Quando a gente esquece alguma coisa importante

Estou perdida. É isso que falo para todo mundo que me pergunta verdadeiramente como estou. Claro que não saio despejando isso em cima de todo mundo, mas às vezes escapa como um grito de socorro. O que essas pessoas podem fazer por mim? Não faço a menor ideia, aliás, nem tenho esperança de que haja uma solução em resposta, mas eu ainda tento verbalizar para que algumas pessoas saibam que essa não sou eu de verdade, como um pedido de desculpas, uma justificativa por estar assim tão... perdida? Tenho um lar, uma família, um emprego, mas não me encontro mais. Neste momento, inclusive, já me vem o pensamento "tá vendo, você tem tudo e ainda vai escrever textão?", lá vem eu mesma me sabotar de novo e é justamente isso que me trouxe até aqui: não consigo olhar para mim com carinho, com acolhimento, com paciência. Mas vim escrever, parei um tempo para só falar de mim, não é mesmo? Estou decidida a me encontrar. E quando você esquece de alguma coisa, o que faz? Volta para onde estava, onde você viu ou pensou naquilo pela última vez e tenta lembrar. Aqui estou, no meu blog, depois de anos, tal qual a protagonista de Depois dos Quinze (filme e série, já viram?), onde eu me encontrava, onde eu me sentia realizada, falando sobre coisas que eu gosto, um tempo só meu conversando com outras pessoas que gostavam da mesma coisa, às vezes falando sozinha, mas me sentindo útil dentro de um nicho. Eu já estive nesse lugar escuro, falei sobre isso num dos últimos textos aqui, mas aquela publicação era justamente quando eu tinha saído dele. Eu tão observadora, atenta a padrões, buscando sempre uma lógica nas coisas, percebi cada passo que me trouxe de volta, eu vi que estava caindo no buraco de novo, mas só isso que me deu vantagem dessa vez: eu tinha consciência de onde estava indo, mas me sentia inerte, como uma paralisia do sono, sem reação e eu só conseguia ir mais pra baixo, nunca subir. Eu achava que estava ruim, mas entrava numa espiral que me levava mais fundo. Descobri que o fundo do poço tem subsolo. 

Eu tive uma filha, ela é perfeita e me ajudou a me manter aqui, junto com o agora adolescente Gustavo (sim, adolescente!). Uma âncora necessária na vida. Agora, ela tem três anos, um pouco menos dependente de mim, anda, fala, vai pra escola, come sozinha, nem fralda usa mais. Aí sobrou um tempinho para eu olhar no espelho (figurativo, dentro de mim, mas serve o literal também) e fiquei desesperada. Isso aconteceu tem tempo, um pouco mais de um ano, e, sim, todo esse tempo estou nessa espiral de ansiedade, frustração, desespero entre tantos outros sentimentos, só que estou cansada de ser assim, estou com saudades de mim, estou com saudades de ser a melhor mãe para os meus filhos, a melhor amiga para todos os meus amigos, a melhor filha para os meus pais, a melhor tia para o meu sobrinho... enfim, a melhor eu para o mundo. E, não, não é para eles, é para mim. Eu sou do tipo que quando eu aprendo uma coisa, eu viro especialista naquilo, como disse, observo padrões, faço conexões, e quando estou bem, sou a melhor pessoa em estar bem - comigo e reflito isso com todos. 

Apesar de estar falando que estou perdida aqui, para quem quer que leia isso, não se trata de um pedido de socorro mais. Agora é um registro de onde estou saindo. Voltei para onde estava, vou me lembrar para onde eu ia e vou conseguir voltar à superfície. Eu sei que vou. 

Ah, sim, os livros... Ainda leio, acredita? E quero tanto voltar a falar deles, isso é uma das coisas que também vou reencontrar: minha voz. No momento, não consigo desenvolver duas frases completas e coerentes sobre o que gosto ou não gosto, consigo até ouvir o erro da tela azul do Windows na minha cabeça quando tento desenvolver alguma coisa, mas vem aí (por favor, eu amo falar de livros, então, universo, faz acontecer!).


