Mini-Opiniões: Kriguerkan - Wesley Nunes

Mini-Opiniões é uma coluna original do blog português Estante de Livros, adaptada aqui para o blog.

Kriguerkan conta a história de um rei que decide passar seu trono ao se dar conta de que a velhice lhe havia alcançado. Pai de dois filhos, o rei decide coroar aquele que for merecedor de sua coroa, não necessariamente um dos dois. O que significa que todo o reino é convidado para um grande desafio: se tornará o braço direito do rei, aquele que encontrar o melão capaz de mais lhe agradar. Com este desafio peculiar (e por que não dizer esquisito), as aventuras pelas terras de todos os deuses têm início. Narrado em terceira pessoa, Kriguerkan é um livro juvenil de leitura agradável e divertida. O autor foi bastante perspicaz nas mensagens inseridas nas entrelinhas, proporcionando ao leitor não apenas diversão, mas também ensinando lições e valores. As personagens são carismáticas, os diálogos simples e gostei bastante da leitura. Porém alguns detalhes sobre a edição não me foram muito agradáveis. As páginas são brancas e a fonte diminuta um pouco incômoda. Além disso, os capítulos longos se tornam cansativos. No geral, minha avaliação é de três estrelinhas e indico a leitura. Levei em consideração a auto publicação e, claro, os recursos limitados para que houvesse uma excelente edição. Kriguerkan, a meu ver, é para um público mais jovem e um ar familiar de livros de fantasia. Como livro de estreia do autor, este trabalho está digno de elogio e com um texto cheio de criatividade.

P.S.: Os interessados em adquirir um exemplar, entrem em contato conosco que passamos o e-mail do autor. Clique para adicionar no Skoob.

A Primavera Rebelde - Morgan Rhodes

De uma jovem ingênua e mimada, Cleo se tornou uma princesa ardilosa e inteligente, disposta a ter o seu reino de volta.
Para ter a Tétrade e, assim, dominar o mundo, o Rei Sanguinário, Gaius, está construindo uma estrada que passa pelos três reinos. Em seu belo e sofista discurso aos Auranos ele promete paz e prosperidade, e desde que a boa vida da rica Auranos não mudasse tanto, eles não se importariam com o novo governo realmente. Ao contrário de Paelsia, que além de não ter escolha, precisa ver o seu povo ser levado escravo para a construção dessa estrada.

“Até então, seu pai considerava Cleo um símbolo de sua nova e frágil posse de Auranos. Apesar de sua reputação conhecida de rei violento que distribuía punições sem misericórdia, o rei Gaius desejava ser respeitado e admirado por seus novos súditos, não temido, e os estava bajulando com belos discursos e promessas grandiosas de um futuro brilhante. Tais cidadãos seriam muito mais fáceis de controlar — principalmente com o exército limeriano agora disperso pelos três reinos —, e o rei acreditava que isso reprimiria qualquer anarquia, além de alguns poucos e escassos, porém problemáticos, rebeldes.”

E como se a vida de Cleo não estivesse ruim o bastante se vendo presa em seu próprio castelo e sendo usada como símbolo do antigo governo, ela ainda precisa aturar o seu iminente casamento com... Magnus. É, o rei Gaius sabe bem o que faz, até mesmo para manter o povo apaziguado. Isso não faz Cleo desistir, muito pelo contrário: agora está muito mais determinada a descobrir como destruir aquele rei que matou sua família e tomar o seu trono de volta.

Entre ataques rebeldes, vigilantes observando e interferindo, uma feiticeira em coma e um príncipe que quer apenas agradar o pai, o Reino de Mítica segue o seu curso para um caminho desconhecido e talvez sombrio.

“Três garotos com a vida inteira pela frente — agora silenciados para sempre por dizer algo diferente do que era permitido.”

Antes de mais nada, esse segundo volume chamou mais a minha atenção do que o primeiro. Fazia tempo que eu não lia um livro tão rápido, e “A Primavera Rebelde” fez isso em mim. O prólogo é um bom exemplo, já que começa com uma boa ação, mistério, e um tantinho de ódio por aquele novo rei.E o livro inteiro é mais ou menos assim, com ações imprevisíveis, decisões chocantes e mortes... bem, digamos que essa autora, também não tem pena de matar. Ainda assim o que mais me decepcionou foi o amor não correspondido. Puxa, acho que de tantos possíveis casais, apenas um (talvez) se forma. É, acho que romance não faz parte da história :( Vou ter que me acostumar.

