Destinos entrelaçados - Sheila Guedes

"Clara Andrade acredita sempre no melhor que cada um
pode dar. Para se afastar dos problemas de casa, vai passar
suas férias na casa de praia dos seus pais. . Numa manhã de
mar agitado, salva o misterioso Théo do afogamento.
Théo Diniz foi criado apenas por sua mãe. Após sua morte
ele decide resgatar sua história e acertar as contas com o
seu passado.
O encontro inesperado entre os dois os lança em um emaranhado
de emoções e a paixão é instantânea. Théo busca
vingança, Clara busca paz e um segredo do passado pode
acabar com as chances desse amor.
Será que o amor é capaz de fazê-los superar toda a dor?" Sinopse retirada do Skoob.

Quem me acompanha há bastante tempo, sabe da minha preferência por romances açucarados, daqueles bem perfeitos e cheios de declarações - pois bem, eu já não gosto mais tanto assim. E tirando alguns detalhes que logo explicarei, é só por esse motivo (gosto pessoal atual de leitura) que Destinos Entrelaçados não me fez ficar louca de amor (e não me desidratou de chorar).

Clara é uma personagem fácil de gostar, ela é simples apesar da vida de luxo, é bem na dela e "confortável dentro de si". Não é impulsiva nem uma rebelde sem causa. Está vivendo um momento tenso dentro de casa e por isso resolve se afastar, já que o problema não a envolve diretamente. Do outro lado está Théo, um cara bem bacana e levemente conquistador, que tem lá seus problemas e segredos e encontra na enseada, assim como Clara, um refúgio. Mas ambos sabem que precisarão encarar a realidade, só não esperavam ter os caminhos cruzados e um envolvimento entre eles pudesse interferir na "vida real" a ponto de separá-los de forma tão drástica.

Como todo o início do livro - e início do envolvimento do casal - é contado pela Clara, temos uma visão idealizada de Théo, afinal, ela está encantada por ele. Assim, acreditamos que está tudo bem e talvez lá na frente algo dará errado, mas ambos partiram do mesmo ponto. Aí quando chega o capítulo narrado pelo mocinho, o segredo é revelado ao leitor (ponto positivo), mas o romance já está num estágio bem avançado, Théo já está envolvido e nós perdemos sua intenção inicial. É difícil acreditar que um cara tem segredos obscuros e está escondendo propositalmente da mocinha quando ela já nos convenceu que ele foi um fofo no começo e quando chega na parte dele, ele já está transformado, entende? Aí o que sustenta a história é só o que ele esconde dela e o leitor não tem a chance de acompanhar uma rendição do personagem. 

"Sentir saudade é um saco. Mas não é a saudade que está me incomodando, o que tem me atormentado é a dúvida"

Preciso deixar claro: o segredo é realmente forte para segurar a trama, além de não ser banal nem incoerente. Muito bem delineado, com motivo, circunstância e consequência.

O que atrapalhou mesmo minha leitura foi o romance instantâneo. Eu nunca tive problema com isso, porque me apegava fácil (pois é), mas - nesse momento - eu precisava de mais para ser convencida. Eu cheguei a dar uma pausa na leitura de um mês e foi como se esse tempo tivesse passado na história também e consegui aceitar melhor toda aquela paixão arrebatadora e cheia de juras. O meu problema foi só no primeiro terço do livro onde esse romance começa, porque depois os conflitos começam e eu quero sangue! Muito provavelmente eu choraria muito nessa parte.

Os personagens secundários são bem interessantes e a autora dá dicas das histórias pessoais deles e eu preciso saber sobre Ian e Maysa! Com certeza esta introdução aos dois na história já me vendeu muito bem o romance turbulento deles e tem tudo para me ganhar, já que tem um tempo maior de envolvimento, mostrou mais intensidade e Maysa é desbocada e se mostrou bad ass, o tipo de protagonista que venho preferindo.

Não posso deixar de comentar dos inícios dos capítulos que têm quotes lindos que vão de William Shakespeare, passando por Carlos Drummond de Andrade até Tati Bernardi. Maravilhoso, apenas.


A escrita da autora é muto fluída e envolvente, tanto que depois da pausa, li todo o restante do livro no domingo de manhã entre os afazeres domésticos rsrs. Não tem monotonia, os momentos são bem distribuídos e a ambientação é bem visual. Algumas descrições são muito detalhadas e não tão necessárias, mas nada que atrapalhou a leitura. O que me cansou foi a protagonista sempre lendo o olhar do Théo. Ela sempre estava vendo dúvida, dor, angústia etc etc etc no olhar dele, até quando eles nem se conheciam direito. So calm down, sweet.