Uma observação: eu escrevi esse texto todo de uma vez sem revisão, porque o notebook está disparando um número qualquer e não quero correr o risco de perder a coragem de postar, então aqui está exatamente o que passou na minha cabeça, sem filtro e correção. Com o tempo, provavelmente arrumo esse problema no teclado e arrumo as ideias também.

Quinze dias, sete anos e a liberdade no tempo

por Gustavo Valim

Olá Gustavo de 2010, tudo bem?

Sou o Gustavo de 2017. Não outro Gustavo. Você mesmo. Eu. Nós dois. Sua versão 7 anos mais velha. Não se assuste e não pense que você está dentro de um livro de ficção científica. Nem que a Tardis seja real. A gente sabe que o único modo de viajar no tempo é pelo vira-tempo da Hermione. Mas enfim. Estou te escrevendo porque você se fez muito presente na minha vida nos últimos dias. Sim, eu ainda me lembro de você. E antes que a sua ansiedade comece a te sufocar por fatos do futuro, más notícias. Esta carta está sendo monitorada. Você sabe o que acontece quando mexemos com o tempo. Então vou tentar fazer o mínimo de estragos possível no espaço-tempo e me concentrarei em você. Sim. Papo reto e sério agora. Acabei de terminar um livro incrível que foi lançado recentemente. O nome é Quinze Dias. E neste momento você deve estar se perguntando "você se deu ao trabalho de mandar uma carta ao seu eu de 7 anos atrás por causa de um livro?". Sim. Mas não trate esse livro como "só" um livro. Essa obra é o motivo dessa conversa. Foi por conta dessa história que decidi te escrever. Porque ela me fez lembrar totalmente de você.

Só para te situar, Quinze Dias vai contar a história de Felipe, que é um adolescente com vários dilemas de adolescente, com o acréscimo de que ele é gay. E gordo. Durante as férias de julho, sua mãe - que é uma mãezona da porra - anuncia que o filho dos vizinhos vai passar quinze dias no apartamento dos dois enquanto os pais do menino vão viajar. Esse menino é Caio. Que é um legítimo sapão, segundo Felipe. O enredo vai trilhar o dia a dia desses dois nesses quinze dias e acompanhar todas as neuras e incertezas de um Felipe descobrindo-se para o amor. E isso é tudo o que você precisa saber antes de correr para devorar essa história. Mas já que você só vai conhecer a obra completa daqui a 7 anos, falemos de você.

Eu não vou dar detalhes de como você vai lidar com seus traumas e como vai se desenvolver afetivamente, mas eu posso te dar alguns conselhos. Na verdade, eu não. O livro. O Felipe. Uma pena você não ter conhecido Felipe aí em 2010. Te ajudaria a entender TANTA coisa. Te faria se sentir tão incluso. Sinceramente, Edward, Bella e Jacob são legais, mas eles não representam você. Eles não falam com você. O Felipe fala. A insegurança com seu corpo, seus dilemas de autoafirmação e essa mania de se esconder dentro de você mesmo. A história de Quinze Dias seria um tapa e ao mesmo tempo uma carícia para você. Tapa porque você enxergaria que é possível enfrentar seus medos. Carícia porque veria que é possível ser feliz do jeito que você é e não é preciso se esconder ou fingir o infingível.

Você, infelizmente, não tem ninguém para conversar sobre você mesmo. Suas amizades vão se afastar quando perceberem o inevitável. Não se culpe. Quem te ama de verdade vai permanecer. Dê mais valor às pessoas que não fazem brincadeiras com você e se afaste das que não conseguem ficar um dia sem zombar do seu jeito de ser. Também não precisa fingir que não entendeu a piadinha escrota. Você entendeu. E pode - e deve - retrucar. Manda essas pessoas se foderem. E não tenha medo delas. Você é maior que todos eles. Só precisa se dar conta disso.

Eu não sei quem seria eu aqui em 2017 se você fosse mais seguro de si. Talvez não tivesse mudado muita coisa. Talvez tivesse mudado tudo. No futuro você enfrentará outros dilemas da vida adulta, mas posso te garantir que os seus problemas vão se resolver. Não precisa se preocupar. Sua família te ama e você vai se dar conta disso. Não brigue tanto com a mãe. Você não entende. Mas ela sempre entendeu.

