Olhei pela varanda e o Sol estava muito forte. Não sei estava disposta a virar camarão na areia da praia. Resolvi ir pra piscina do hotel mesmo, lá eu poderia nadar sem ondas assassinas e vizinhos toscos. Pelo menos era o que eu achava.
- Por nada. - Ah, era só o que faltava! Virei e fiquei encarando aquele traste em forma de deus grego. - Hum, já ia pedir mesmo para você dar uma voltinha - disse ele me medindo dos pés à cabeça.
É sério que aquele cara que me salvou, todo cauteloso e preocupado, era o mesmo debochado que estava ali na minha frente?
- Qual é a sua? - Nossa, me senti a adolescente idiota falando isso, mas foi o que saiu da minha boca antes de eu virar e entrar na piscina. Eu precisava disfarçar a vermelhidão do meu rosto e acho que a água fria seria boa pra isso.
- Você vem perguntar qual é a minha? Quem te salvou ontem? Quem te carregou para o quarto enquanto você parecia uma pata afogada?
- Eu não pedi pra você fazer nada disso! - Pronto, eu estava fazendo justamente o que ele queria. Ele conseguiu minha atenção.
- Ah, então eu tinha que te deixar morrer afogada? Isso era bem tentador, mas não queria ficar com peso na consciência quando encontrasse seus pais no elevador, sua mal-agradecida! - Por mais idiota que ele fosse, eu poderia deixar isso claro em outro momento, não quando ele estava pedindo reconhecimento. - Aliás, cadê aquele seu namorado não-encoste-na-minha-mina? Ele é tão mal-agradecido quanto você, mas um pouco mais otimista. É séro que ele achava que tiraria você da água enquanto cantava umas meninas do outro lado da rua? - Fiquei olhando incrédula para ele. O discurso não ia terminar tão cedo. E eu não estava afim de ouvir. Saí da piscina e me enrolei na toalha. E ele continuava: - Estou inconformado que molhei toda minha roupa, enchi meu tênis de areia enquanto ele tinha o poder de tirar a água com a força do pensamento. - O sarcasmo escorria das palavras dele. Eu estava ficando ainda mais irritada ao ouví-lo falar do meu ex como se fosse atual (mas o que ele iria pensar de um cara que viaja atrás da menina e não larga do pé dela?).
- Ele não é mais meu namorado faz tempo, cala a boca! - Não sei como ainda me surpreendia com as idiotices que saíam da minha boca.
- Porra, ainda bem, porque... - eu seu que era uma péssima ideia e iria me arrepender no momento em que fizesse, mas ele precisava parar de falar. A voz dele estava me irritan...
Nem em todas as baladas que fui tinha provado lábios tão macios como aqueles! Fui impulsiva, porque logo já estava pensando na vergonha que seria quando ele me empurrasse para longe me chamando de louca, mas fiquei realmente surpresa quando ele segurou minha nuca e me puxou mais para perto, enlaçando minha cintura com um braço.
Seu toque era quente e meu corpo gritava por mais - depois de quase um mês de férias reprimindo a atração que sentia por esse cara tão grosso ao mesmo tempo que gentil. Estava me sentindo confortável demais ali, despertando inclusive meus pensamentos impublicáveis e era bem difícil manter só na cabeça aquelas coisas enquanto ele descia a mão pelo meu quadril, me puxando para ainda mais perto do seu corpo. Sinceramente, não conseguia imaginar como ficaríamos mais próximos que aquilo. O beijo foi ficando mais intenso e eu estava perdendo o fôlego quando ele se afastou um pouquinho da minha boca e mordeu de leve meu lábio inferior. Eu estava tão envolvida naquele beijo que inclinei ainda mais minha cabeça para não perder o contato. Estava bom demais! Ele então afastou o cabelo molhado do meu ombro e deu beijos suaves no meu pescoço, demorando um pouco mais algumas vezes. Eu arfei quando minha toalha caiu e pude jurar que suas mãos vacilaram e pude ouvir sua respiração ainda mais intensa perto da minha orelha.
