Eu já tinha lido várias coisas desse livro, como basicamente todos os lançamentos da Record. Já tinha ouvido falar sobre o quanto ele era romântico, cômico, divertido, maravilhoso... mas ter essa experiência pessoalmente? FOI SENSACIONAL!
Don Tillman é um homem de 39 anos, PhD em Genética, que vive uma vida perfeitamente controlada - basicamente, ele controla e planeja sua vida calculando para não desperdiçar nem um minuto. Ele tem um horário para cada coisa, nunca está atrasado e nem adiantado, tem dias certos para comer certas coisas e nunca, NUNCA, sai do seu cronograma.
O problema é que Don decide que quer se casar. Depois de passar por algumas desventuras amorosas, decide que quer achar a mulher ideal e esposa perfeita. Assim como toda a sua vida e seu cronograma, a mulher ideal precisa se encaixar de forma perfeita em sua vida. Ela tem que ser exatamente da forma como ele espera, e não pode desviar nem um pouquinho de seu ideal. Para selecionar as candidatas, Don decide criar o Projeto Esposa, que envolve responder um questionário (que contém todo tipo de pergunta relevante para ele, como por exemplo "Você come rins?") e esperar por uma análise minuciosa.
Só que Gene, seu melhor amigo, percebe que Don está sendo muito criterioso, e decide que ele mesmo vai apresentar Don para uma garota que ele ache boa o bastante. É assim que Rosie, uma garota que é totalmente o oposto do que Don procura, entra em sua vida, e faz um tremendo rebuliço. Nenhum dos cronogramas é seguido quando Rosie está por perto. Ele poderia muito bem sair com ela apenas uma vez e descartá-la da lista - mas não consegue, porque ela causa "algo mais" nele. E além do mais, ela tem um problema muito fácil para Don, um professor universitário de Genética, resolver: quer descobrir quem é seu pai biológico. Dessa forma, Don e Rosie começam uma conturbada e cômica relação, que pode ser tudo, menos romântica.
Eu JÁ ESTOU me excedendo nessa resenha, mas não tem como eu explicar o que é esse livro sem alguns parágrafos a mais! Tudo nele faz com que a gente não pare nem um segundo de apreciar cada vez mais a vida de Don e seus cronogramas. Acho que me identifiquei tanto com o personagem porque... bem, eu acho que sou parecido com o Don. (Não exatamente na parte totalmente planejada, mas na parte da interação social. Não, eu não tenho Asperger, e não tem nenhum problema se você tiver).
Pelo fato de ser um romance mais ou menos no modelo chick-lit (e aqui eu ressalto o MAIS OU MENOS) com um narrador homem (sendo que o escritor também é homem, o que conta bastante na hora do personagem masculino ser convincente), eu já logo me interessei. Sempre fico meio grilado com essa ideia bem tosca de que meninos não leem romance. Isso é a maior besteira. Eu acredito que essa denominação "chick-lit" é bem seletiva, preconceituosa e nada verdadeira, e esse livro, não com sua história mas sim com o seu significado, provam exatamente isso para mim. A capa é de chick-lit, o título é todo estilizado para parecer uma letra cursiva bonitinha, organizada e o tipo de capa que faria qualquer garota que busca um romance folhear o livro numa livraria. Até a palavra "ROMANCE" vem grafada na capa do livro.
E quando a garota fosse abrir o livro - BAM! - iria estar ali um narrador homem, com uma linguagem e com pensamentos bem diferentes de tudo aquilo que a gente lê nos romances narrados por uma mulher (eu devo dizer que foi bem legal ler um livro no qual a protagonista não fizesse aqueles comentários tipicamente femininos e, ok, engraçados, mas que me deixavam um pouco sem graça?) e assim mesmo, seria um ROMANCE, como bem especificado na capa. Esse livro, por mais que tenha uma capa toda feminina e com um coração e flores - desnecessário - narra de forma muito boa a busca de um homem por uma mulher compatível com tudo aquilo que ele procura. E sim, Don tem alguns problemas psicológicos, mas ainda assim, qual é o problema nisso?
Achei a relação dele com Gene algo que falta nos romances: amigos homens, que tomam cerveja, que conversam sobre coisas masculinas, que não são o estereótipo de cara perfeito que algumas autoras colocam em seus livros. Porque - me desculpem garotas - nem sempre os homens vão ser da forma como vocês esperam, porque muitas vezes eu, e acho que quase todo homem (a não ser os machinhos alfa que andam por aí dizendo que "nunca leem livros porque são caras das Exatas", mas que na verdade tem medo de barata e choram quando estão com medo), não sei como agir muitas vezes perto de garotas, bem como Don. É normal. Esperar que todo mundo aja da forma como a gente quer é exatamente o que Don deseja, e exatamente o que o livro diz, indiretamente, ser impossível.
Graeme Simsion, o cara que escreveu o livro, me fez ficar feliz em perceber que não sou só eu que fico meio grilado quando alguém vem todo me desdenhando por eu estar lendo um romance romântico. A Record foi um pouquinho infeliz em dar uma capa toda feminina pra um livro que não é tão feminino assim (
vide capa em inglês, que por acaso parece muito com as capas dos livros do Nick Hornby), mas é superável.
Enfim, isso tudo pode ser muita "brisa" minha, mas eu juro que precisava comentar sobre tudo isso antes de prosseguir essa resenha. O livro, portanto, é narrado em primeira pessoa, e tem Don como narrador. Ele é bem divertido, principalmente porque fica no ar - isso não é dito com todas as letras - que Don tem a Síndrome de Asperger, um transtorno do aspecto autista (se você não sabe o que é,
clique aqui) e, portanto, ele tem dificuldade em entender emoções e reações dos outros. Os pensamentos e planejamentos dele deixam o livro super cômico.
A relação de Rosie e Don, como eu já disse, é bastante peculiar. Pelo fato de Don ser um zero à esquerda quando o assunto é sentimentos alheios e Rosie ser uma garota super emotiva, fica óbvio que eles não funcionam da mesma maneira. Ver tudo o que vai acontecendo e entendendo como o amor vai nascendo ali é algo sensacional.
O livro é recomendado para todo mundo. Todos podem ler O Projeto Rosie e se entregar ao romance peculiar e todo cheio de contradições de Rosie e Don. Ele fala várias vezes de sexo com seu amigo Gene, o que pode fazer com que ele não seja TOTALMENTE levinho, mas não tem nenhuma cena explícita, portanto são só menções mesmo. Recomendadíssimo, e é daqueles que entra pro seu TOP melhores livros da vida facilmente!