Agora, voltando aos personagens em si... Como já disse mais à cima (alguém lembra que na última resenha eu disse que Cleo era uma completa idiota às vezes?), Cleo tomou uma posição e está raciocinando melhor sobre seus passos. Sem burradas dessa vez para a princesa. Infelizmente quem não está agindo com a devida eficácia é Jonas, que só não ataca com mais ferocidade o reinado de Gaiusporque teme a morte de seus rebeldes, ainda tão jovens... Pelo menos ele perdeu aquela obsessão vingativa pela princesa e está seguindo o caminho que devia ter seguido desde o início. Ao contrário de Magnus (sim, continuo gostando muito dele), que quer cada vez mais se parecer com o pai e agradá-lo. O alívio é que seu coração continua o mesmo. Na verdade o coração que está se enegrecendo cada vez mais é o da doce Lucia, em que a magia toma cada vez mais conta. Se não houver algo que detenha isso, ela poderá nunca mais ser a mesma.

Talvez esteja, para mim, mais fácil escolher um lado (Cleo!), porém como haver uma solução para Magnus e Lúcia também? De qualquer forma tudo isso torna a história mais emocionante, cativante e muito inesperada. Pode acontecer de tudo, com qualquer um, e apenas ler os próximos livros pode dar ao leitor uma resposta. Cada decisão desdobra um acontecimento, e cada ato um desastre. É, nem preciso falar o quanto me apaixonei! Para aqueles que conseguem ler sabendo que não tem nenhum controle sobre a história (nenhum controle mesmo, nem “ah, tomara que eles fiquem juntos), ou não, bem, é um desafio gostoso de aceitar.

[vídeo] Minhas leituras de fevereiro e março

Demorei pra gravar este vídeo, mas aí está.


Este vídeo é inspirado na coluna "O que andei lendo" do blog garotait.com.br

Enders - Lissa Price

Com um enredo um pouco lento, esse livro fecha a duologia começada em Starters. Eu não vou dizer que foi ruim, mas que a Lissa poderia ter caprichado mais... isso podia.

Depois dos eventos finais de Starters - que tiram o fôlego de qualquer leitor - Enders se incia com Callie vivendo na mansão herdada com seu irmão Tyler e seu melhor amigo Michael. A vida estava sendo muito boa, mas Callie sabia que destruira apenas a pequena ponta do iceberg que era a Prime Destinations.

Quando o Velho volta a falar na mente de Callie, a garota percebe que nunca irá se livrar totalmente da guerra na qual entrou, e que se quiser ganhá-la, terá que lutar novamente. Tentando de todo o jeito retirar o chip implantado em sua cabeça - o que pode custar sua vida - Callie quer desvendar tudo o que se encerrou em mistério no primeiro livro e, acima de tudo, quer descobrir a real identidade do Velho, a pessoa que ela mais odeia no mundo. O problema é que ela não pode confiar em ninguém, por experiência  própria, já que ninguém é realmente o que parece ser nesse mundo novo, e falhar não é uma opção.

Minhas expectativas pra Enders eram altíssimas, e talvez por isso eu tenha me frustrado um pouco. É claro que o livro não é ruim, pessoal! Nem de longe. O problema é que eu estava esperando um final de série estrondoso, mas o que Lissa me apresentou foi uma coisa um pouco menos estrondosa e com mais cenas de conversas e com aquelas cenas de ação que já sabemos onde vai dar. A escrita da autora não melhorou nem piorou, só achei que parecia um pouco mais corrida do que em "Starters".

Os personagens não mudaram muito desde Starters, e Callie, para mim, estava bem mais legal! Além disso, gostei muito do personagem Hyden, que é introduzido nesse livro, carregado de mistério. Michael continua sendo aquele personagem meio desnecessário, mas que está ali e ajuda de vez em quando. Agora, vamos falar sobre O FINAL. [AAAAAAAAAAA] Por que o final foi tão fraco? Por que, Lissa? Tinha tanto potencial, o livro estava sendo muito bem conduzido. O problema foi que eu vi que tinha muita história ainda e só mais umas 30 páginas, e comecei a ficar desapontado. Quando li as 30 páginas finais, que decepção! Nada a ver o modo como tudo foi solucionado, além do que já estava ali, jogado, bem na cara do leitor, sem nenhuma grande novidade, o que iria acontecer (e que, na verdade, já vinha sendo anunciado desde a metade do livro).

O livro, em si, é muito legal, mas peca em alguns momentos. O fechamento da série foi bom, e preferi assim, com uma duologia, do que uma série gigante que perde o fio da meada na metade, nisso Lissa merece palmas. Mas o que - de verdade, verdadeira - me incomodou DEMAIS nesse livro foi a tradução e a (quase ausência de) revisão. Eu juro que não sei o que aconteceu com esse livro, mas tinham frases com erros gritantes e em muitos momentos! Faltou uma atenção maior por parte da editora.

