usa as próprias referências para se referir às pessoas. Então há muitos "a mãe da minha irmã", "a mãe da mãe da minha mãe", "a senhora da henna" e por aí vai. Isso, em seu uádi, mostra intimidade, enquanto no qsar mostra a impessoalidade, uma vez que não há interesse em aprofundar os relacionamentos, já que ela pode morrer a qualquer momento. Não dá para se apegar a nenhum especificamente, pois a história se concentra muito mais na protagonista - vai ter girl power no deserto sim senhor! No máximo, desenvolvi uma empatia pela mãe do rei. Além da rainha, alguns (poucos) capítulos são narrador por outra pessoa (?) e isso aumenta o clima misterioso do livro.

O que encaro como ponto negativo é a história não ter um mistério definido e claro para puxar o leitor de volta pra história depois de uma pausa. Quando se está lendo, as páginas voam e tudo é muito envolvente, mas se (conseguir) parar a leitura, não há nada que desespere para retomar. Não é permeado de acontecimentos bombásticos e decisivos, mas, por outro lado, o ritmo da história é confortável, como se a autora te envolvesse numa teia enquanto você lê - sim, a sensação é exatamente essa: que alguém está tecendo a história no leitor. O que faz muito sentido com o enredo. O final é conclusivo e interessante, pois traz o clima de uma história finalizada com lição de moral e nos relembra o poder de uma boa história. 

... mas, ao chegar à milésima primeira, o pesadelo chegou ao fim.

A leitura foi totalmente válida pra mim e indico para todos, mas sem a expectativa de romance, acontecimentos épicos e uma leitura marcante. Em junho li A fúria e a aurora, que tem a mesma proposta, e se você chegou até esse livro por causa do anterior, já deixo claro que são bem distantes. Cada um tem seus artifícios para seduzir (tanto o leitor quanto o rei), mas são distintos na abordagem e desenvolvimento do enredo. Valeu a viagem ao oriente.

Nimona - Noelle Stevenson


"Nimona é uma jovem metamorfa com certa tendência à vilania. Lorde Ballister Coração-Negro é um vilão com sede de vingança. Juntos, eles vão tentar provar para todo o reino que Sir Ouropelvis e seus companheiros da Instituição de Heroísmo & Manutenção da Ordem não são os heróis que todos pensam. Vai haver muitas explosões. E tubarões também. E de singelos planos malignos surgirá uma batalha sem precedentes. Coração-Negro vai perceber que os poderes de Nimona são tão sombrios e misteriosos quanto o passado dela. E o lado imprevisível da comparsa talvez seja mais perigoso do que ele está disposto a admitir."

me perdoe pela qualidade desta imagem e não desiste de mim bjs bjs
Eu lia muito gibi quando criança, mas depois de virar gente grande, não me aventurei mais por histórias neste formato. Eu confesso que cheguei a achar que teria dificuldade em encarar mais de 250 páginas da mesma história em quadrinhos, mas acabei surpreendida. Eu, que nunca havia lido uma graphic novel, me vi devorando Nimona em pouquíssimas horas. Que delícia e surpresa me ver presa na história desta metamorfa doida para colocar em prática suas ideias maléficas.


A história tem momentos muito engraçados (sim, engraçados de verdade, de rir fisicamente, sabe?), momentos fofos, de surpresas e também de angústia. Fiquei com uma dorzinha no coração em algumas passagens, torcendo para as coisas serem revertidas e tudo ficar bem. Nimona tem todo um girl power, deixando claro que ela é muito mais que uma menininha indefesa, que ela pode ser tanto a garotinha abandonada quanto o monstro que destrói tudo. Lorde Ballister, por sua vez, tem seus momentos fraternais, fugindo do rótulo de vilão maléfico e mostrando outro lado que as pessoas não enxergam justamente porque ele precisa ser o vilão mal que precisa ser detido pelo herói, Sir Ouropelvis - mais um personagem que surpreende pela sua dualidade. Aliás, adorei a ideia de desmitificar rótulos e mostrar todos os lados da história.


É incrível como a história é envolvente, de forma que fiquei imersa nas páginas, totalmente dentro daquele reino, como se estivesse em um filme de animação. Como eu falei, esta foi minha primeira experiência com uma graphic novel e agora já quero procurar outras, porque a experiência foi absolutamente positiva. Apesar do final conclusivo, não deixo de desejar outras histórias com toda a irreverência dos personagens determinados a desmascarar instituições, solucionar mistérios, bolar teorias e planos ultrassecretos.

Eu sou totalmente leiga para avaliar traços, cores e tudo que envolve as ilustrações, mas fica aqui meu total contentamento com a obra. Posso dizer que é tudo lindo e vívido, a edição está linda e vale cada minutinho de leitura.

Pax - Sara Pennypacker

Peter, o menino, e Pax, a raposa, são melhores amigos. Resgatado na estrada ainda bebê, Pax só conhece o mundo em que vive - a casa do menino. Peter perdeu a mãe precocemente e vive com seu pai, que não é lá dos mais afetuosos, criando no garoto uma vontade de jamais ser como ele. Menino e raposa se conhecem como ninguém, tem seus próprios códigos e uma comunicação silenciosa. São realmente inseparáveis. Até que, pela guerra iminente, Peter é obrigado pelo seu pai a abandonar Pax numa estrada bem longe da sua casa. Seu pai teria que servir na guerra, enquanto ele teria que morar com o avô que jamais aceitaria o animal em casa.  

Não suportando a dor de ficar longe de Pax e tomado pela culpa por ter traído seu companheiro, Peter decide que vai buscar sua raposa. Sozinho, com alguns objetos na mochila, Peter começa sua caminhada de dias. Ele não sabe exatamente onde seu pai parou o carro aquele dia, mas tem uma ideia e vendo o lugar, certamente reconhecerá. Pax, do outro lado, se vê sozinho num imenso mundo selvagem que ele não fazia ideia existir. Com a certeza que seu menino logo voltará lá para buscá-lo, ele tenta se manter próximo àquele local, mas precisará descobrir como sobreviver com tanta liberdade.

"- Afinal, você quer voltar oara a sua casa ou para o seu bichinho?
- Dá no mesmo. - A resposta saiu espontânea e firme, o que me surpreendeu." 

Se uma história narrada pelo inocente olhar de uma criança já é tocante, imagine adicionar o ponto de vista de um fiel animal de estimação? Este livro carrega tanto aprendizado e é contado com tanta delicadeza que foi impossível ficar indiferente à história. Pax é atemporal e indicado para todas as idades, suas lições são aplicáveis a qualquer fase da vida. Sara Pennypacker fala sobre se encontrar, se descobrir, sobre sonhos, recomeços e perdão. Fala também sobre a natureza humana e o quanto o homem pode se transformar - seja para o bem, seja para o mal.

O primeiro capítulo é de cortar o coração e cheguei a derramar algumas lágrimas, assim como na última página. O final é curto, mas entendo que a lição da história está em seu desenvolvimento, como Oz, onde a mágica está no caminho e não na chegada. O desfecho foi como pensei, apesar de, de uma forma egoísta, desejar outro, mas sei que a escolha da autora foi a mais coerente. Não dá pra falar desse livro sem citar essa edição com capa dura, rica em detalhes e com as ilustrações originais, né? Só deixou o livro ainda mais especial. 

"- E se eu me perder?
- Você não vai se perder.
- De repente eu já estou perdido."

