O garoto dos olhos azuis - Raíza Varella

Já tive muitas ressacas literárias, mas nunca uma tão longa. Se tem algo que define minhas (tentativas de) leituras atualmente é: frustração. Se a solidão é estar entre milhares de pessoas e se sentir só, a ressaca literária é ter uma pilha gigante de livros para ler e não se empolgar com nenhum deles. O negócio está mesmo sério, acredite. E no meio de tantas tentativas, chegou um livro que eu queria dar apenas uma espiadinha e lá se foi meu final de semana todo dedicado à leitura. Nossa, como senti falta disso! Esse parágrafo é apenas para falar duas coisas: 1. eu precisava desabafar sobre não ler como eu gostaria e 2. O GAROTO DOS OLHOS AZUIS É MARAVILHOSO!

"Bárbara é linda, loira e bem-sucedida. Desde que assistiu a uma cerimônia de casamento pela primeira vez, ainda criança, seu sonho é apenas um: percorrer o tapete vermelho da igreja, vestida de noiva. Porém, contrariando todas as suas expectativas, ao ser abandonada no altar, a vida de Bárbara desmorona. Ela decide voltar à cidade natal e passa a viver com os irmãos e mais dois amigos. Todos homens. Com a ajuda de Vivian, uma espécie de Barbie Malibu, Bárbara tenta superar sua decepção amorosa recente e uma da adolescência, que volta com tudo à sua memória: o garoto dos olhos azuis. Será que o cavalo branco só passa uma vez? É isso que Bárbara vai descobrir com bom humor, jogo de cintura e uma pitada de neurose." Sinopse retirada do Skoob.

Deixa eu te avisar: clichezão. Mas se alguém escrever um chick-lit que não seja, migo, tá no gênero errado. Eu sempre gostei mais de romances, mas percebi que já não me empolgava tanto com as histórias do Sparks ou outros "romances contemporâneos de raiz" e aos poucos fui os deixando de lado. E só agora, lendo esse livro, me dei conta de como senti falta de me envolver tanto numa história onde o principal objetivo é a mocinha encontrar seu príncipe encantado - e ficar com ele, claro!

Pegue a definição de chick-lit e você terá as características de O garoto. Como não amar um livro que mistura romance, comédia e drama? Mas o que diferencia esse livro de tantos outros títulos? Posso citar a escrita da autora, uma delícia de acompanhar, bem fluída e bem desenvolvida. Também posso falar dos personagens absolutamente reais - e destaco os secundários que tem grande participação na trama e têm papéis bem relevantes no enredo. Minha admiração pela autora cresceu com um motivo especial: ela não escolheu uma "saída fácil" muito utilizada por novelas/séries/livros para uma determinada situação no livro - que obviamente seria spoiler comentar sobre, mas fica aqui meu apoio ao pensamento que não se trata de um objeto ou obstáculo a ser retirado do caminho. Gostaria de falar sobre minha indignação com a tratativa em outros meios, mas fica para algum desabafo no twitter e tal. Enfim, parabéns à autora pelo respeito com que tratou tudo e como foi coerente e cuidadosa. 

Ian é um príncipe que se faz de sapo no início e, mesmo sabendo que eu iria gostar dele em seguida, me questionei se ele precisava ser tão seco com a Bárbara. Tá, eu sei que pegar alguém comendo o SEU sorvete é totalmente digno de raiva (sério!), mas ele podia entender e respeitar o momento Bridget Jones da garota. Bem, Ian é assim: uma mistura de cara real com um pouquinho de príncipe dos Contos de Fadas - ai, como posso dizer? Ele é um tipo de cara normal, mas um bom cara normal, aquele que a gente sonha em encontrar (eu sonho, pelo menos rs), que equilibra bem os defeitos e qualidades. Sua irmã se mostra uma amiga maravilhosa e também merecia um livro (hehe tá na moda, né?). Os irmãos da protagonista me confundiam, mas aí eu me lembro como irmãos são na realidade e tudo faz mais sentido - isso é algo que devo destacar: apesar da nuvem negra sob a cabeça da Bárbara, tudo é muito coerente e com boa dose de realidade, onde é possível identificar o exagero para dar o tom dramático e cômico, mas também onde a gente consegue imaginar aquilo acontecendo na vida de alguém, sem problema nenhum. É o tipo de história que funcionaria muito bem num filme.