Deslumbrante - Madeline Hunter

"Numa época em que a reputação de uma mulher é o seu bem mais precioso, Audrianna desafia todas as convenções. Ela é uma jovem determinada, independente - e disposta a tudo para aniquilar o seu adversário, o convencido Lord Sebastian Sommerhayes. Entre os dois está um homem - o pai de Audrianna, que morreu envolto nas malhas de uma conspiração. Para ela, essa tragédia significou o fim da sua inocência. Para Sebastian, que liderou a investigação, foi apenas uma morte merecida. Audrianna jurou limpar o nome do pai, mas nunca esperou sentir um desejo tão avassalador pelo homem que o arrasou. A busca pela verdade vai levá-la demasiado longe numa sociedade que é implacável perante a ousadia feminina. Ao ver-se mergulhada num escândalo que pode ser fatal, Audrianna tem apenas uma inconcebível opção." Sinopse retirada do Skoob

Eu estava com saudades de romance épico (aprendi que tem diferença!). Eu li bem poucos, mas todos me deixaram apaixonadas e, aí, eu vejo o vídeo da Duda (aqui) e fico completamente louca pra ler um livro assim de novo. Recebi Deslumbrante da Leytoras e não tive dúvidas que essa seria minha leitura. Apesar do começo um pouco demorado, terminei o livro satisfeita - daquele jeito que a gente fica quando viaja para outra época e é envolta na rotina dos duques antiquados e senhoritas dispostas a provar seu valor.

Deslumbrante tem um enredo um pouco devagar, eu diria. O problema central não tem muito apelo, parece algo superficial e banal. Digamos que ele não parece tão relevante (ou a autora não soube descrever de forma que eu conseguisse sentir sua relevância). Desta forma, fiquei à espera de alguma coisa, um boom que me deixasse de queixo caído, mas como não rolou e me conformei com isso, a leitura passou a ser mais prazerosa. E, bem, devorei rapidamente a metade final do livro. Pra falar  verdade, só fui entender, de fato, A COISA toda envolvendo o pai de Adrianna quase no final, porque antes eu estava totalmente perdida. Mas ok. 

Assim, me dediquei ao romance dos protagonistas - Audrianna e Sebastian. Ele é encantador - não do tipo que corteja uma mulher, mas sua presença por si só é suficiente pra (me) enfeitiçar. Ele não se mostra o tipo de homem que se preocupa com certos costumes da época, mesmo com seu passado libertino. Já ela, apresentada como alguém forte e decidida, muitas vezes parece perdida e largada ao vento (se deixa levar~~~), enquanto em outros momentos se mostra bem independente (é mais como uma casca para esconder uma moça precisando de amparo). Sua família (mãe e irmã) aparece pouco, mas o suficiente para eu ter certa raivinha da mãe, por que ela é quase uma mercenária, só que de leve. Por outro lado, sua prima e todas as mulheres da casa em que ela mora são adoráveis, cada uma com sua história intocada e, mais importante: respeitando o espaço da outra (mesmo que as poucas intervenções sejam sutis e necessárias). 

O livro tem uma linguagem um pouco mais rebuscada - nada excessivo, mas não é a linguagem simples que encontrei em outros históricos. Claro que isso dá um charme a mais e contribui para o clima "de época" da obra. O livro tem alguns erros de revisão, mas nada que atrapalhe a leitura. Eu indico a leitura, mas não esperem algo espetacular. Só uma história gostosa de acompanhar e ~entrar no clima~ histórico.

Tabuleiro dos Deuses - Richelle Mead

Nós somos peças num tabuleiro, dr. March, e alguns de nós são mais poderosos do que outros. Você. Eu. Mae. Somos nós que os deuses querem.

Em busca de explorar novos horizontes – e um novo público –, a diva Richelle Mead resolveu apostar suas fichas no gênero policial, mas não desviando-se do sobrenatural. Seu novo trabalho, O Tabuleiro dos Deuses, aborda temas polêmicos como miscigenação racial e diversidade religiosa que, por sua vez, geraram (e ainda geram) conflitos sangrentos entre os homens através dos séculos. Baseando-se nesses dados, sua trama se desenvolve a partir da dizimação de países inteiros pelo vírus Mefistófeles, originando assim a RANU – República da América do Norte Unida (que é a junção dos EUA e Canadá) e a AO – Aliança Ocidental.

O objetivo desses governos é fazer com que, através da variação genética (cruzamento de diferentes povos, etnias, etc.), os cidadãos da RANU possam carregar em seus DNAs apenas genes fortes e dominantes, tornando-os mais resistentes a doenças e eliminar as possibilidades de haverem distúrbios genéticos (tais como: má formação fetal, síndromes, cânceres e etc.). O outro lado da moeda consiste na eliminação das religiões, fator primordial da causa do Declínio, pois os responsáveis pela disseminação do vírus foram extremistas religiosos e estes, por sua vez, passaram a ser eliminados pela RANU. Porém, alguns resistentes fundaram seitas e outros ainda lutam pela liberdade religiosa. Os poucos templos existentes são monitorados por Servidores do governo e estes prestam conta de cada banco, estátua, vaso ou qualquer que seja o bem adquirido pelo local. Normalmente os deuses cultuados são pagãos e não possuem sequer cem seguidores. Por isso ainda são permitidos.