Pax é o tipo de livro que não conseguimos definir muito bem, mas fazemos questão de ter na estante e indicar. A história dá um calorzinho no coração e nos deixa encantados, como uma fábula infantil. Desejo que você leia este livro em algum momento da sua vida, separe um tempo para aproveitar tudo que esta leitura tem a oferecer. Não consigo nem desenvolver mais a resenha, porque seria redundante - só sei dizer o quanto este livro é fofo, tocante, especial. Se você gostou de O Pequeno Príncipe, Extraordinário, Passarinha, Tormento, A Jornada pode colocar Pax à sua lista de leituras. Confie em mim.

Jogos Macabros - R. L. Stine

Vocês podem observar que tenho levado a vontade de ler "livros que dão medinho" a sério, né? Essa foi mais uma tentativa, mas que, infelizmente, não correspondeu às expectativas. 

A Família Fear é cercada de mistérios e todos em Shadyside conhecem diversas histórias envolvendo o clã. Brendan Fear parece diferente: o gênio da escola, vive jogando World Warcraft com seus amigos e também cria seus próprios jogos. Do outro lado está Rachel Martin, uma adolescente certinha que estuda de manhã e trabalha de garçonete à tarde. Ela nutre uma paixão platônica por Brendan e ele parece finalmente notá-la: inesperadamente, a convida para sua festa de aniversário no casarão de veraneio da família, que fica na isolada Ilha do Medo. Apesar dos avisos da melhor amiga e do ex-namorado, Rachel está decidida a comparecer à festa, mas nem imagina que tipo de jogo planejaram para tornar o evento inesquecível. 

A premissa do livro é bem instigante e toda a condução até a fatídica desta mantém o ritmo de mistério e expectativa. Toda a construção do ambiente é feita na primeira e segunda parte, mas aí quando a festa finalmente chega, o nível simplesmente despenca. O autor abusa dos clichês e esterótipos para conduzir seu enredo e a sensação foi de assistir aqueles filmes de terror adolescente bem besteirol. A mocinha, que é a narradora, tem atitudes muito estúpidas e é impossível não se irritar com ela. Sabe aquela personagem que faz questão de escolher a opção mais idiota e óbvia na hora do medo? O grupo está em uma ilha isolada, sem celular, pessoas a quem pedir ajuda, sem barco e com um assassino à espreita. Eles, claro, decidem não se separar. Mas no primeiro susto, lá está Rachel correndo SOZINHA para dentro da casa, entrando em um quarto que - assim como os demais cômodos - está sem luz. Se a casa é mal-assombrada, por que alguém se esconderia lá dentro?

"De repente, eu me senti uma completa idiota.Talvez tudo fosse um jogo com Brendan. Quando ele me convidou para a festa... quando me escolheu para ser sua parceira na caçada aos objetos... quando me abraçou e beijou... Tudo um jogo? Tudo uma piada para ele?"

Aí me senti subestimada pelo autor. Sei da ampla experiência dele, e sei também que ele não escrevia sobre a série há vinte anos... e nesse tempo, muita coisa mudou, o leitor mudou, certo? Mas a impressão é que o autor parou no tempo e construiu seu "novo" livro nos "velhos" moldes. É notável que ele tem técnica: os personagens são apresentados na ordem certa, os capítulos terminam de forma motivadora para o leitor continuar lendo, as descrições são bem feitas deixando tudo muito visual, as pontas são bem amarradas, entre outras coisas, mas vi muita técnica e pouca sensibilidade.

O desenrolar é muito improvável mesmo dentro daquele cenário, os personagens são rasos, então não consegui criar empatia e me sensibilizar com os acontecimentos. Além disso, o autor fica sempre contando algo e, em seguida, volta atrás. No início, isso dá um alívio, mas depois tira a emoção, porque os fatos vão perdendo a credibilidade. Isso sem contar na tentativa de romance num momento totalmente inoportuno, improvável e incoerente. Desta vez, não culpo o momento, o público-alvo nem a tradução: R. L. Stine realmente errou a mão em Jogos Macabros.

Não acompanhei a série mais famosa do autor - Goosebumps -, mas assisti ao filme com meu filho e a atmosfera é a mesma: uma tentativa de terror/suspense, mas sem o compromisso de colocar medo, ficando quase cômico. Apesar de tudo isso, se tiver oportunidade, lerei outras obras do autor, porque acredito que ele faça melhor que isso, considerando o sucesso que faz, mesmo agora, 20 anos depois (a título de curiosidade: este seria o volume 52 da série). 

P.S. Ele também é autor de É o primeiro dia de aula... sempre! e tem resenha aqui no blog. 

Mini-opiniões: O Adulto - Gillian Flynn

Uma jovem ganha a vida praticando pequenas fraudes. Seu principal talento é a capacidade de dizer às pessoas exatamente o que elas querem ouvir, e sua mais recente ocupação consiste em se passar por vidente, oferecendo o serviço de leitura de aura para donas de casa ricas e tristes.
Certo dia, ela atende Susan Burkes, que se mudou há pouco tempo para a cidade com o marido, o filho pequeno e o enteado adolescente. Experiente observadora do comportamento humano, a falsa sensitiva logo enxerga em Susan uma mulher desesperada por injetar um pouco de emoção em sua vida monótona e planeja tirar vantagem da situação.
No entanto, quando visita a impressionante mansão dos Burke, que Susan acredita ser a causa de seus problemas, e se depara com acontecimentos aterrorizantes, a jovem se convence de que há algo tenebroso à espreita. Agora, ela precisa descobrir onde o mal se esconde, e como escapar dele. Se é que há alguma chance.
Minha leitura de Lugares Escuros não rendeu como eu esperava, mas ainda quero retomá-la, era só questão de momento mesmo. Com o lançamento deste conto, aproveitei para ter outra experiência - desta vez mais rápida - com a autora Gillian Flynn. Aqui, lendo a obra completa, pude ver como esta mulher realmente tem o dom para brincar com o psicológico do leitor e nos levar a caminhos inimagináveis. Sua protagonista aqui não é uma mocinha em perigo, mas alguém genuinamente trapaceiro, com facilidade para manipular e altamente gananciosa. Pela minha pequena experiência com a autora, uma típica protagonista dela, né?

É incrível como em pouquíssimas páginas ela consegue construir um ambiente verossímil, visual e sensível. Chegou a dar certo medinho e me trouxe a sensação de quando assisti O grito. O final foi à altura - inesperado e a mulher me fez de trouxa, óbvio. Gillian, isso é um jogo comigo, garota? A maioria dos contos que leio termina de forma aberta e isso pode ser ótimo por nos dar liberdade para imaginar o futuro a partir daquele ponto, mas pode ser péssimo justamente por tal liberdade. Qual a verdade, afinal? A curiosidade corrói e terminei O adulto com enormes pontos de interrogação, surpresa pelos acontecimentos e tentando digerir melhor a história. É inegável que a autora tem o dom para mexer com o psicológico do leitor.

Gostei? Não sei, mas esse conto foi uma pequena amostra do que me aguarda nos outros livros da autora e me deu mais ânimo ainda. Simplesmente não dá pra ignorar o talento da autora. Não se espante se no futuro eu fizer parte de algum fã-clube da autora, ok? Este conto foi escrito para uma antologia organizada por George R. R. Martin (O Príncipe de Westeros e outras Histórias).

Dias Perfeitos - Raphael Montes

Ainda da série "em busca de livros que dão medinho", peguei Dias Perfeitos, livro que tenho há dois anos na minha estante, já tinha ouvido muito sobre, mas ainda teimava em deixá-lo sem ler. Num impulso, decidi lê-lo e daí foi difícil largar (veja bem, eu terminei dentro da Bienal).