"(...) Tudo que eu mais desejei estava bem à minha frente e eu não conseguia alcançar. Se fosse em outra época, em outra vida, talvez pudéssemos começar uma história, mas a minha vida já tinha muitos 'era uma vez' para eu conseguir chegar em um 'felizes para sempre' sem deixar meu coração em pedaços no caminho."

Eu preciso falar sobre como eu queria marcar cada pensamento da protagonista. Gente, me identifiquei tanto! Já começou no prólogo com a visão dela do amor e do sonho de se casar para seguir para a triste realidade: a Disney nos enganou. É tão legal a forma como ela desenvolve os pensamentos e eu só queria sair colocando tag atrás de tag, mas estava tão grudada na história que acabei nem levantando pra pegar e deixei passar (pfvr, isso já aconteceu com você? Às vezes não consigo largar o livro para ir pegar um marcador!). Além disso, fiquei apaixonada pelas citações nos inícios dos capítulos - sério, melhor livro neste quesito! Tooooodas as frases (trechos de livros/músicas) são lindas e fazem muito sentido na história. Até falei no instagram que eu queria sair fotografando para compartilhar todas (e mandar indiretas para o crush #soudessas).

Se você procura uma história para te deixar com uma sensação boa no final e não se importa com os clichês: se joga em O garoto dos olhos azuis. É muito amor ♥

Mini-Opiniões: Eu Te Vejo - Irene Cao

Mini-Opiniões é uma coluna original do blog português Estante de Livros, adaptada aqui para o blog.

Já fui muito fã de livros eróticos. Entretanto, achei que esses novos livros estão se tornando repetitivos e os protagonistas se parecem mais com coelhos em época de reprodução do que seres humanos normais. Eu poderia dizer que os autores têm criado verdadeiros ninfomaníacos, mas as definições não se encaixam muito bem, então... Ficou mais bacana chamá-los de coelhos. Hehehe

Eu Te Vejo é bem rápido, narrado em primeira pessoa e tem diálogos bem interessantes. Helena é madura, não tem ataques agudos de adolescentes e ainda não tinha vivido uma grande história de amor. Ela tem 29 anos, mora em Veneza e trabalha com restauração. Ela então conhece Leonardo, que é um famoso chef (huuummm, que sexy) e que vai morar justamente no local em que ela está trabalhando. É óbvio que os dois vão se envolver sexualmente, mas para viver essa aventura ardente, Helena nunca deverá se apaixonar por ele. Humrum... sei! Daí já podemos concluir o resultado, hum? Pegação geral. Hahahaha

Este é o primeiro livro da trilogia (que poderiam ser um volume único) e, de maneira geral, é bacaninha. Não é um gênero que tenho como prioridade de leitura, mas de vez em quando, para mudar de ares, é legal. Se você curte livros adultos, não pode deixar de ler este. É de leitura fácil e rápida e ambientado num lugar maravilhoso.

Quilômetros de saudade - Angélica Pina

Essa resenha era para ter saído ainda em janeiro, porque acho que esse livro tem a cara das férias - e isso graças à bela narrativa que é envolvente desde o início, onde as personagens realmente estão de férias. Mas eu simplesmente não conseguia escrever sobre ele. E pior: quando consegui, escrevi direto no editor do blog e (adivinha?) não salvou, perdi a resenha inteira e fiquei longe do computador por algumas semanas (oi, blog abandonado!). Fiz a leitura em poucas horas e eu queria sair falando para todo mundo que procura leituras de um dia: oi, leiam esse livro! Mas aí vem a parte que eu preciso dar motivos para vocês fazerem isso e eu simplesmente travei. Posso só falar que é maravilhoso? Vocês acreditam em mim?