Os protagonistas são Mae e Justin. Ela é uma Pretoriana, um tipo de supersoldado que possui um implante capaz de transformá-la numa máquina mortífera, liberando neurotransmissores que a fazem ter reflexos incríveis, além de apurar absurdamente seus sentidos. Outro detalhe do implante é que ele não a permite dormir, permitindo-a realizar seu trabalho, literalmente, 24 horas por dia. Justin é um Servidor, que é encarregado do governo para lidar com as crendices da população e investigar as fraudes e falcatruas cometidas pelos mesmos. A trama inicia-se com Mae indo ao Panamá atrás de Justin, que foi exilado da RANU após fracassar numa missão (a qual só descobrimos após muuuuitas páginas) e que está sendo recrutado novamente para desvendar uma série de assassinatos misteriosos de caráter ritualístico e fenômenos sobrenaturais que o governo julga ser obra de algum louco/fanático religioso.

Mae é uma guerreira, centrada e que na maioria das vezes aparenta mais um iceberg do que um ser humano. Justin é um conquistador cheio de charme e que tem o dom de ler as pessoas, o que o torna tão bom no que faz, por isso o governo mandou buscá-lo. Ela, sem saber que Justin é aquele que fora buscar e ele, sem saber que Mae é uma Pretoriana, acabam se envolvendo antes de descobrirem que trabalharão na mesma missão. Obviamente a tensão entre eles se ergue, tal como a muralha da China. Mae é uma aristocrata, uma mulher criada em casta, nórdica e de sangue puro e com um passado cheio de segredos. Justin é um plebeu de sangue miscigenado e apenas um Servidor. Assim, o enredo se desenvolve entre a luta de ambos contra seus sentimentos e o enfrentamento de inimigos misteriosos e perigosos, cheios de poderes desconhecidos.

Bem, Mae é uma personagem muito forte, mas ao mesmo tempo em que assusta, encanta. Ela tem seus conflitos internos e nos mostra que apesar de ser letal e da carapuça espessa e fria que precisa usar, ela tem um coração bondoso e é capaz de amar. Richelle deu uma personalidade incrível a ela e geralmente personagens femininas desse naipe me conquistam de primeira. Passei o livro inteiro imaginando Mae como a Milla Jovovich de loiro platinado. Hahahaha Justin poderia ser definido como um conquistador barato, rato de bar (existe isso?), que adora substâncias proibidas e cigarro. O odiaria o livro inteiro. MAS ainda bem que ele prova que merece um voto de confiança e acaba me ganhando também. Há ainda a jovem Tessa, uma panamenha que Justin leva consigo para a RANU para que tenha a oportunidade de obter bons estudos e uma carreira. Val e Dag, Pretorianos amigos de Mae e com quem temos vários momentos de “Mae é humana e tem sentimentos” e algumas outras personagens que não julguei serem tão primordiais para citar na resenha.

Foi bastante difícil dar uma classificação a este livro, pois nossa relação foi de Amor&Ódio. Amei os personagens, as forças sobrenaturais que impulsionavam Mae, os corvos que assombravam a mente de Justin (que devo dizer que tinham comentários sarcásticos e hilários), toda essa loucura de informações governamentais, religiosas, científicas e o ar investigativo. O grau de comprometimento da autora foi impecável, não deixando lacunas, fatos sempre embasados e interligados e uma química palpável entre os mocinhos. E essa capa maravilhosa? Confesso que tenho “QUEDONAS” por capas. Eu sei, eu sei... Não me julguem.

Em contrapartida, apesar dos vários elogios que ainda posso tecer à obra, sentia que não saia do lugar. Um capítulo parecia uma eternidade, não tinha fluidez e a sensação era de já estar na metade/fim do livro. A leitura foi agradável? Sim e Não. Difícil dizer. A verdade é que demorei alguns dias para finalizá-la, embora tivesse uma vontade imensa de saber o que vinha a seguir. Sabem o que é ter 16 marcadores em apenas 30 páginas? Pois é. Não que fossem de quotes, mas precisava assinalar cada informação para formular uma resenha que não fosse enorme e cansativa e, ao mesmo tempo, resumir o conteúdo (de 30... 30 páginas, imaginem o que ainda tem nas outras 390) sem deixar nada de fora e sem dar qualquer spoiler. O que me rendeu boas horas em frente ao computador (e ainda assim não ficando satisfeita com o que escrevi – tsc, tsc).