Sabe, você não emagrece. Desculpa te adiantar isso. Mas quer saber de uma coisa? Foda-se. Também vai se dar conta de que não adianta mover montanhas para agradar outras pessoas. Você precisa se amar e isso vai ser o suficiente. Ah, Caios vão aparecer. E você vai sofrer. Mas cada Caio será necessário para moldar o Gustavo dos 20 anos. Tem um Caio mexendo fortemente com meu coração neste momento e esse Caio parece ser O Caio. Posso estar enganado, mas tô me deixando levar... ok, essa informação nem era relevante para essa conversa, mas eu tô precisando externar esse sentimento todo. Desculpa.

Enfim, viu só como não foi "só" um livro que me fez te escrever? Foi toda a reflexão que tive de você e do processo que foi até eu me tornar eu. A história de Quinze Dias me deixou saudosista de um Gustavo que já foi inseguro e que tinha medo de ser quem era. De ser quem sou. Se você tivesse entrado em contato com histórias como a de Felipe e Caio, talvez as coisas tivessem sido diferentes.

Por isso esta carta não é somente para você, Gustavo de 2010. É para todos os Gustavos de todos os anos e idades, que ainda são presos dentro de si mesmos. Não tenham medo. Arrisquem, sonhem, vivam. A vida passa rápido demais para não sermos quem a gente é. No final das contas, o mundo é todo nosso. Né, Felipe?

Gratidão ao Vitor Martins por essa história tocante e incrível. E você, Gustavo, aproveita mais. Não sinta nojo de você mesmo. Vai facilitar tanto a minha vida aqui que você não tem noção. Eu te amo porque você é parte de mim e você vai amar o que eu me tornei. O que nós nos tornamos. O mundo realmente é todinho nosso.
Um beijo,
Gustavo. O de 20.


Conheça Somos todos extraordinários de R. J. Palacio

Extraordinário é, de fato, um livro muito versátil. Por trabalhar as diferenças num ambiente escolar pré-adolescente, a história abre um leque de opções de abordagem. Tivemos o livro original, os contos com o ponto de vista de outras crianças (Auggie & Eu), um livro de preceitos, o diário (este é o único que julgo desnecessário, pois é basicamente um caderno azul bonitinho) e agora uma história ilustrada pela própria autora.
Assim que este livro de apenas 20 páginas chegou, meu filho pegou antes de mim e foi automático: começou a ler. Cada página tem frases bem curtas e imagens com cores vívidas, tudo bem atrativo para crianças em fase de alfabetização ou recém-alfabetizadas (caso do meu baby). 

O assunto é abordado de forma bem simples e de fácil compreensão para crianças, então minha indicação é para presentear filhos, sobrinhos etc que estejam nesta fase. O meu exemplar vai ficar para o meu filho levar para a escola, pois sei que os amiguinhos dele também vão gostar muito do Auggie e, claro, aprenderão que entre ter razão e ser gentil, é melhor escolher ser gentil.