Daniela está de férias em Natal com suas amigas, mas sua cabeça está bem longe: ainda em Belo Horizonte, onde seu namorado (Jorge) está. Eles namoram há pouco tempo, mas ela o acha o cara mais perfeito da face da Terra ("Parece ter saído de um dos livros com mocinhos perfeitos que eu adoro ler"). Bem, convenhamos que a ideia de mocinho perfeito já não convence mais, né? Então, obviamente o cara não é tudo isso. Mas ela acha e, com isso, deixa de aproveitar muito da viagem. Em uma pequena brecha, ela conhece Fernando, que mora em Natal, e seus primos que também estão passando as férias por lá. De volta à terra do pão de queijo, ela encara sua rotina, começa a se corresponder com Fernando e eles acabam se tornando amigos. E, bem, a vida acaba por pregar algumas peças nela e a coloca em um caminho totalmente diferente do que ela esperava.

"Confesso que às vezes sinto medo de que essa fase tão boa que estamos vivendo acabe. Eu mesma costumo dizer que tudo que é bom dura pouco. Por outro lado, penso em casais que passam uma vida inteira apaixonados e torço com todo meu coração para que seja nosso caso."

O livro é bem pequeno e eu acho bem arriscado falar alguma coisa da sinopse, porque parte do  meu encantamento veio com a surpresa - eu não curto mesmo ler sinopses e, quando o faço, esqueço rapidamente. Foi o que aconteceu aqui. Quando iniciei a leitura, ainda estava com a "primeira impressão" causada pela capa: um drama mais adulto e sério. Mas aí vem a primeira página cheia de calor de Natal, amigas de férias, uma atmosfera bem jovial e colorida. Essa foi só a primeira surpresa. Outra coisa que acabou me surpreendendo foi a sinceridade em narrar um envolvimento real, sem pretensões de amor à primeira vista, sem nenhuma dica de que algo poderia acontecer - Daniela estava em um momento de "só tenho olhos para o meu namorado" e não deu pistas do que poderia acontecer em seguida. Além disso, a honestidade ao narrar as expectativas serem desfeitas em um momento específico - um encontro - me trouxe a identificação, porque eu sei como aquilo é real e acontece o tempo todo.

Posso dizer que Angélica Pina aproveitou todas as páginas para deixar registrado seu talento de escritora e autora - a escrita é fluída e envolvente, muito bem desenvolvida e deixa o leitor confortável para prosseguir com a leitura. Não sei explicar direito, mas é aquele livro que você lê algumas páginas e pensa "nossa, ela escreve bem", sabe? Em sua estreia, ela já conquistou uma leitora assídua: eu. Pode escrever mais livros, romances ou não, estarei aqui lendo e me deliciando com as palavras. Gosto de livros bem aproveitados, onde eu passo por "uma vida inteira" num intervalo curto de tempo - sério, é leitura de três ou quatro horas. Mas, não, o livro não é em momento algum corrido ou superficial, ele é bem objetivo. E muito fofo, devo acrescentar.

Quilômetros de saudade apresenta seu enredo, tem o desenvolvimento e encerra um ciclo, mas não vou negar que adoraria uma continuação - apesar de não ter pontas soltas, os personagens podem render muitos outros dramas para dar continuidade ao romance. Claro que essa opinião é altamente afetada pelo meu apego - adoraria ter mais histórias com todos eles (as amigas da Dani renderiam bastante e eu aceitaria até uma história para o Jorge - para se redimir ou para se ferrar de verdade MUHAHAHAHA).

[Clube da Liga] Entrevista: Leila Sales



Depois da leitura conjunta do livro A playlist da minha vida, enviamos algumas perguntas para a autora Leila Sales para sabermos mais sobre suas inspirações e outras coisas sobre o universo do livro. Dividimos a entrevista entre "Sem spoilers" e "Com spoilers" - então só leia a segunda parte se você já leu o livro ;)

Lembrando que vocês têm até 19/04/2014 para concorrer a três exemplares do livro, basta participar aqui.

Sem spoilers

Clube do Livro da Liga: Como surgiu a ideia de incluir a discotecagem na trama? 
Leila: Eu amo a vida noturna e sair para dançar. Isso tem feito parte da minha vida desde que eu tive idade suficiente para frequentar boates. Ao longo dos anos estive próxima de uma série de DJs, e eu procurei contar a história dessas pessoas fascinantes nesse mundo. 

CLL: A paixão pela música na trama é algo pessoal? 
Leila: Totalmente! A música desempenha um papel enorme em minha vida. Sempre desempenhou. Como Elise, eu tive a sorte de ter um pai que incutiu em mim o amor pela música desde que nasci. 