Para quem só conhece a Mead pela série Academia de Vampiros, vai sentir bastante diferença no tom e linguajar das personagens (nada chocante se você já leu algum livro da série da Georgina Kincaid), principalmente por terem uma faixa etária bem mais velha que os queridos Rose, Dimitri, Lisa, Christian e Adrian (esqueci alguém?). Recomendo a leitura para fãs de mistério, para quem busca novos ares, para quem deseja se livrar de uma ressaca literária e, claro, para os tietes da diva Richelle. Boa leitura e tomem cuidado porque suas mentes não estão seguras e os deuses estão de olho em vocês. Muáááááá...


A verdade é que, quando você expulsa os deuses do mundo, eles acabam voltando, com força total. Os humanos não conseguem se manter longe dos deuses e os deuses não conseguem se manter longe dos humanos. É a ordem natural das coisas. Nosso povo evitou os deuses por tempo demais e, agora, o divino está tentando voltar. É a fé que dá poder aos deuses e eles estão escolhendo seus eleitos.

Me Liga - Sarah Mlynowski

Devorah está arrasada com o final do seu namoro. Ela passou a maior parte do ensino médio com Brian e acabou se afastando das suas melhores amigas, passou numa faculdade nem tão boa assim e mal fala com sua irmã. Imagina que louco se ela conseguisse falar consigo mesma de três anos atrás e pudesse se aconselhar a não fazer certas coisas. Imaginou? Pois bem, depois de um acidente com seu celular, é isso que acontece: ela liga pra ela mesma. E assim, dá início a uma louca aventura para consertar sua vida - aquele ditado "cada um colhe o que planta" não poderia se encaixar melhor. Acontece que a Devorah mais nova que vai ter que plantar (muita mão-de-obra pra pobre coitada) e a Devorah mais velha é quem vai colher os frutos, sejam eles maduros ou podres.

Este foi meu segundo contato com a autora e eu já esperava uma leitura normal - facinha de ler, pra passar o tempo, uma lição de moral, mas nada espetacular. Não sei se foi a expectativa baixa ou o mérito é do enredo mesmo, mas fato é que adorei este livro! Mesmo não se tornando favorito, me vi envolvida página após página e morrendo de medo de que a protagonista cometesse um erro mortal. Já falei em outra resenha (O Futuro de Nós Dois) o quanto fico apreensiva quando se trata de futuro - ou intervenções no passado que, consequentemente, alteram o que vem pela frente. Mesmo sabendo que não é possível voltar ao passado e tal, ainda me corroo com essas aventuras. Confesso que fiquei assim depois que fui mãe e me perguntaram "se você pudesse voltar no tempo, alteraria alguma coisa?" e, mesmo me arrependendo de inúmeras idiotices que fiz, só consigo pensar que qualquer coisinha diferente lá atrás e eu não teria o Guh agora. Nossa, muita viagem, mas falo sério quando digo que essa coisa de voltar no tempo me incomoda (e toda essa coisa chamada "e se").

Voltando ao livro, é impossível não comparar com o primeiro que li dela, 10 Coisas que Nós Fizemos (e Provavelmente Não Deveríamos), - este que também gostei, mas não tanto quanto Me Liga. A narrativa é muito mais natural, divertida e até triste. Sim, dá pra entender a melancolia da protagonista mais velha (Ivy, que na verdade é Devorah, mas elas se apelidam pra facilitar a comunicação) ao terminar o namoro, se ver decepcionada com a relação e longe das suas amigas (as que costumavam ser, pelo menos). Já pensou se desse pra apagar o ex que quebrou seu coração? O problema é que ela "se apagou" da vida dele, mas os sentimentos continuam nela (e nunca existiram nele).  Achei a garota mais nova bem submissa - me diz quem ouve conselho pra não se envolver com alguém que tá muito afim em pleno primeiro ano? Eu a achei muito subordinada - ok, trata-se de você mesmo (a voz da experiência) - e resistente. O Brian era um fofo, como não se envolver com ele? Claro, isso foi bom para Ivy ver bem onde suas escolhas poderiam levar.

Eu não acredito muito quando as pessoas falam que um relacionamento não deu certo - mesmo que tenha durado um, dois, três anos. É bastante tempo e alguma coisa deu certo, né? Por mais infeliz que a pessoa esteja no fim do namoro, não acho que alguém fica junto durante três anos se tudo é ruim. Em algum momento eles viveram coisas boas e, bem, no caso dela, são três anos que ela aprendeu muitas coisas, sem dúvidas, então alguma coisa fica - nem que sejam maus exemplos e lembretes para nunca mais fazer as mesmas coisas (quer dizer, eu tenho milhões de post-its mentais, mesmo que, eventualmente, eu não os leia quando deveria hehehe).