[Resenha+Promo] Matéria escura - Blake Crouch

Sabe aquela coisa do "e se..."? Todo mundo que está prestes a tomar uma decisão tenta ponderar entre as possibilidades e escolhe aquilo que julga melhor. Mas como seriam as coisas se você optasse pelo outro caminho? O quanto tudo mudaria? Trabalhando nessa premissa, o livro vai a fundo com essas indagações e desenha os muitos cenários que cada escolha - tanto no nível pessoal quanto no conjunto, a humanidade - pode gerar.
Essas são as últimas palavras que Jason Dessen ouve antes de acordar num laboratório, preso a uma maca. Raptado por um homem mascarado, Jason é levado para uma usina abandonada e deixado inconsciente. Quando acorda, um estranho sorri para ele, dizendo: “Bem-vindo de volta, amigo.”
Neste novo mundo, Jason leva outra vida. Sua esposa não é sua esposa, seu filho nunca nasceu e, em vez de professor numa universidade mediana, ele é um gênio da física quântica que conseguiu um feito inimaginável. Algo impossível. Será que é este seu mundo, e o outro é apenas um sonho? E, se esta não for a vida que ele sempre levou, como voltar para sua família e tudo que ele conhece por realidade?
Talvez vocês tenham percebido que estou saindo da zona de conforto das minhas leituras porque, bem, lá não está mais tão confortável assim. Meu maior medo em pegar algum livro "diferente" é não me envolver com a história, a escrita ser maçante e eu não conseguir avançar na leitura. Às vezes não me sinto "inteligente o suficiente" para encarar uma obra de ficção científica, por exemplo, mas isso é besteira minha, é claro, já que o bom autor me deixaria bem situada dentro do universo dele. E Matéria escura tem tudo que eu, não habituada a ler livros assim, preciso para ler loucamente sem precisar ser tão didático ou me fazer sentir subestimada.

Começar a história num ambiente familiar, comum e rotineiro facilitou muito meu envolvimento com a trama, sem dúvidas. Jason, o protagonista, tem uma vista confortável com sua esposa e filho adolescente, apesar de não ter sonhado com isso quando era mais jovem. Tinha o desejo de se dedicar às pesquisas científicas, mas acabou optando por construir sua família com Daniela. Hoje ele é professor em uma universidade, mas quem sabe o que ele poderia ter se tornado se continuasse se dedicando à ciência? Contra sua vontade, ele vai acabar descobrindo e vai se deparar com muitas coisas que compõem um simples "e se".
Jason é humano e simpático, então é natural se afeiçoar a ele e criar empatia. O fato do autor trabalhar a ficção científica através da física quântica num romance, levando em consideração o fator humano-emocional me cativou muito mais, pois juntou a novidade para mim com o que já me é familiar. Não tive dificuldades em acompanhar o desenrolar do enredo e era impossível parar de ler. Todas as explicações são plausíveis e levam o leitor a reflexões muito importantes, sem contar a narrativa totalmente visual - era como se eu estivesse assistindo uma série enquanto eu lia. 

Sério, o livro é tão bem desenvolvido que eu só conseguia ler e pensar na genialidade do autor para compor uma obra tão completa e instigante. O livro é surpreendente, porque ele fixa a ideia de que há uma infinidade de possibilidades. Toda a parte técnica é muito bem explicada e acessível, porque a ideia "matéria escura" realmente existe e como é bom ler livros que, além de proporcionar uma ótima experiência de leitura, também ensinam alguma coisa, né?

Mais do que indico, mesmo que você nunca tenha lido um sci-fi. Assim como mais do que indico para quem já ama o gênero. É, definitivamente, um livro interessante para todos os gostos. A edição física tem capa dura e está linda.

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A química que há entre nós - Krystal Sutherland

Quando terminei este livro, fiquei sem saber muito bem se tinha amado muito ou não gostado. Foi uma leitura diferente, difícil de classificar. Marquei muitas passagens, me envolvi na história, gostei dos personagens e do desenvolvimento do enredo, mas não teve algo arrebatador que eu consiga destacar como o grande atrativo do livro ou algo que me impulsionasse a ler sem parar. Ao mesmo tempo, a história não apresentou nada que deixasse a leitura cansativa ou me fizesse querer desistir. Foi como ler um livro do John Green - e eu definitivamente gosto das obras dele - e não saber explicar, só sentir. É o tipo de narrativa e construção de enredo que só lendo para saber se você vai gostar ou não.