Téo é um jovem introvertido, estudante de medicina e sua melhor amiga é Gertrudes, uma senhora presente nas aulas de anatomia - estar morta e ser apenas um corpo para estudo não é um problema para ele. Ele mora com a mãe em um apartamento no Rio e essas são as pessoas com quem se relaciona diariamente. Durante um churrasco onde foi acompanhar a mãe, ele conhece a extrovertida Clarice, a moça de humanas. Um pequeno diálogo e, pronto, Téo está apaixonado por ela e precisa encontrá-la novamente. Inicia-se assim, o momento stalker da vida real e diante das negativas de Clarice, ele é obrigado a sequestrá-la. Mas tudo em nome do amor. Ele é um bom cara para ela, só precisa de espaço para mostrar e a convivência é ideal para que ela o conheça e sentimento se torne recíproco. Pelo menos é assim que ele pensa.

Eu li o livro um pouco atrasada, depois de ver inúmeras pessoas impressionadas com a grandiosidade da obra, amigos meus falando que o cara é genial entre outros elogios. O que isso faz com a expectativa? Explode. E, no meu caso, me fez ler com a razão aflorada, atenta para todos os passos e escolhas do autor. Exatamente pelo senso crítico no nível máximo, terminei a leitura ponderando muitos aspectos que me deixaram em dúvida se amei ou se me decepcionei. Um desenvolvimento tão preciso e cruel me fizeram esperar um final à altura, com todas as pontas amarradas em um nó imbatível. Acontece que o final foi surpreendente e talvez isso confunda na hora de avaliar. Ok, foi imprevisível, mas foi satisfatório, foi realmente bom ou o brilho da surpresa cegou? O livro tem inúmeros pontos positivos, mas sabe quando falta o gran finale para o veredito de que o autor é realmente genial? Vou tentar expressar de forma separada, fingindo que ainda não terminei e estou absolutamente impressionada com as atrocidades de Téo.

"Lentamente, Clarice se abria para ele, gostava dele. Era natural: ela não tinha mais ninguém. Ele a alimentava, dava carinho e atenção. O mínimo que podia esperar em troca era aquele afeto sutil, que logo ganharia vigor - ele tinha certeza. No fim das contas, mesmo mulheres feministas e alternativas se rendem a um homem de verdade."

A naturalidade com que é narrado todo o desenrolar da trama é perturbadora. A obra é contada em terceira pessoa e o narrador é totalmente impessoal, sem deixar transparecer o mínimo de julgamento para as atitudes e pensamentos do protagonista, portanto cabe ao leitor formar o pensamento e perceber o quanto aquilo é doentio. A frieza de Téo me assustava e, para piorar ainda mais a situação, ele pensa estar certo, sem a consciência da própria crueldade. Controverso a tudo isso, há certos escrúpulos presentes em sua personalidade e é interessante como até isso é usado para que ele não pareça uma pessoa má como um psicopata pré-disposto a crueldades em série. Ele só fez aquilo por Clarice, mas a respeita (dentro da cabeça dele) e tudo é em prol de um bem maior. O machismo é intrínseco à sua personalidade, como um princípio, uma tradição e leves pinceladas numa cena ou outra nos mostra mais esta faceta do personagem. Tudo isso me enjoou de uma forma que não sei mensurar, mas nada, absolutamente nada me preparou para o que eu presenciaria capítulo 24, onde foi o ápice da minha repulsa e eu parei de ler, totalmente tentada a abandonar o livro. 

É muito claro: o livro é ótimo, tem técnica, afeta as emoções do leitor, mexe com os sentidos, mas os acontecimentos são péssimos, a história é pesada ao mesmo tempo que fascinante, porque é impossível parar e ficar alheio aos eventos descritos. Tudo vai se encaixando e piorando e a falta de discernimento do protagonista é aterrorizante. Não dá para pensar num desfecho suficiente - suficientemente punitivo, suficientemente vingativo, suficientemente corretivo. Mas eu esperava ao menos um final atado, que unisse todas as coisas a que somos apresentados durante a narrativa. Sem contar que ainda achei corrido. Olha só, eu até acho que o livro poderia ter aquele final, mas desde que antes, houvesse um desfecho digno para algumas coisas à altura de todo o desenvolvimento. 

Raphael Montes já entrou para minha lista de autores que vou sempre ler, quero encontrar com ele ainda em O Vilarejo e Suicidas, e indico que entre nas suas leituras também. O final deste livro é altamente discutível, é até corajoso da parte dele, mas achei uma saída fácil diante da grandiosidade de toda a trama. Uma única coisa foi incoerente pra mim e tamanha conveniência me pareceu deslize do autor (a chave das algemas, milagrosamente, ao alcance do refém torturado e a possibilidade ainda de conseguir pegá-la e abrir as algemas - foi difícil visualizar essa cena na minha cabeça, ela parecia inverossímil diante do cenário). Enfim, apenas uma observação diante do todo + a decepção com o encarramento. Há muitos detalhes que enchem a trama e a deixam possível, como a forma que se desenrola o cárcere fantasiado de road-trip, mas prefiro não comentar para não estragar para quem ainda não leu a forma como as coisas se encaixam. Assim como a personalidade de Clarice e suas reações. 

Aqueles que conseguirem encarar a leitura, com certeza ficarão impressionados com o talento inegável do autor e ficarão marcados pela história, assim como eu fiquei. Amando ou odiando, é impossível ser indiferente a Dias Perfeitos.

P.S. Aqui no blog tem outra resenha de Dias Perfeitos, escrita pela Pamela. Clique aqui para ler.

Mini-opiniões: A garota do calendário: Janeiro - Audrey Carlan


Mia Saunders precisa de dinheiro. Muito dinheiro. Ela tem um ano para pagar o agiota que está ameaçando a vida de seu pai por causa de uma dívida de jogo. Um milhão de dólares, para ser mais exato. A missão de Mia é simples: trabalhar como acompanhante de luxo na empresa de sua tia e pagar mensalmente a dívida. Um mês em uma nova cidade com um homem rico, com quem ela não precisa transar se não quiser? Dinheiro fácil. Parte do plano é manter o seu coração selado e os olhos na recompensa. Ao menos era assim que deveria ser... Em janeiro, Mia vai conhecer Wes, um roteirista de Malibu que vai deixá-la em êxtase. Com seus olhos verdes e físico de surfista, Wes promete a ela noites de sexo inesquecível — desde que ela não se apaixone por ele. Sinopse retirada do Skoob.

Eu já tinha adorado a ideia geral de A garota do calendário, mas preferi esperar um pouco as opiniões de outros blogueiros que acompanho. Em uma promoção, resolvi comprar só o primeiro e, se eu gostasse, compraria os demais livros. Adorei A garota do calendário pelos mesmos motivos que gosto de outros do gênero: escrita fluída, rápida e fácil de acompanhar, cara sedutor e apaixonante, romance de tirar o fôlego. Apesar de pequeno, o livro consegue desenvolver muito bem seus personagens e expor as situações sem parecer corrido ou muito superficial. Claro que não há aquela profundidade nos dramas pessoais, mas o nível é confortável para acompanhar a leitura e não fazer muitos questionamentos. Mia é um misto de dona de si com certa insegurança e inocência, mas não exagera para ficar provando ser uma coisa ou outra. Já Wes é apaixonante à sua maneira, apesar da resignação de não se apaixonar, ele se permite viver, como se não ficasse controlando demais os sentimentos. 