Pra mim é bem complicado falar deste livro sem lembrar das minhas próprias experiências, porque passei quase que o ensino médio inteiro namorando - e sei como é, depois do final, ter a sensação de que poderia ter aproveitado muito mais esta época se estivesse solteira, porque, veja bem, me diverti MUITO com o pessoal da escola (principalmente no terceiro ano e quando fiquei ~livre, leve e solta~), mas ainda sou mais racional que a protagonista e sei que, apesar de não acreditar que fiz certas coisas quando olho pra trás, tudo aquilo valeu a pena naquele momento.

Olha só o tanto de reflexão que um livro teen, inofensivo, fofinho pode levar... mais do que indico a leitura, mesmo que seja só pra passar o tempo e a história não te traga tantas lembranças assim, porque mesmo se eu não tivesse vivido algo parecido, iria me divertir com as maluquices que as duas fazem. Se você gostou de Efeito Borboleta (eu AMO!), pode gostar também desta versão mais ~leve~, onde é possível acompanhar "em tempo real" o que as mudanças no passado podem alterar o futuro (e não só de uma pessoa, mas de todas ao seu redor).

Links: Saraiva | Skoob

A Verdade Sobre Os Contos: A Rainha da Neve


Entrando nessa onda de Frozen, decidi fazer um A Verdade Sobre os Contos de A Rainha da Neve, o conto que inspirou o filme. Ele ganhou dois Oscar®: de Melhor Filme de Animação e Melhor Canção Original, e merece ter o seu próprio post. Começando com A Branca de Neve, já passamos pela Pequena Sereia, pela Rapunzel, pela Chapeuzinho Vermelho e pela Bela Adormecida.

Já aviso desde já que o conto original do Hans Christian Andersen não tem nada de nada a ver com o filme Frozen. Ele foi livremente inspirado, o que significa basicamente que tentaram (tentaram!) manter os personagens, mas que a história em si foi quase completamente modificada. Alguns dizem que é porque a história original é um pouco macabra, mas existem algumas outras explicações.

Uma delas é que o filme ficou sendo fomentado desde 1943 pelos estúdios Walt Disney! ISSO MESMO. Desde 1943, tendo outras tentativas sido feitas na década de 90 e em 2003. Mas só deu certo mesmo em 2011, mais especificamente no mês de Dezembro, quando a Disney oficializou o anúncio que já provocava burburinhos. Imagine o quanto o roteiro deve ter mudado em 70 anos.

Outra coisa é que mesmo nessa versão mais recente do filme, que originou Frozen, deveriam existir algumas outras coisas na história, como uma profecia. Pra quem tem a trilha sonora estendida do filme, já deve seguramente ter ouvido as versões das músicas em que se falava de uma profecia lendária, o nome da música é "Spring Pageant", e ela pode ser ouvida clicando aqui. Portanto, o filme Frozen mesmo já foi bastante modificado e cortado para chegar como chegou nas telas de cinema.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa!

1. Pra começar tudo, então. Elsa e Anna existem. Né?
Tecnicamente, sim. Elsa e Anna são duas personagens que no conto de Andersen não são irmãs, e Elsa não é (tão) boazinha. Elsa, a imagem da rainha da neve, no conto se chama A Rainha da Neve, e Anna se chama Gerda. A ideia geral é de que Kristoff seja o equivalente a Kai, mas isso pode mudar um pouco aí mais pra frente.
De início, basta saber que Gerda (Anna) e Kai (Kristoff) estavam passando as férias de inverno com a avó. A avó conta a história da Rainha da Neve para os dois, e Kai pergunta para a avó se a Rainha da Neve poderia vir até eles. Ela diz que sim, e Kai então faz um "desafio" ao vento para a Rainha, duvidando de que ela conseguisse chegar até ali, porque o garoto não acredita que ela realmente exista. Entretanto, à noite, enquanto Kai se prepara para dormir, vê pela janela que a neve forma uma forma humanoide e, finalmente, forma uma rainha, inteira de neve. Ela olha para Kai, sorri, e se desfaz. Esse é o começo do conto. Nada de Arendelle, nem de pais que morrem e nem de reino com portas fechadas, nem de conceal, don't feel, don't let them know. WELL NOW THEY KNOW, LET IT GO, LET IT GO.