Já que falei do John, não teve como não pensar em Cidades de Papel... Primeiro por Grace Town. Ela me lembrava muito a personalidade misteriosa da Margot. Depois vem Henry totalmente instigado a desvendá-la e seus amigos com suas particularidades (ah, como eu adorei conhecê-los!). Apesar de certas semelhanças, acredito que a abordagem em A química que há entre nós seja mais real, atrativa e menos aventureita. Henry vai delineando suas descobertas após fazer a constatação que está realmente apaixonado pela Grace que, por sua vez, não deixa muito claro o que quer ou o que sente. E obviamente acaba por atiçar ainda mais a curiosidade do pobre garoto (sim, gente, tadinho).
Muz  sussurrei ao chegar à casa de Murray e começar a bater na janela de seu quarto. Ninguém respondeu, então levantei a janela, me reboquei para dentro e peguei no sono, sozinho e totalmente vestido na cama de Murray, pensando em Grace Town e em como, se as pessoas realmente eram formadas de pedaços do universo, sua alma era feita de poeira de estrelas e caos.
Olha, bem incomum o que vou falar, mas se você gosta de twitter, acho que vai gostar muito do livro. É bem aquele clima de tá tudo dando errado e a gente tá fazendo meme. E, sim, Henry entende de memes. Ah, isso é fundamental né nom. O livro tem um humor depreciativo, uma melancolia trágica e bem humorada. Agora, se você gosta da outra rede, acho, sinceramente, que não vai curtir. A história não tem aqueles clímax explícitos que os textões trazem. Não é uma história óbvia, é cheia de simbolismos e reflexões. Os personagens não são os populares ou totalmente losers, são aqueles aquém dos grupinhos, com uma linguagem que só eles entendem.

Eu marquei o livro como favorito, mas sei que não vai funcionar para todo mundo, por isso uma indicação bem precisa assim. Vale muito a pena ler, marcar quotes, amar os pais do Henry e ficar em dúvida se dá pra torcer pelo casal ou não, já que parece indiferente o desfecho disso. O importante aqui é o que desenrola entre a chegada de Grace até Henry aprender a lidar com tudo que sente. Nesse meio, ele vai desvendando os segredos dela, entendendo o por quê das roupas masculinas e a predileção por não lavá-las e, ok, cheirar um pouco mal. Mais do que isso, Henry vai tentando entender tudo que ela provoca dentro dele, já que nunca havia se apaixonado dessa forma.
(...)  Você não pode projetar suas fantasias nas pessoas e esperar que elas cumpram o papel, Henry. As pessoas não são recipientes vazios para você encher com seus devaneios.
Ai, realmente não sei o que falar desse livro, mesmo estando no quinto parágrafo, parece que não foi o suficiente, mas é fato que funcionou muito comigo e mesmo sem ter uma grande sacada ou algo transformador, é um tipo de leitura que gosto de fazer e sinto falta desde que li (quase) todos os livros do John Green. Há tempos eu não marcava tanta coisa num livro nem me sentia como o protagonista, fazendo o famigerado papel de trouxa. 

Boston boys - Giulia Paim

Boston boys parecia o remédio certo para me curar de uma ressaca literária no começo do ano: história jovem, uma banda famosa e uma garota nem aí para eles que é obrigada a conviver com um dos garotos. Sim, ainda tenho uma quedinha por histórias envolvendo ídolos + pessoas comuns, mesmo que ainda não tenha achado um arrebatador que suprirá minhas expectativas. Porque não, Boston boys nem chegou perto de ser uma leitura agradável. Pelo contrário, me irritou. Vou explicar, claro.

Muitas coisas me incomodaram nesta história e vou começar pela protagonista e narradora da história, Ronie. A sensação que me acompanhou durante toda a leitura foi a histeria dela. Não sei como explicar direito, mas parecia que ela estava sempre gritando ou brava ou reclamando de forma agitada. Ela é extremamente dramática e isso poderia dar um ar mais engraçado (que acho que era a intenção) se fosse de forma mais moderada, mas acabou ficando cansativo. 

Depois, veio a mãe dela. Já é estranho que ela tenha mudado não só de emprego, mas também de profissão há meses e as filhas não estavam sabendo, aí a mudança só é avisada quando surge a "necessidade" de Madson - um dos garotos da banda - morar com elas. Imagina agora uma mãe que é super dura com a filha e recebe o novo morador como uma eterna visita, obriga a filha a fazer as vontades dele, além de outros caprichos e tá sempre contra a filha nas discussões entre eles. E a filha tem que aceitar e "servir" o garoto. Para completar o combo, ainda é bem avoada e comete umas irresponsabilidades.