Eu sabia no que aquilo iria dar, mas deixei rolar. As coisas não avançariam muito mais, já que estávamos na área da piscina do hotel e a qualquer momento alguém poderia chegar para um mergulho - mesmo o hotel estando quase deserto. Seus lábios voltaram a encontrar os meus e ele me puxou com certa firmeza para um canto onde ficava o hall da sauna. Se eu imaginava que as coisas não poderiam ficar mais quentes, estava totalmente enganada. Enquanto me beijava, suas mãos passeavam pelo meu corpo e ele me pressionava contra a parede. Aproveitei a oportunidade para explorar todo aquele corpo que parecia me desejar tanto. Eu sentia que ele estava tão "empolgado" quanto eu e foi aí que me lembrei das câmeras. É, não sei da onde surgiu esta lembrança importuna, mas fiquei totalmente constrangida só de imaginar alguém vendo aquele momento tão íntimo.
Não queria, mas com as mãos em seu tórax, o afastei sutilmente, terminando nosso beijo. Fiquei sem jeito quando ele estreitou os olhos ao olhar para mim com um leve sorriso nos lábios. Mas agora estava feito: eu demonstrei que era realmente afim dele - e, depois desse momento maravilhoso, fiquei me questionando por que disfarcei tanto meu interesse, mas não foi difícil achar a resposta, já que ele fazia questão de se manter distante de mim, talvez porque meu ex não saísse do meu pé.
- NOSSA! - foi tudo que consegui dizer. Eu estava sorrindo e ele riu quando me abraçou de novo, mas desta vez de uma forma mais carinhosa, sussurrou algo como "porran" e beijou meu cabelo. OK. O que a gente faria agora? Só sabíamos conversar através de provocações e insultos, mas isso estava fora de cogitação por motivos óbvios.
- É... vamos subir? Acho que temos que conversar, né? - Felizmente foi ele quem falou, pois talvez eu, madura como sou, sairia correndo para meu quarto e teria ficado relembrando disso sem a menor chance de encará-lo de novo.
**************
Já fazia três meses que estávamos namorando. Tudo de negativo que eu pensava dele se desfez no momento em que voltamos para casa - para minha sorte, ele não morava muito longe de mim e era um verdadeiro gentleman, o namorado que eu sempre quis. Não fiquei tão surpresa quando ele falou que meu ex o havia procurado após o "resgate" para falar que eu era dele e fez umas ameaças "másculas", fazendo-o acreditar que estávamos juntos nas férias (e não que ele havia viajado para tentar reatar o namoro).
Estava terminando de secar meu cabelo quando meu celular tocou. Era meu ex para avisar que estava passando "por acaso" no meu bairro e queria me entregar um negócio. Até parece! Dele eu não queria nada, a última coisa que tinha me dado de surpresa tinha sido bem desagradável: um par de chifres! Desci fazendo uma prece silenciosa para meu namorado chegar logo e sairmos, mas assim que abri o portão, dei de cara com um buquê de rosas e meu ex com cara de arrependido. Ele não tinha desistido como eu havia pensado. Quando abri a boca para dispensá-lo, meu príncipe com cara de modelo internacional (sou babona mesmo!) estacionou o carro e me olhou sem entender.
- Oi, amor! - dei um selinho empolgado demais. Antes de ficar um silêncio constrangedor, meu ex que olhava desconfiado para meu namorado falou:
- Você não é...
- Sou, sou o namorado dela! - ele disse sem deixar o outro terminar a frase.
Sorrindo orgulhosa e sem graça ao mesmo tempo, me despedi e disse que precisava mesmo ir. Pela cara que fez, acho que ele finalmente desistiu de mim.
Já no carro, meu namorado perguntou:
- O que ele queria?
- Não sei, você chegou antes dele falar - não consegui segurar o riso.
- De nada.
- Pelo quê?
- Te salvei de novo, mal-agradecida!