A única inovação - não necessariamente positiva - que consigo destacar é o formato: como pequenos contos mensais, mas que poderiam ser lançados como trimestres, sinceramente. Renderiam quatro livros com três meses cada e o risco de alguém abandonar no segundo ou terceiro seria menor. Esta é uma leitura para uma ou duas horas, que conta o necessário e tem o mesmo efeito de um livro do mesmo estilo de 350 páginas. Até acho que alguns eróticos poderiam ser sintetizados dessa forma. Meu único problema em acompanhar a série é conseguir encarar mais 11 caras diferentes e acompanhar o envolvimento deles com a protagonista depois de se apaixonar pelo primeiro personagem. O apego neste sentido não muda conforme o tempo, pra vocês verem. Mas vou acompanhar as promoções para completar a coleção e ver como tudo isso termina. 

Se eu indico? Sim! Se você gosta de uma leitura intensa, mas rápida e despretensiosa para curar aquela ressaca literária, pode apostar em A garota do calendário. 

A geografia de nós dois - Jennifer E. Smith

"Lucy mora no vigésimo quarto andar. Owen, no subsolo... E é a meio caminho que ambos se encontram - presos em um elevador, entre dois pisos de um prédio de luxo em Nova York. A cidade está às escuras graças a um blecaute. E entre sorvetes derretidos, caos no trânsito, estrelas e confissões, eles descobrem muitas coisas em comum. Mas logo a geografia os separa. E somos convidados a refletir... Onde mora o amor? E pode esse sentimento resistir à distância? Em A Geografia de Nós Dois, Jennifer E. Smith cria tramas cheias de experiências, filosofia e verdade." Sinopse retirada do Skoob.

Jennifer E. Smith ficou conhecida com seu romance fofinho, de nome enorme e para ler em um dia A probabilidade estatística do amor à primeira vista. Logo depois, veio Ser feliz é assim, um romance um pouco mais elaborado e extenso. Já li os dois e gostei, então quando vi A geografia de nós dois, a mão chega tremeu para comprar, mas consegui segurar um pouquinho até que eu realmente pudesse lê-lo. Aí eu acabei encontrando basicamente a mesma coisa do primeiro livro, tirando o nome enorme.

É quase impossível não fazer uma comparação com o A probabilidade..., já que eles possuem uma estrutura de enredo muito parecida - dois adolescentes de conhecem numa situação inusitada, sem os pais, ambos vêm enfrentando problemas/mudanças familiares, cada um tem um destino e uma situação a encarar, e, ao invés do tempo limitado, temos o espaço amplo demais (ou seja, trocam-se horas por quilômetros). Não conseguiria escolher o favorito dentre os dois, acho que quem gostou muito de um, vai adorar o outro, assim como aconteceu comigo, mas em menor escala. Acho os livros bons, bonitinhos, para passar o tempo, mas só.

Mas não existe começo que seja totalmente novo. Toda novidade chega no encalço de algo velho, e todo início vem à custa de um fim.

Apesar do romance iminente, a autora aborda certos dramas familiares, coisas que os personagens estão vivendo e são determinantes para seu futuro. Os pais de Lucy são muito ausentes e ela não faz uma queixa clara disso, mas gera incômodo no leitor - veja bem, eles estão em outro continente enquanto a filha de 16 anos está sozinha em Nova York. Seria um sonho adolescente? Talvez, mas não para Lucy, uma garota que gosta das coisas simples e não é de rebeldia. Ela também tem irmãos gêmeos que, apesar de serem muito importantes para ela, não estão presentes, pois foram fazer faculdade em outro estado. Ou seja, a garota está abandonada, mas finge costume, sabe? Já Owen está sofrendo duplamente: a morte da mãe e o luto do seu pai. Consigo imaginar uma imagem muito clara do Patrick, pai dele, e foi o que me deixou mais triste na história. Ele está perdido sem a mulher, mas ainda tem o filho adolescente que não deveria ser afetado pela sua falta de rumo, mas, inevitavelmente, é. 

Adorei a forma realista que Jennifer conduziu o romance, não houve uma idealização dos protagonistas, nem da situação vivida por eles. Há uma sincronia mesmo quando eles se encontram beeeeem distantes, há certos códigos cheios de significados - uma frase, um objeto. O livro é todo narrado em terceira pessoa, mas há uma alternância de foco, ora em Lucy, ora em Owen. Isso ampliou a visão do leitor, que pode conferir os rumos que cada um toma quando separados. Se você é de ficar marcando quotes, pode separar as tags que tem umas coisas bem lindinhas.  

Às vezes tinha a impressão de que sua vida inteira era um exercício de espera; não exatamente para ir embora, mas para ir, simples assim. Sentia-se um daqueles peixes que tinham o potencial de crescer de maneira inimaginável, bastava o tanque ser grande o bastante. Mas seu tanque sempre fora pequeno demais e, por mais que amasse sua casa - por mais que amasse a família -, sempre se sentira batendo a cabeça nos limites da própria vida.

Enfim, o livro não é surpreendente nem profundo, com certeza eu gostaria de ler a mesma história com um final mais preciso, um drama mais trabalhado e resolvido, entre outras coisas, mas tudo é na medida para as poucas páginas e para o público jovem. Uma leitura despretensiosa, mas fofa, para intercalar com leituras mais densas.   

Temporada de acidentes - Moïra Fowley-Doyle

"Guardem as facas, protejam as quinas dos móveis, não mexam com fogo.
A temporada de acidentes vai começar.
Acontece todo ano, na mesma época. Todo mês de outubro, inexplicavelmente, Cara e sua família se tornam vulneráveis a acidentes. Algumas vezes, são apenas cortes e arranhões. Em outras, acontecem coisas horríveis, como quando o pai e o tio dela morreram. A temporada de acidentes é um medo e uma obsessão. Faz parte da vida de Cara desde que ela se entende por gente. E esta promete ser uma das piores.
No meio de tudo, ainda há segredos de família e verdades dolorosas, que Cara está prestes a descobrir. Neste outubro, ela vai se apaixonar perdidamente e mergulhar fundo na origem sombria da temporada de acidentes. Por que, afinal, sua família foi amaldiçoada? E por que não conseguem se livrar desse mal?
Uma narrativa sombria, melancólica e intensa sobre uma família que precisa lidar com seus segredos e medos antes que eles a destruam." Sinopse retirada do Skoob.

Tenho uma tendência muito grande a escolher livros com temáticas românticas e, querendo mudar um pouco, decidi buscar livros "que dão medinho" e Temporada de Acidentes entrou rapidinho na lista. A premissa bastante simples me chamou atenção - uma família enfrenta uma temporada de acidentes todos os anos. Neste período, eles estão mais propensos à batidas, cortes, quedas e até morte, veja bem. Qual a explicação para isso? Apesar da premissa parecer simples como descrevi, paralelamente à temporada, outros acontecimentos vão dando fôlego extra para o livro e o mistério envolvendo uma antiga amiga da protagonista Cara acaba ganhando maior destaque.

O núcleo do livro é formado por um grupo de adolescentes: Cara, a protagonista, sua irmã Alice, seu irmão postiço Sam e a melhor amiga, Bea. Cara tem uma visão diferente das coisas, as enxerga com certa fantasia, mas ela só tem isso e não vi uma explicação ou utilidade para tal característica, e isso é uma das coisas que achei desnecessário adicionar em um livro tão pequeno (250 páginas) se não havia espaço para desenvolver, diferente da excêntrica Bea, que tem o misticismo "incorporado" à sua personalidade de forma que acrescentou à formação da personagem, deu um toque diferente, mas natural. Alice é a mais velha e parece fazer o tipo "não tenho paciência para quem tá começando", mas tem seus motivos para isso e é levemente enigmática. Já Sam parece um garoto normal, mas também carrega seus próprios traumas.