2. Mas e o Hans?
Exatamente! Essa foi uma das coisas que eu achei MAIS interessantes nisso tudo. O prólogo de A Rainha da Neve tem muito a ver com ele.
Antes da história de Kai e Gerda começar, conta-se que um demônio (que varia para anão ou feiticeiro malvado, em algumas outras traduções) que vivia em uma nuvem criou um espelho. Esse espelho servia para piorar as coisas ruins dos outros. Portanto, uma pessoa chata, no espelho, ficaria ainda mais chata. Uma pessoa bonita, mesmo sendo linda, teria seus pequenos defeitos piorados muitas vezes, e isso faria com que ela ficasse feia.
O demônio fica muito feliz com a criação do seu espelho, e decide então que quer fazer mais uma malvadeza: quebrá-lo em pequenos pedacinhos e jogá-lo na terra para provocar discórdia. Esses pedacinhos se parecem muito com neve. É aí que dois desses pedacinhos caem em Kai no dia seguinte a ele ver a Rainha da Neve em sua janela: um no olho e outro no coração. Imediatamente, o coração de Kai fica gelado e ele começa a enxergar apenas o lado ruim das pessoas e das coisas, sendo extremamente rude com Gerda e ofendendo-a, coisa que nunca faria na sua vida. Gerda e Kai eram muito próximos, e inclusive haviam plantado rosas juntos. Kai quebra o vaso e arranca as rosas, dizendo que elas estão muito feias e esquisitas, e Gerda, chateadíssima, deixa Kai sozinho. Ele então é raptado pela Rainha da Neve.
E O  HANS? Pois é. O Hans, pelo que eu pesquisei e estudei (e li a Disney Wiki) É UMA REPRESENTAÇÃO DO ESPELHO. O personagem foi criado para introduzir a ideia que o espelho cria no conto original. É só vermos o quanto ele é manipulador durante as cenas e etc. Achei muito legal essa ideia. Enfim, vamos seguir em frente.

É claro que ele é estranho! Ele é um ESPELHO!

3. Então é como se o Kristoff tivesse sido... raptado pela Elsa?
Sim! Kai é levado pela Rainha da Neve até o seu país longínquo, mais especificamente para o seu castelo. Como Gerda estava brava com Kai, espera uns dias até ficar realmente preocupada com o sumiço e decide sair para procurá-lo. Ela então acaba indo parar em um jardim muito bonito, onde existia uma velhinha. Essa velhinha, muito acolhedora, penteia Gerda com um pente mágico, que a faz esquecer de todos os seus problemas. Entretanto, quando Gerda bate os olhos em um roseiral, lembra-se das rosas que plantava com Kai e volta a si. Ela então foge para o bosque, onde encontra uma garota que a ajuda, diz para Gerda onde Kai está e dá um cervo (SVEN! É bem capaz que esse seja o único personagem autêntico da história, que foi mantido) seu para ajudá-la a chegar até o país da Rainha da Neve. Gerda, dessa forma, chega à Finlândia. Ainda na Finlândia, uma tempestade de neve tenta afogar Gerda, mas ela ora e fica forte e acaba passando por isso também.
Diferente, certo? Em Frozen, ao invés de Anna (Gerda) procurar por Kristoff (Kai), ela procura por Elsa (Rainha da Neve). No conto original, Gerda acaba procurando pela Rainha da Neve também, mas só porque ela estava com Kai.

Sim, Kristoff. Compartilhamos do seu sentimento.

4. Ok, isso já tá uma loucura sem tamanho. Mas e a ideia do poder da Elsa que entra na Anna e congela o coração?
É, acho que isso veio da ideia do fragmento de espelho que faz com que o Kai fique mau, na história. Por isso que eu disse que essa divisão de "A Anna é a Gerda e o Kristoff é o Kai" não é bem delimitada. Veja bem, alguns acontecimentos que ocorrem com o Kai na verdade acontecem com a Anna e vice-versa.
Como eu já disse, o filme foi livremente inspirado no conto, o que só torna a tarefa de relacionar o conto com o filme mais difícil! Mas eu acho divertido fazer essas relações e releituras, então, em frente que atrás vem gente.

Vambora!

5. Mas e aí? Como o conto termina?
Finalmente, a Gerda chega até o castelo da Rainha da Neve, mas Kai não a reconhece porque está gelado e sem vida. Gerda, então, chora e canta a música que cantava quando ainda estavam na casa da avó. Assim, Kai começa a chorar e faz com que o pedaço de espelho que estava em seu olho saia, e as lágrimas de Gerda caem no peito de Kai, fazendo com que o pedaço de espelho do coração do menino saísse.
Os dois então, por mais velhos que fossem depois de toda a aventura, continuam muito unidos, pois por mais que já fossem adultos, continuariam para sempre crianças. A Rainha da Neve não estava no castelo porque tinha ido para os países quentes, então não se fala mais dela na história. Entretanto, fica sub-entendido que Kai só melhorou porque A Rainha da Neve o sequestrou e fez com que Gerda passasse por tudo aquilo pelo amigo. Sendo assim, ela o ajudou a se livrar dos fragmentos de espelho, e fez com que ele redescobrisse o amor pela família e pelos amigos.