O romance é bonito, fofo e shippável. Tem tudo que um bom livro do gênero romântico deve ter e indico para quem gosta de leituras que façam suspirar, chorar e suspirar de novo.

Mini-opiniões: Sway - Kat Spears



"Sway é o apelido de Jesse Alderman, por causa de seu talento para conseguir qualquer coisa para qualquer pessoa, como providenciar trabalhos escolares, fazer com que pessoas sejam expulsas da escola, arrumar cerveja para as festas, entre outras coisas, legais ou ilegais... É sabendo dessa fama que Ken Foster, o capitão do time de futebol da escola, pede a ele um trabalho controverso: Ken quer que Bridget Smalley saia com ele. Com seu humor ácido e seu jeito politicamente incorreto de ver a vida, Sway terá que encarar o trabalho mais difícil que já teve: sufocar todos os sentimentos que Bridget desperta nele, a única menina verdadeiramente boa que ele conheceu em toda a sua vida." Sinopse retirada do Skoob.

Sway nas mãos de Colleen Hoover viraria um mar de desgraças, nas mãos de Simone Elkeles viraria um drama de redenção, mas com Kat Spears virou um retrato fiel de um cara ainda no ensino médio, revelando seus pensamentos e rotina, sem a preocupação de ser politicamente correto em seus comentários, sem também incomodar com isso. Sway erra, você acha que ele vai se abrir, voltar atrás nas palavras, de alguma forma reverter uma situação, mas lá esta ele as reafirmando. Jesse - esse é o nome dele - tem um jeito tão natural de ser que não consigo rotulá-lo de badboy ou qualquer outra coisa (ok, talvez ele seja o típico badass), ele é simplesmente daquele jeito e vive a vida fazendo suas coisas (que não aprovo). Tem suas mágoas, suas limitações e sua defesa para não encarar conversas que se voltem para seus sentimentos. Mas nada muito pronunciado e destacado, nada dramatizado. Bridget é uma mocinha certinha, orgulho dos pais, muito responsável, faz trabalho voluntário com crianças especiais, mas não é inocente como as personagens assim costumam ser. Ela também tem um humor ácido, tem uma visão muito clara das coisas e isso me ajudou a gostar dela. Seu irmão é quase mais importante que ela na história e, sério, ele me cativou muito.

Às vezes o que queremos e o que o mundo espera de nós são duas coisas diferentes.

Gostei da atmosfera real que a autora trouxe nas pequenas coisas. O cara que não maltrata a menina, mas também não demonstra afeto; a menina que não insiste, mas se mantém ali para qualquer sinal de aprovação. Não se trata de um romance milagroso, onde o cara mau se "converte" por amor, a mocinha dá uma lição nele e só depois que está tudo perfeito, o aceita. Não, é algo mais real. O cara tem seu jeito, descobre o amor e naturalmente encaixa isso na sua vida. Por outro lado, falta algo que impulsione mais a leitura, que te faça torcer pelos personagens. A experiência de leitura foi boa: é um livro dinâmico, fluido e bom, mas nada tão extraordinário ou intenso como eu esperava pelo tema que trata. O encerramento da história deu um quentinho no coração e foi bem fofo, o que me fez olhar o livro com mais carinho, confesso. Mas, pensando em todos os lados, trata-se de um livro bom, nem extraordinário nem desprezível, sabe? Indico para quem gosta de livros mais leves, aqueles que você coloca entre leituras mais densas.  

As mil noites - E. K. Johnston

"Clássico da literatura universal, as histórias de As mil e uma noites estão no imaginário de todos — do Oriente ao Ocidente. É impossível que alguém nunca tenha ouvido falar sobre Ali Babá e seus quarenta ladrões, ou sobre Aladim e o gênio da lâmpada. Ou sobre Sherazade, a mulher sagaz e inteligente que se casou com um homem cruel, e, por mil e uma noites, driblou a morte narrando contos de amor e ódio, medo e paixão, capazes de dobrar até mesmo um rei. Em As mil noites, a história se repete, mas com algumas diferenças…
Quando Lo-Melkhiin chega àquela aldeia — após ter matado trezentas noivas —, a garota sabe que o rei desejará desposar a menina mais bela: sua irmã. Desesperada para salvar a irmã da morte certa, ela faz de tudo para ser levada para o palácio em seu lugar. A corte de Lo-Melkhiin é um local perigoso e cheio de beleza: intricadas estátuas com olhos assombrados habitam os jardins e fios da mais fina seda são usados para tecer vestidos elegantes. Mas a morte está à espreita, e ela olha para tudo como se fosse a última vez. Porém, uma estranha magia parece fluir entre a garota e o rei, e noite após noite Lo-Melkhiin vai até seu quarto para ouvir suas histórias; e dia após dia, ela continua viva.
Encontrando poder nas histórias que conta todas as noites, suas palavras parecem ganhar vida própria. Coisas pequenas, a princípio: um vestido de seu lar, uma visão de sua irmã. Logo, ela sonha com uma magia muito mais terrível, poderosa o suficiente para salvar um rei..." Sinopse retirada do Skoob.