"Todos nós nos tornamos especialistas em esconder as coisas dos outros. Todos nós nos tornamos especialistas demais em esconder segredos dos amigos."

Apesar do livro conter vários elementos para compor uma boa trama, achei que faltou liga entre tais coisas. Como a autora optou por trazer mais de uma "revelação" para o final, achei que não ficou bem dividido e fatos importantes e fortes tiveram que dividir o mesmo momento - o que diminuiu o impacto deles. Foi tudo assim de uma vez e eu fiquei meio perdida, sem saber no que prestar mais atenção. Até agora não consegui avaliar muito bem o livro, não tive motivos para amar, mas também não achei nada que o tornasse ruim. Ele foi indiferente, sei que muitas pessoas podem gostar, mas outras podem ter a mesma sensação que eu. Acredito que, se a autora abrisse mão de alguns assuntos que não tem grande relevância e estão ali só para enfeitar o enredo, sobraria mais espaço para desenvolver os mistérios dos personagens secundários e, assim tornaria o livro mais atrativo e empolgante. O clima, ambiente, os personagens e a atmosfera do livro no geral me remeteram a Mentirosos, outro livro que também fiquei sem saber se foi bom ou não. Só para deixar claro se você já leu: não tem nada a ver com o gran finale de Mentirosos, apenas essas coisas que falei, ok? Então se você gostou, acredito que Temporada de Acidentes também te agrade.

"Acho que minha família toda é assim: evitamos falar das coisas sobre as quais não podemos falar e cobrimos cada superfície para nos proteger do momento inevitável em que tudo virá à tona."

Uma coisa que "estraga" minhas leituras desse tipo é sempre a expectativa. Acontece que: um dia, li A lista do nunca e foi uma leitura muito intensa, alucinante e tensa, e sempre pego um livro do mesmo estilo esperando ter a mesma reação - ou algo próximo. Eu quero conspirar, desconfiar, caçar pistas, ficar com medo de ir à cozinha, essas coisas, mas infelizmente, essa sensação não me acompanhou nesta leitura. E ainda sigo na busca.

Mini-opiniões: P.S. Ainda amo você - Jenny Han


Se eu já tinha gostado de Para todos os garotos que já amei, com este aqui não foi diferente. Eu poderia escrever uma resenha completa sobre ele? Sim, mas ficaria repetitivo, pois as mesmas características que notei no primeiro livro, também estão presentes aqui, só muda o desenvolvimento do enredo. Isso levanta um questionamento: era realmente necessário escrever um segundo livro? Sinceramente, não. Apesar de adorar prolongar meu tempo na cabeça de Lara Jean, era totalmente possível sintetizar os dois livros em um, porque ler essa segunda parte só me fez ficar em agonia com medo da autora desfazer o final anterior, o que me fez ir atrás de spoilers para conseguir ler em paz. Se eu consegui, já não posso falar. 

A autora conseguiu manter o tom de fofurice, os relacionamentos familiares e dramas adolescentes na medida certa, e, com essa fórmula clichê, traz de volta aquela leitura confortável que não sabemos explicar muito bem o por quê, mas que encanta. Muitos YAs querem ser surpreendentes, diferentões e aqui temos uma trama simples, sem grandes plot twists ou sem um turning point e é sucesso entre os leitores - parece que o jogo virou, não é mesmo? Continuo indicando a leitura. Vai sair o terceiro livro e lá estarei eu, de novo, morrendo de ansiedade e de medo, mas estarei com ele firme nas mãos.

Tenho uma curiosidade imensa sobre o Peter. Juro que não iria reclamar de ler um livro sob o ponto de vista dele. Margot é outra pessoa misteriosa pra mim. Queria um livro da Kitty também, do Josh. Até da Genevieve. Poxa, todos os personagens! Já quero o romance do pai das irmãs Song, inclusive.

Indico muito a leitura da resenha de Para todos os garotos que já amei, ok? Ok.

O amor nos tempos do ouro - Marina Carvalho


"Sabes que nunca me apaixonei, maman, mas se porventura o tivesse feito, seria por alguém como ele?"
Cécile Lavigne perdeu todos os que amava e agora está sozinha no mundo. Ela, uma franco-portuguesa que ainda não completou vinte anos, está sendo trazida ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com o mais poderoso dono de terras de Minas Gerais, homem por quem Cécile sente profundo desprezo. Após desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile ainda precisará fazer mais uma difícil viagem. O trajeto até Minas Gerais lhe reserva provações e surpresas que ela jamais imaginaria. O explorador Fernão, contratado por seu futuro marido para guiá-la na jornada, despertará nela sentimentos contraditórios de repulsa e de desejo. Antes de enfim consolidar o temido casamento, Cécile descobrirá todos os encantos e perigos que existem nessa nova terra, assim como os que habitam o coração de todos nós. Com o passar dos dias, crescerá dentro dela a coragem para confrontar todas as imposições da sociedade e também o seu próprio destino. Sinopse retirada do Skoob.

Marina Carvalho já é um nome conhecido na blogosfera desde o lançamento de Simplesmente Ana pela Novo Conceito. O livro fez sucesso por todo o conjunto: capa linda, ações de marketing, enredo chamativo e uma escrita fluída fácil de acompanhar. Foi o primeiro livro da Marina que li e, no geral, achei o livro bom, pendendo para o regular. Deixe-me explicar: à primeira vista, numa leitura despretensiosa, a história era ok, mas parando para pensar no assunto, eram inúmeras as falhas e pontos a melhorar. Em seguida, veio Azul da cor do mar, que ainda não li; depois De repente Ana, o que conseguiu ser regular e, logo após, Elena, livro que acabei abandonando (temporariamente) por volta da página 100. Entre essas leituras teve também Ela é uma fera. Marina Carvalho era um nome riscado da minha lista de autores para acompanhar. Até chegar O amor nos tempos do ouro em casa. Bastou ler a primeira página para entrar numa leitura frenética ao mesmo tempo em que dosada, para saborear por mais tempo e ler com mais atenção aquela história deslumbrante. Surpresa e encantamento definem esta leitura.


Quando falo que o livro é ótimo, não é só em comparação às demais obras da autora. Ele se destaca entre elas, sim, mas se destaca dentre todas as minhas últimas leituras. Além de ter ganhado meu coração, a obra é de qualidade inquestionável - é visível o cuidado da autora em retratar com fidelidade e certa licença poética o clima e meio sociais da época. Acredito que a experiência da autora como professora a tenha ajudado muito na hora de inserir informações históricas de forma didática e totalmente incorporada na trama. Além disso, a construção do romance também chama bastante a atenção, me deixando até dividida na hora de escolher meu ponto favorito. Foi uma mistura muito harmoniosa: o enredo é interessante, o desenvolvimento é absolutamente fascinante, a ambientação verossímil e rica. Sem dúvidas, o livro virou favorito.

Cécile é uma protagonista forte e determinada, de uma sensibilidade ímpar e um senso de humanidade raro na época - a forma como ela enxerga os escravos vai totalmente contra o que muitos  (infelizmente) praticavam e pregavam. É doloroso ler certas partes onde são descritas as atrocidades que eles sofriam, assim como a submissão imposta às mulheres (e aí você vê o quanto o feminismo foi e é importante: de onde saímos, onde estamos, para onde temos que ir). Fernão não é bem um mocinho, mas é um personagem representado de forma bem humana: com defeitos e qualidades, com passado e um jeito que conquista. Uma personagem me chamou atenção e, no finalzinho da história, vi que tinha uma nova história em potencial ali - e está confirmado! Mal posso esperar, sério. 