Madson é folgado. Tudo de chato dele que vem depois surge daí. A irmã de Ronie, Mary, tem 11 anos e não entendi se ela é infantilizada demais ou subestimada, porque ela desenvolve uma paixão por um dos integrantes que, a princípio, parece ser inofensiva, mas de repente eles estão escondendo as coisas dela por medo de que ela fique magoada e eu fiquei ????, depois ela tenta boicotar um encontro do garoto e acho que faltou limites, porque né... Ainda tem uma fã stalker que muda de cidade atrás dos garotos - ela é adolescente, veja bem -, faz ameaças à Ronie, está sempre à espreita, no quintal, no gramado vizinho, no shopping... Assim e tudo bem. Nenhuma consequência, nenhuma denúncia, nenhum medo de nada.

Tudo dá errado no livro por ele ser inverossímil. Foi tanta incoerência junta que nada tem credibilidade, tudo é questionável e digno de revirar os olhos. Não há qualquer profundidade nos personagens, tudo é tentativa - que acaba não dando certo e se torna um ponto negativo. Não poderia faltar a representação da família no livro, aí ela tá lá - os adultos são tão irresponsáveis, imaturos que não dá. O ambiente escolar é totalmente desestruturado. A fama dos garotos é enorme, mas lá estão eles transitando tranquilamente, indo no shopping e tendo uma multidão pedindo fotos, mas conseguindo comprar pipoca, assistir o filme, entre outras coisas. O livro parece uma fanfic onde só se vai escrevendo sem muito compromisso de fazer aquilo parecer real, como uma fantasia adolescente com sua banda favorita. Toda a ideia do livro é muito boa e atraente, mas o desenvolvimento não deu certo pra mim.

Agora uma coisa que me incomodou mesmo foi uma passagem em que saem algumas notas em um site de fofocas e uma delas é sobre Ryan e Henry, dizendo que ambos estão tendo um relacionamento. Quando a pequena (?) Mary pergunta se é verdade, toda chorosa, Ryan diz "eu sou macho". Mais especificamente "(...) Pequenininha, eu sou macho! Nada contra quem é, mas... eu sou macho! Macho mesmo!". Espera, que ano é hoje? Um livro para adolescentes reproduzindo este tipo de comportamento é bem triste. Acredito que faltou cuidado na edição, porque é a segunda vez que me deparo com algo assim (assunto para outro post). Aí, como se não bastasse o cara falando isso, lá está a garotinha reproduzindo a fala e depois ainda tem um "Ah, então foi só um boato... Menos mau, né?". Não dá.

Os acertos estão em não forçar romance, coisa que eu jurava que ia acontecer - estava errada, amém -, a escrita da autora que é muito fluida, fácil de ler e se ambientar, além do humor de certas cenas. Então sem dúvidas eu leria outras histórias da Giulia, mas esperando mais maturidade na construção do enredo. Não deu dessa vez, mas sei que a história pode (e muito!) divertir os leitores mais jovens que procuram algo leve.

Mini-opiniões: Domados pelo destino - Sheila Guedes

Maysa é forte, destemida e sabe bem o quer. Dona de uma beleza impactante é conhecida na faculdade pela personalidade marcante, mas o que ninguém sabe é que essa mulher que mais parece um furacão tem pavor de perder o controle da sua vida.
Ian é um estudante de direito e surfista nas horas vagas. Pegador assumido, vê sua vida mudar completamente quanto conhece a intempestiva Maysa.
Desde o primeiro encontro a relação dos dois é intensa, mas o ciúme que sentem um do outro - e um terrível mal entendido - os separa.
Será que os anos de separação modificaram a maneira de cada um encarar a vida?
Será que a saudade massacrante os ensinou algo?
Será que a paixão que os uniu um dia é capaz de restaurar a confiança na relação ao ponto de reconcilia-los?
Depois de algumas mudanças (internas), fiquei bem chatinha para leitura. Começo vários livros, mas poucos me prendem o suficiente para eu concluir a leitura - sendo a experiência boa ou ruim. Com isso, quando eu pego um livro que me faz perder a noção do tempo, querer sempre um capítulo a mais e traz aquela velha sensação - hoje rara - de ler compulsivamente, é porque ele tem seu mérito.