CLL: O que acha da possibilidade de seu livro ajudar a salvar uma vida? 
Leila: Ás vezes recebo e-mails de leitores dizendo que meu livro deu-lhes uma nova perspectiva de vida, ou os fez se sentirem menos sozinhos. Significa muito para mim, poder escutar isso. Não posso pensar em um melhor elogio ao livro. 

CLL: Você se inspirou em algum local verídico para criar a atmosfera da Start? 
Leila: A Start é vagamente baseada em um número de diferentes boates e festas que eu já estive. Listo alguns deles nos "agradecimentos" do livro*. A primeira boate indie que conheci foi em Boston, e ela realmente era chamada Start. Ela não está mais lá, mas eu queria dar a Elise essa mesma experiência que eu tive de descobrir todo este mundo da música indie e encontrar um lugar para si mesma lá. * Ramshackle e Klub Kute (Bristol); Motherfucker e Mondo (Nova York); Pill e Start (Boston). 

CLL: Você equilibrou a seriedade do bullying e depressão com uma narrativa descontraída. Você planejou desde o começo escrever uma obra young adult? 
Leila: Não procurei escrever sobre uma grande "questão" exatamente. Não quis fazer nada maçante. Apenas procurei contar a história de uma garota e como sua paixão pela música a ajuda. Eu sabia que seria um romance jovem adulto (young adult), porque é para essa faixa etária que sempre escrevo, mas os detalhes foram sendo descobertos conforme eu escrevia. 

CLL: Quais atores vocês escolheria para o elenco principal, caso o livro fosse adaptado para a tv ou cinema? 
Leila: Eu não tenho ideia, mas existe este site (vocês já viram?) onde os leitores podem votar em quem eles gostariam que interpretassem personagens em uma adaptação para o cinema. É aqui, If List. Todas essas sugestões são melhores do que qualquer coisa que eu poderia ter sugerido. Conheço muito mais sobre livros e música do que sobre filmes! 

Com spoilers 

CLL: Elise salvou a si mesma (diferentemente da maioria das histórias), sem um "Príncipe Encantado". Você planejou isso desde o começo ou decidiu durante o processo da escrita? 
Leila: Eu sabia que, independentemente de Elise terminar com um namorado ou não, ela precisava ser a única a se salvar. Em sua jornada ela vai se tornando capaz de se autovalorizar, em vez de deixar que outras pessoas determinem o quanto ela é digna. Então, Elise não poderia decidir que ela era boa o suficiente, como resultado de um menino dizendo isso a ela. Ela teve que ver seus pontos fortes por si própria, para andar com suas próprias pernas.

CLL: Você pensou em um final alternativo? O suicídio de Elise, por exemplo? 
Leila: Nunca pensei em um final onde Elise terminasse morta, mas experimentei muitas maneiras diferentes para encerrar a história. Uma vez escrevi uma versão em que ela é presa por ser menor de idade na boate. Em outra vez escrevi uma versão onde ela e Char acabariam discotecando no baile da escola de Elise. O final do livro é, obviamente, muito melhor! É por isso que as revisões são importantes. Nenhuma história é perfeita durante toda a produção nem logo na primeira tentativa.

Sobre a autora:
"Leila Sales cresceu nos arredores de Boston, Massachusetts. Ela se formou na Universidade de Chicago em 2006. Agora ela vive em Brooklyn, Nova York, e trabalha no mundo dos livros infantis. Leila passa a maior parte do seu tempo pensando em dormir, gatinhos, bailes e histórias que ela quer escrever."

Sobre o Clube do Livro da Liga:
O Clube do Livro da Liga é formado por amigos que resolveram arriscar uma leitura coletiva e se surpreenderam com a interação que foi proporcionada. Temos muitos gostos e ideias em comum, além de muitas discussões e risadas. Nós Somos:Arquivo Passional | Entre Palcos e Livros | Este Já Li | Leitora Viciada | Leituras da Paty | Livros e Chocolate | Mais que Livros | Meus Livros, Meu Mundo | Meus Livros Preciosos | MoonLight Books | Prazer, me chamo Livro | SA Revista | Segredo entre Amigas |Seguindo o Coelho Branco | Todas as Coisas do Meu Mundo