A narrativa é, na maior parte do tempo, em terceira pessoa, mas, eventualmente, surgem páginas do diário da Cécile e cartas de Fernão. No início de cada capítulo, há trechos de outras obras históricas., o que me rendeu algumas marcações a mais. Minha única crítica ao livro, é sobre as notas. Alguns termos usados precisam de certas explicações, mas elas são numeradas e listadas ao final da obra. É cansativo parar a leitura para ver o significado lá no final e então depois voltar. Notas no rodapé funcionariam melhor (confesso que, se eu não estivesse tão envolvida, passaria direto por estas observações, perdendo "parte" da leitura, mas li cada nota, então imaginem).

Ler O amor nos tempos do ouro foi como fazer uma viagem no tempo, quase ter uma aula de história em campo, ser arrebatada por um romance apaixonante e ainda ser surpreendida com a elegante escrita da autora.

Vivian contra o apocalipse - Katie Coyle

"Vivian Apple tem 17 anos e mal pode esperar pelo fatídico “Arrebatamento” — ou melhor, mal pode esperar para que ele não aconteça. Seus devotos pais foram escravizados pela Igreja faz tempo demais, e ela está ansiosa para que voltem ao normal. O problema é que, quando Vivian chega em casa no dia seguinte ao suposto Arrebatamento, seus pais sumiram e tudo o que restou foram dois buracos no teto…
Vivian está determinada a seguir vivendo normalmente, mas quando começa a suspeitar que seus pais ainda podem estar vivos, ela percebe que precisa descobrir a verdade. Junto com Harp, sua melhor amiga, Peter, um garoto misterioso que tem os olhos mais azuis do mundo e informações sobre o verdadeiro paradeiros dos seguidores da Igreja (ou é o que ele diz), e Edie, uma Crente que foi “deixada para trás”, os quatro embarcam em uma road trip pelos Estados Unidos. Mas, depois de atravessar quilômetros de eventos climáticos bizarros, gangues de Crentes vingativos e um estranho grupo de adolescentes auto-intitulados os “Novos Órfãos”, Viv logo vai perceber que o Arrebatamento foi só o começo." Sinopse retirada do Skoob

Quem me acompanha no snap (ceilem) ou no twitter (@EsteJaLi), me viu falando bastante deste livro. Eu não sabia muito bem o que esperar, mas o que encontrei me pegou totalmente desprevenida e acabei adorando! Pelo que andei lendo, livros sobre arrebatamento não são tão novidades assim, mas esta foi minha primeira leitura com o tema e adorei o enredo.

Vivian contra o apocalipse é narrado em primeira pessoa e, diferente do que acontece em muitos YAs, é possível terminar o livro sem estar de saco cheio da mocinha. Vivian muda muito durante a história e realmente vira sua própria heroína, como ela mesma pediu ao Universo. Apesar de um maketing focado na protagonista badass, já vi melhores (ou piores?), mas ela não deixa a desejar - é bem coerente com a história, se fosse um pouco mais, seria forçado. Eu achei que Harp iria se sobressair na trama, porque ela era a garota do f*da-se, mas a história era mesmo da Vivian, então sua melhor amiga é uma parceira e tanto e ambas se completam, porém em nenhum momento divide o protagonismo. Já Peter é um mocinho fofinho, mas tenho certo receio de confiar nele, então vamos dizer que ele ainda é um mistério.

Durante toda a leitura, fiquei imaginando como todo este enredo pré-apocalíptico está perto da nossa realidade, como o fanatismo pode transformar qualquer coisa de forma radical demais - começando como um textão no facebook e logo virando discurso para uma multidão. As pessoas têm a necessidade de acreditar em alguma coisa e em tempos de crise, isso se torna ainda mais gritante. Aí junta a intolerância, desgoverno e ignorância e puft!, temos o cenário perfeito para surtos e cultos coletivos.

Gostei de como a autora deixou claro que tudo aquilo contido no Livro de Frick é uma visão distorcida e manipulada de uma crença humana, não tratando aquilo como verdade celestial, por assim dizer. Além disso, sua narrativa é bem fluída e instigante, dá sempre vontade de ler mais um pouco e não cansa. O final foi totalmente imprevisível, mas isso não quer dizer que foi um tapa na cara, eu só não esperava mesmo. Aliás, este livro tem muitas coisas imprevisíveis. 

Vale lembrar que o livro é Young Adult, então ele não tem aquela profundidade cabida para os temas abordados, mas com certeza é na medida para os jovens leitores e vai trazer reflexões. Sério, fico imaginando um professor de história discutindo com seus alunos do primeiro ano durante a aula... Então, digamos que o livro não é excelente, mas abre muitas possibilidades para discussões e para relacionar com nossa atual situação onde Bolsonaro é chamado de mito e Malafaia/Feliciano são ovacionados. Vivian contra o apocalipse é uma duologia e Vivian contra a América já foi lançado aqui (e é minha atual leitura).   

Auggie & Eu - R.J. Palacio

Li Extraordinário no comecinho de 2013 e me encantei de forma absurda pelo livro. Me trouxe muitas reflexões e fiz até playlist inspirada nele. Passados três anos, estou de volta à escola Beech Perp e lendo novos pontos de vista do "fenômeno Auggie".

O livro conta com três histórias que, originalmente, foram lançadas em e-books individuais (veja O capítulo de Julian, Plutão e Shingaling na Amazon). No início, tive um pouco de dificuldade para lembrar quem eram os personagens na história de Auggie, afinal, foram três anos entre uma leitura e outra e um apego enorme ao protagonista, o que deixou "os outros" sem a devida atenção. Diferente do que eu esperava, Auggie quase não está presente fisicamente nestas histórias, mas tudo se desenrola a partir da chegada dele na escola. 

O capítulo de Julian acabou me fisgando muito mais, apesar de toda repulsa que me causou. Julian é quem lidera o "motim do bullying" contra August e, assim, se tornou o vilão da história, mas estamos falando de crianças/pré-adolescentes, então será que ele é o culpado por tudo? Não digo que este conto foi uma redenção, pois seu comportamento ainda é inadmissível, mas trouxe outra perspectiva do personagem e do meio que ele vive. Cheguei a parar a leitura em alguns momentos porque eu estava enjoada com o comportamento dos pais do Julian - e surgia um certo medo dele gravar permanentemente tais pensamentos em sua personalidade. Bom lembrar que trata-se de uma história infanto-juvenil (apesar de ser indicada para todas as idades), então existe uma mudança, o enxergar do erro e, dentro daquela realidade, a correção - trazendo esperança para os possíveis pequenos leitores. Sério, gente, o que é tratado aqui precisa ser discutido em sala (seja de aula ou de jantar).

Plutão é basicamente uma história de amizade. Não a amizade de declarações fofinhas e selfies nas redes sociais, mas aquela que nasce na infância, com toda convivência e rotina, com amadurecimento e mudanças. Quem narra é o melhor amigo de Auggie, Christopher. Ele é quem conta como foi crescer tendo um amigo que sempre foi prioridade para todos, até para sua mãe, devido à saúde delicada. À medida que eles vão crescendo, vão aprendendo que não é fácil manter uma amizade, mas que valem certas renúncias.

Em Shingaling, Charlotte vai contar um pouquinho mais da dinâmica da turma da escola. Preciso dizer que vi a Ceile quase adolescente em cada página deste conto! Vivi coisas muito parecidas quando tinha a idade das meninas, desde a divisão dos grupinhos até as aulas de dança. Com isso, a história ganhou um tom nostálgico pra mim e acabei fazendo uma viagem no tempo. 