A história de Domados pelo destino é intensa, Maysa e Ian vivem um relacionamento visceral - daqueles cheios de mal entendidos, orgulho e maturidade. Parece contraditório ter essas duas primeiras características junto da maturidade, mas a narrativa é no presente, onde os personagens têm a oportunidade de olhar para trás, contar o que os levaram até aquele momento em que estão separados. Muita coisa mudou entre o início, o fim e o que veio depois, mas o amor é atemporal. Entre ressentimentos e inseguranças, lá estão eles tentando, de uma vez por todas, arrumar as coisas e retomar tudo que haviam perdido nesse furacão que foi a relação (aff, não queria mesmo tantos "ão" na frase, mas nem o dicionário de sinônimos ajudou).

A autora conduziu tudo com tanta perfeição que não questionei em nenhum momento as escolhas dos personagens ou o caminho que tudo estava tomando. Está tudo muito crível e equilibrado, não faltam cenas românticas ou de brigas - eu reclamei do excesso de idealização no outro livro -, os personagens secundários são interessantes e necessários, realmente não há nada que tenha deixado a história maçante ou desinteressante. Tudo soma ao objetivo final. Os inícios dos capítulos tem trechos de músicas e outros textos que continuo amando fortemente, além da narração dupla: Ian e Maysa. Detalhes que enriqueceram ainda mais a obra.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA EU AMEI MUITO MESMO REAL OFICIAL

Sério, se você gosta desses livros intensos, com romance e tretas, vem ler esse aqui.

Links: Skoob | Amazon

(este mesmo conteúdo foi postado no meu instagram @ceilem)

5 livros juvenis para ler em um dia

Eu amo listas, mas confesso que minha criatividade para elaborar novas anda em falta. Eu olho para a minha estante de lidos e não consigo achar um assunto em comum para relacioná-los pessoas sem inspiração me add. Mas mexe daqui, mexe dali, acho que encontrei alguma coisa.

Não custa lembrar que são livros jovens, com narrativa leve e com atrativos específicos para despertar a imaginação desse público - algumas coisas realmente não aconteceriam na vida real, mas certas facilidades e conveniências são totalmente aceitas aqui, desde que naquele universo criado (seja pelo autor ou pela mente do leitor) seja possível.

Ela está em todo lugar - Cherie Priest

Ela está em todo lugar foi uma das maiores surpresas literárias que já vivi. Eu tenho uma mania de sempre ler a primeira página de um livro que acabou de chegar, independente do que estou lendo (a menos quando chega uma caixa cheia deles, claro) e foi assim com este livro também. A diferença é que não consegui largar até terminar tudo e sair espalhando por aí o quanto ele é maravilhoso. É uma história de mistério, investigação e suspense a partir da morte de uma garotinha - chorei muito logo no primeiro capítulo. Mas posso falar que é fofa sem parecer mórbida? Posso sim, porque é! Porque, impulsionando o início da jornada da protagonista, está a amizade. Livy e May se conheceram na escola e criaram juntas a Princess X - uma desenhava, enquanto a outra escrevia. Porém, em um trágico acidente de carro, Livy e sua mãe morrem, deixando May totalmente devastada. Passados três anos, May volta à cidade para visitar o pai e encontra pôsteres e outros materiais com a imagem da Princess X - o que choca a garota, uma vez que só as duas sabiam da personagem. Ao pesquisar sobre, May encontra um site onde é postado regularmente a história da Princess X. É aí que ela decide procurar pistas nos quadrinhos, pois passa a desconfiar que sua amiga não morreu. A mistura da narrativa em texto e quadrinhos dá uma dinâmica ainda maior para o livro que já é bastante instigante. Não consigo nem escolher uma parte ou outra como favorita, ambas se complementam muitíssimo bem e eu só queria seguir mais pistas e solucionar o mistério.