Com a proposta de uma releitura de As mil e uma noites, As mil noites traz a história de duas irmãs que vivem nas tendas do seu pai no deserto. Com a proximidade da chegada do rei Lo-Melkhiin para escolher sua próxima noiva - ou vítima, já que suas esposas são mortas na noite de núpcias ou poucos dias depois -, a mais nova, ciente do quanto sua irmã chama atenção, pede para a mãe da irmã arrumá-la como arrumaria a própria filha, de forma que ela fosse o destaque e, assim, acabar despertando o interesse do rei e poupando sua irmã da morte. Depois de ser levada, o que mais intriga é que a nova rainha permanece viva, dia após dia, e um estranho poder começa a despertar, e sua irmã pode não ser a única a ser salva. 

Primeira coisa: esqueça o romance romântico. Isso foi a primeira surpresa pra mim, mas muito bem vinda, já que ando me distanciando deste tema. Toda a trama envolve muito mais o amor entre irmãs, o poder dos deuses menores, esperança e mistérios do deserto. Há certo miticismo envolvendo tudo, mas tal qual a protagonista, nosso conhecimento sobre o real poder disso se dá conforme tudo vai acontecendo. A protagonista está sempre contando histórias que vivenciou com sua família, histórias que ouviu pelas tendas sobre o deserto, outras que seu pai trazia quando voltava com sua caravana. A narrativa é absurdamente rica em detalhes visuais e sensitivos. Todas as descrições são vívidas e formam a atmosfera perfeita que faz toda a diferença na experiência de leitura. Há nuances, temperatura, cheiros e texturas, além de toda cultura exposta. 

Eu menti, mas vi a manhã chegar mesmo assim.

Os personagens, em sua maioria, não têm nome. A protagonista é tão "internalizada" com a sua vida que usa as próprias referências para se referir às pessoas. Então há muitos "a mãe da minha irmã", "a mãe da mãe da minha mãe", "a senhora da henna" e por aí vai. Isso, em seu uádi, mostra intimidade, enquanto no qsar mostra a impessoalidade, uma vez que não há interesse em aprofundar os relacionamentos, já que ela pode morrer a qualquer momento. Não dá para se apegar a nenhum especificamente, pois a história se concentra muito mais na protagonista - vai ter girl power no deserto sim senhor! No máximo, desenvolvi uma empatia pela mãe do rei. Além da rainha, alguns (poucos) capítulos são narrador por outra pessoa (?) e isso aumenta o clima misterioso do livro.

O que encaro como ponto negativo é a história não ter um mistério definido e claro para puxar o leitor de volta pra história depois de uma pausa. Quando se está lendo, as páginas voam e tudo é muito envolvente, mas se (conseguir) parar a leitura, não há nada que desespere para retomar. Não é permeado de acontecimentos bombásticos e decisivos, mas, por outro lado, o ritmo da história é confortável, como se a autora te envolvesse numa teia enquanto você lê - sim, a sensação é exatamente essa: que alguém está tecendo a história no leitor. O que faz muito sentido com o enredo. O final é conclusivo e interessante, pois traz o clima de uma história finalizada com lição de moral e nos relembra o poder de uma boa história. 

... mas, ao chegar à milésima primeira, o pesadelo chegou ao fim.

A leitura foi totalmente válida pra mim e indico para todos, mas sem a expectativa de romance, acontecimentos épicos e uma leitura marcante. Em junho li A fúria e a aurora, que tem a mesma proposta, e se você chegou até esse livro por causa do anterior, já deixo claro que são bem distantes. Cada um tem seus artifícios para seduzir (tanto o leitor quanto o rei), mas são distintos na abordagem e desenvolvimento do enredo. Valeu a viagem ao oriente.