Estes contos são ótimos complementos para a história apresentada em Extraordinário, R.J. Palacio sabe dar voz a diferentes personagens de forma única, não há como negar. Sua narrativa tem um tom extremante sincero e nada hipócrita, mesmo que nos cause repulsa em certos momentos. Eu acrescentaria um conto para o Sr. Buzanfa - aprendemos tanto com as "pequenas" interações dele com os alunos, imagina uma história todinha dele? Foi ótimo poder ter contato com este "mundo" novamente e ver que, mesmo três anos depois, o livro ainda continua na minha lista de indicações.

[Resenha+Promo] Para todos os garotos que já amei - Jenny Han

Lara Jean guarda suas cartas de amor em uma caixa azul-petróleo que ganhou da mãe. Não são cartas que ela recebeu de alguém, mas que ela mesma escreveu. Uma para cada garoto que amou — cinco ao todo. São cartas sinceras, sem joguinhos nem fingimentos, repletas de coisas que Lara Jean não diria a ninguém, confissões de seus sentimentos mais profundos.
Até que um dia essas cartas secretas são misteriosamente enviadas aos destinatários, e de uma hora para outra a vida amorosa de Lara Jean sai do papel e se transforma em algo que ela não pode mais controlar. Sinopse retirada do Skoob.

Para todos os garotos que já amei causou um burburinho (estou amenizando, eu sei) na internet desde o lançamento. Apesar de algumas oportunidades anteriores, este foi o primeiro livro que li de Jenny Han - ela já publicou a trilogia Verão pela Galera Record (O verão que mudou minha vida é o primeiro) e, pela Novo Conceito, a trilogia Burn for Burn (Olho por Olho e Dente por Dente são os já publicados por aqui). Diante da unanimidade das opiniões que li, não pude resistir e fui conferir o que de tão bom este livro tinha.

Para todos os garotos que já amei é aquele tipo de livro que encanta, mas você não consegue dizer exatamente por que ele é bom, você só sabe que adorou e pronto. Ele não tem uma protagonista badass, um romance intenso ou um dramalhão familiar. Ele é simples, tem uma protagonista comum, um romance em desenvolvimento e um relacionamento familiar - como na vida real. Acredito que é essa sutileza que cativa, que nos faz ficar grudados no livro querendo saber o que vai acontecer a seguir, mesmo que não tenha aquele momento de plot twist, um mistério de roer as unhas e essas coisas. Você só quer acompanhar aqueles personagens, dar uma ajudinha de vez em quando e se compadecer de certas situações.

"O amor é assustador: ele muda, ele pode ir embora. Esse é o risco. Eu não quero mais ficar com medo."
As irmãs Song são um caso à parte. Cada uma delas merece um livro com a própria história, sem dúvidas. Kitty é aquela irmã mais nova fofinha, mas bem esperta e o que me agradou é que ela não foi infantilizada, ela até ganha responsabilidades e não é mimada. Fiquei sem entender bem quem na verdade é Margot, como o livro é narrado em primeira pessoa, acredito que há uma certa idealização por parte de Lara Jean e isso acabou despertando minha curiosidade - sério, seria ótimo ler mais sobre ela. 

A dualidade dos personagens os tornam reais, alguns começam se mostrando algo, mas com o decorrer da história vamos percebendo que não é bem assim. Mais um ponto para Jenny Han, claro. Ela não se prende a rótulos e os poucos citados acabam desconstruídos - aí fica a difícil tarefa para o leitor: por quem torcer? Quem tá certo na história? Existe um lado para ficar ou vai por afinidade, Bial?

Estava divagando ainda esta semana no twitter sobre o sucesso do livro e, para mim, os YAs tanto tentaram ser os "diferentões", surpreendentes que acabaram saindo muito da realidade, aí chegou Para todos os garotos que já amei com sua simplicidade, fofura e coerência e PAH, causou empatia nos leitores. Ele não é clichezão, viu, gente? Aliás, seu final é um pouco desesperador e fez surgir uma certa necessidade de spoiler, mas vou esperar para ler na continuação. Enfim, esse é um livro adorável que vou indicar com aquela carinha que diz "só leia, miga".

Sorteio

Em parceria com a Intrínseca, vamos sortear um exemplar de Para todos os garotos que já amei. Para participar, preencha o Rafflecopter abaixo e boa sorte! A primeira entrada é livre e, para mais chances, preencha as demais opções.
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Mini-opiniões: A Febre - Megan Abbott


"Na Escola Secundária de Dryden, Deenie, Lise e Gabby formam um trio inseparável. Filha do professor de química e irmã de um popular jogador de hóquei da escola, Deenie irradia a vulnerabilidade de uma típica adolescente de 16 anos. Quando Lise sofre uma inexplicável e violenta convulsão no meio de uma aula, ninguém sabe como reagir. Os boatos começam a se espalhar na mesma velocidade que outras meninas passam a ter desmaios, convulsões e tiques nervosos, deixando os médicos intrigados e os pais apavorados. Os ataques seriam efeito colateral de uma vacina contra HPV? Envoltos em teorias e especulações, o pânico rapidamente se alastra pela escola e pela cidade, ameaçando a frágil sensação de segurança daquelas pessoas, que não conseguem compreender a causa da doença terrível e misteriosa."

Depois de ouvir sobre A Febre durante a Bienal, imediatamente o coloquei na minha lista de leituras, afinal prometia ser um grande e instigante mistério. O livro tem um ritmo diferente, enquanto eu esperava uma linha interrupta de fatos, daquelas que não conseguimos largar até concluir, A Febre apresenta cenas quebradas, indo e vindo através de personagens diferentes, ora focando no "mistério", ora na rotina e dramas pessoais. Isso foi um obstáculo pra mim, pois não via relevância daquilo no enredo. 

Sabe quando transformam um livro em série televisiva e aí surgem vários personagens com histórias paralelas para preencher o enredo? A minha sensação aqui foi essa, só que como se pegassem a série e transformassem em livro. Nisso, surgiu outro problema: queria prestar atenção em tudo, pois como estava lendo um suspense, queria estar atenta aos detalhes para pegar pistas. E nisso foram três meses pra conseguir concluir a leitura de um livro de pouco mais que 250 páginas. E todos os detalhes serviram para: nada. Eu acreditei que o final guardava algo surpreendente, que me fizesse pensar "nossa, que idiota eu fui, a autora é genial 😱", mas não, simplesmente não.

Não encontrei o que procurava, não achei "sombrio, perturbador e estranhamente fascinante" como o blurb de ninguém menos que Gillian Flynn. Fica pra próxima, Megan.

P.S. Este mesmo texto vocês podem encontrar no meu instagram - estou sempre comentando minhas leituras por lá, então fiquem à vontade para seguir :) @ceilem

Gelo Negro - Becca Fitzpatrick

"Britt Pfeiffer passou meses se preparando para uma trilha na Cordilheira Teton, um lugar cheio de mistérios. Antes mesmo de chegar à cabana nas montanhas, ela e a melhor amiga, Korbie, enfrentam uma nevasca avassaladora e são obrigadas a abandonar o carro e procurar ajuda. As duas acabam sendo acolhidas por dois homens atraentes e imaginam que estão em segurança.
Os homens, porém, são criminosos foragidos e as fazem reféns. Para sobreviver, Britt precisará enfrentar o frio e a neve para guiar os sequestradores para fora das montanhas. Durante a arriscada jornada em meio à natureza selvagem, um homem se mostra mais um aliado do que um inimigo, e Britt acaba se deixando envolver. Será que ela pode confiar nele? Sua vida dependerá dessa resposta." Sinopse retirada do Skoob.