Como ficar com Rick - Julie Fison

Como ficar com Rick é um livro diferente e conheço somente mais um nesse estilo (que é, inclusive, direcionado apenas para o público adulto). Kitty está diante de um dilema: ir acampar com as melhores amigas conforme o combinado ou ir para o Portal do Paraíso com uma menina popular do colégio com quem não tem amizade, mas é onde Rick, seu crush há meses, estará. A novidade começa aí: quem vai escolher o próximo passo é o leitor. Se você quiser isso, vá para a página tal; se você escolher aquilo, vá para tal. E a história vai seguindo a partir dessa e outras escolhas. Além desse dinamismo na leitura, a história é uma gracinha e tem um clima bem gostosinho de férias. Claro que depois de terminar a história escolhida, você acaba lendo a outra opção que é igualmente divertida.

Amanhã você vai entender - Rebecca Stead

Amanhã você vai entender é, entre os livros listados, o que mais requer atenção na leitura - a trama é um pouco mais densa, apesar da escrita simples, poética e inocente já que a narradora tem apenas 12 anos. Miranda e Sal eram inseparáveis, mas um dia quando voltavam juntos da escola, um garoto bateu em Sal do nada e a partir daí, ele se afasta totalmente da melhor amiga sem dar explicações. Coisas estranhas começam então a acontecer: sua chave de casa some, ela começa a receber bilhetes enigmáticos e o garoto que bateu em Sal parece mais presente onde ela vai. O livro tem uma delicadeza na escrita, um cuidado que vemos até nos títulos dos capítulos. Não sei dizer o que me prendeu mais: as reflexões sutis que a obra traz ou a ânsia de montar o quebra-cabeça inteiro para desvendar a história. É o tipo de livro que encanta, vamos lendo sem saber muito bem o que esperar, só vamos nos deixando conduzir rumo ao desfecho e aí tudo faz sentido e dá até vontade de reler para observar melhor as pistas deixadas na narração. 

Disaster baby - Lilian Iaki

Disaster baby eu recebi de surpresa e naquela coisa de ler a primeira página, li o livro inteiro no mesmo dia. Além da história envolvente, a formatação do texto tem um espaçamento maior e possui algumas ilustrações. O início da trama acontece quando a protagonista está sentada na mesa de um barzinho em São Paulo esperando o cara com quem tá ficando. Ele simplesmente não aparece e é então que surge Olhos Verdes, alguém também sozinho ali bem disposto a ouví-la. Com esta introdução, a história parece adulta demais para esta lista, mas é quando a garota começa a explicar porque sua vida amorosa é um desastre que vamos mergulhando nas suas lembranças: o primeiro beijo, a primeira vez que se apaixonou por alguém e como tudo sempre acabou da forma errada. Ela é bem dramática, claro, mas quem passou por essa fase de descobertas sem se sentir perdido, né? A narrativa se passa em uma noite com vários flashbacks, o que torna a leitura rápida, dinâmica, mas um pouco superficial. Pra mim, a leitura foi nostálgica por já ter passado por esta etapa há anos e foi uma delícia revisitar minhas próprias memórias.

Primeiro amor - James Patterson e Emily Raymond

Eu só lembrei de Primeiro amor quando olhei a estante do Skoob procurando os livros que eu li em um dia. Ainda lembro do momento que fiz a leitura e da história, o que é um ponto bem positivo para um livro mediano/bom. Eu considero este livro uma versão juvenil e mais inocente de Entre o agora e o nunca (que é maravilhoso, né?). Axi é uma garota bem certinha com uma vida marcada por trágicos acontecimentos enquanto seu amigo Robinson é totalmente diferente e ela mesma o apelidara de cafajeste. Numa súbita vontade de sair daquela bolha, Axi convida o amigo para sair em uma road-trip, mas nada politicamente correta. Ambos partilharão aventuras e descobertas, além de momentos  tristes e delicados. Apesar de eu ter falado que o livro é mediano, a leitura é bem agradável, só não dá para exigir muito, sabe? Acho uma ótima escolha para distrair, sem contar que a trama é recheada de sonhos jovens e tudo é bem vívido.