Você deve conhecer Becca de outros carnavais ou, mais precisamente, de outros livros. Ela é autora da série Hush, Hush que conta a história dos inesquecíveis Nora e Patch (shippo fortemente). A minha ansiedade para Black Ice era gigante desde o seu anúncio, com o lançamento de Finale - era uma promessa de mais uma ótima leitura e mais um caso de amor com um livro dela. Sério, eu tinha certeza que iria amar, porque na minha cabeça não tinha como essa mulher escrever alguma coisa que não me agradasse. Agora podem imaginar a minha decepção. A sensação é exatamente essa:

Eu e Gelo Negro, claramente
Não sou expert em thrillers e suspenses, mas sempre espero algo que me prenda do início a fim, me dê medinho e me faça desconfiar de tudo e todos. Não sei, acho o mínimo. E eu sei que a Becca tem capacidade pra isso, porque eu sentia um pouquinho de cada coisa em Hush, Hush - e olha que isso nem era o principal. Qual a dificuldade de colocar o suspense em primeiro plano e trabalhá-lo bem então? Complicado responder, já que ela misturou com romance e tudo pareceu ficar primário demais, como um primeiro livro da autora e não sua quinta obra. 

A ambientação é algo a se elogiar: apesar de nunca ter visto neve, me senti presa numa montanha escura, cheia de árvores e com gelo em todo canto. Eu via cada coisinha que era descrita, sentia frio como os personagens, ficava sem ar ao sair correndo junto com a protagonista e ouvia o barulho do helicóptero. Mas todas as sensações eram relacionadas ao ambiente, nada com os sentimentos dos personagens. Apesar de ver certo girl power em Britt e sentir certo orgulho nisso (na representação literária mais precisamente, não na personagem em si), não senti muita empatia e algumas vezes me peguei pensando que tipo de alucinógenos ela poderia estar usando e que não era contado no livro, porque não é possível (não vou comentar mais sobre, por motivos de: spoiler).

O romance... vamos lá: tinha mesmo necessidade? Sou a rainha da shippagem e se estou questionando isso é porque tem alguma coisa muito errada ali. Ok, a autora até tenta dar uma sequência fofa, mas não cabe ali naquela situação, entende? Eu sei que no final as coisas parecem menos loucas, mas a gente (como a personagem) só sabe realmente no desfecho, então continuo com a tese de loucura. Era caso de vida e morte? Sim. Era extremo? Sim. Era desesperador? Sim. Então, pra quê?

Sobre o final, digo que Becca acertou nas reviravoltas, mas não necessariamente foi surpreendente. Legal para os desatentos, previsível para quem já desconfia do óbvio e ok pra mim, que me vejo num ponto intermediário, justamente pela minha falta de contato com esse tipo de leitura.     

No final, Gelo Negro foi uma leitura mediana, com alguns acertos isolados da autora, mas que não teve algo que desse liga entre eles. Muito da minha decepção vem da expectativa com a autora, confesso, mas não vejo como não esperar algo bom dela. O que me deixa ainda mais triste é ver que todos os elementos para a trama perfeita estão presentes, mas não são bem explorados e utilizados. Vamos tentar de novo, né?

Lobos de Loki - K. L. Armstrong & M. A. Marr

Para Matt Thorsen, o fato de ser um dos descendentes de Thor, o deus do Trovão, não fazia muita diferença. Junto com vários outros descendentes de Thor e seu meio-irmão, Loki, o garoto levava uma vida normal em Blackwell, pequena cidade em Dakota do Sul. Matt conhece cada deus, história e detalhes dos mitos nórdicos. Mas conhecer cada lenda é uma coisa, acreditar é outra completamente diferente. Quando as runas revelam que o Ragnarok, ou fim do mundo, está próximo, e que Matt deve lutar pelos deuses para evitar o apocalipse, o garoto tem uma certa dificuldade em acreditar. Afinal, entre todos os Thorsen, Matt é o mais novo e até hoje nunca demonstrou o mesmo potencial dos seus irmãos mais velhos.

Porém, seu avô parece acreditar que o garoto pode cumprir seu destino, e mais: depois da vitória, Matt deve ser sacrificado para o surgimento de uma nova era dominada pelos descendentes de Thor. Agora, Matt sabe que tem de encontrar os outros descendentes e se preparar para a batalha definitiva. Com a ajuda relutante dos primos Fen e Laurie, descendentes de Loki, o jovem parte em uma incrível aventura trazendo lendas nórdicas para nosso tempo em uma jornada fantástica cheia de surpresas e com personagens cativantes.

O que dizer de um livro REPLETO de algo pelo qual sou apaixonada? Sim, poderia ser suspeita caso o livro tivesse levando as cinco estrelinhas, hein? Mas vou explicar o porquê dele ter perdido uma.

Lobos de Loki, no geral, tem uma história cheia de ação e realmente envolve o leitor. No entanto, ele começa com um ritmo um pouco lento, o que me fez deixar a leitura de lado umas três vezes. Já fazia um tempo que não lia algo mais juvenil e acabei me interessando por conta do LOKI gritante na capa. Hahaha! É óbvio que teria mitologia nórdica envolvida, né? Passado a parte de familiarização dos personagens, chega o momento em que você começa a se situar na história e aí a leitura passa a fluir.

A narrativa em terceira pessoa também é um ponto positivo, pois nos permite acompanhar ambos os descendentes (Fen e Matt) e a perspectiva dos diferentes "deuses" torna a história mais interessante. As autoras também uniram fantasia ao mundo real, entrelaçando fatos importantes da história dos EUA com lendas da mitologia escandinava, o que nos faz acreditar que, no livro, haviam descendentes dos deuses em todas as partes do mundo e que eles usavam o pouco de poder que lhes fora concedido como mortais. Além disso, criaturas como trolls ainda andam soltas por aí.

Matt é um personagem fácil de se gostar. Ele é bom, prestativo, correto... Totalmente o contrário de Fen, que é problemático, sempre está metido em confusão e adora uma boa briga. Laurie é a prima que tenta colocar juízo em Fen, foge de problemas, mas não é a garotinha frágil que se imagina. Matt e Fen não se dão muito bem, até porque é da natureza deles (Loki e Thor não eram exatamente exemplos de melhores amigos), mas se veem meio que obrigados a trabalharem juntos em prol de um bem maior. kkkk... Essa frase pareceu lição de livro de autoajuda

Eu gostei bastante do livro, só entristece saber que é mais uma série. É o primeiro volume das Crônicas de Blackwell e já está sendo chamado de "Percy Jackson da mitologia nórdica". Não costumo comparar obras, e nem vou fazê-lo, mas a premissa é a mesma: jovens descendentes de deuses e que têm grandes missões aqui na Terra. Recomendo a leitura para quem gosta de mitologia, aventura e não se importa com personagens mais novos (o protagonista tem 13 anos e a média de idade é essa).

Não é uma história perfeita e nem uma enciclopédia sobre lendas e deuses (antes que alguém diga que a verdadeira história o fulano é assim e assado). É um livro de entretenimento, voltado para um público mais novo e não tem obrigação de narrar a mitologia desde os primórdios. Digo isso porque li comentários por aí indignados porque as autoras foram muito superficiais e mudaram alguns aspectos, etc. etc. etc. E tipo... É sério isso?

Então, leia a sinopse de novo, leia outras resenhas e leia o livro com suas dúvidas esclarecidas, ok?

Beijão,