YAY


A QUE CONCLUSÕES A GENTE CHEGA?
- Realmente, o conto não tem muito a ver com Frozen, mas ainda assim é muito legal.
- É claro que acontecem MUITAS outras coisas com a Gerda no conto, mas não cabe aqui! O conto é um dos maiores escritos pelo Andersen, e um dos mais aclamados também.
- Esse conto também é um dos mais adaptados para cinema e televisão! Tem MUITAS adaptações, e é só você dar  uma busca no Google que acha várias online. Vou indicar algumas bem legais aí embaixo.

Livros:
- Contos de Hans Christian Andersen - Editora Paulinas
- A Rainha da Neve - Tradução de Walcyr Carrasco - Editora Manole

Filmes:
- A Rainha da Neve (Série Contos de Fadas). Clique aqui para ver. (Passava na Cultura!)
- A Rainha da Neve (2012) - Maxim Sveshnikov, Wizart Animation e Inlay Film.
- Frozen (2013) - Chris Buck & Jennifer Lee, Walt Disney Studios.

[Semana Silo] Resenha Silo - Hugh Howey

Não tenho outra forma de descrever o livro além de fabulosamente espetacular. O livro explode nas suas mãos conforme as páginas voam, e os olhos não desgrudam das páginas de jeito nenhum.

Silo se passa num futuro em que a superfície terrestre fica inabitável. Gases tóxicos e corrosivos tomaram conta da Terra. O Silo é um abrigo subterrâneo gigantesco, composto de uma escada, vários andares e, em cada andar, vários setores. Ninguém mais acredita que a superfície terrestre um dia foi habitada, e todos acham que o mundo sempre se resumiu ao Silo. Tudo é feito no Silo, desde cultivo da terra e gado até manejamento de petróleo para fazer plástico, fitas, etc. O grande problema é que, a fim de monitorar a superfície terrestre, existem sensores e câmeras do lado de fora do Silo que ficam o tempo todo buscando alguma alteração na superfície. Esses sensores e câmeras precisam ser constantemente limpos, para melhor visibilidade. Para fazer a chamada "Limpeza", existem alguns condenados por crimes contra o Silo que saem, limpam as câmeras e os sensores e acabam morrendo na atmosfera tóxica. Esses criminosos sempre são determinados pelo Xerife e o Delegado, que "combatem" os crimes contra o Silo (basicamente, qualquer dúvida de que existe alguma manipulação dentro da sociedade, qualquer desejo de sair e descobrir o que há lá fora já constitui um crime contra o Silo).

Quando o próprio Xerife pede para ser mandado para a Limpeza, a prefeita Jahns precisa encontrar alguém para repô-lo, e seguindo a sugestão do delegado Marnes, vai até as profundezas do Silo, na área da Mecânica, para propor a Juliette que assuma o cargo. É assim que Juliette se vê no meio de uma grande guerra de poderes, e se questiona se as regras e a história do Silo são realmente verdadeiras e devem ser cumpridas.

Quando li o release da história, sabia que o livro ia ser espetacular. Já sabia que podia esperar só coisa boa, até pelo sucesso gigantesco que o livro atingiu em pouco tempo. Tinha até um pouco de medo de ler, porque sempre acabo me decepcionando. Entretanto, não teve como me decepcionar com Silo! A escrita do Hugh Howey é magistral, vem com uma naturalidade gigantesca e descreve cenas e fatos de forma apurada, como se ele estivesse esculpindo uma obra de arte. Me senti envolvido pela atmosfera e pelo mundo do livro logo no primeiro capítulo e na Parte 1 como um todo, com a história do Holston e de como ele vai descobrindo as coisas devagar. O livro vai evoluindo rapidamente e não conta com nenhuma quebra na narrativa. Inclusive, tem um ritmo alucinadamente rápido, o que dá fluidez e faz com que um livro de mais de 500 páginas seja lido em pouco tempo.

O mundo que Hugh Howey criou é muito peculiar e todo bem trabalhado, bem pensado. Podemos perceber todo um cuidado do autor ao falar de algumas  partes específicas do Silo, mostrando que tudo ali foi pensado,  tudo tem uma função de ser. Nada no livro é jogado e não explicado. Os personagens também entram nessa: todos são muito bem explorados e tem seus conflitos expostos, dando uma profundidade toda nova à trama. A ideia de narrar, a partir da Parte 4, com 3 visões alternadas, faz com que o ritmo fique mais rápido, porque queremos muito saber o que acontece com determinado personagem, mas temos que esperar e ler o que acontece com os outros dois. E como a  história toda se interliga, é necessário seguir a ordem do livro.

Vou parar de falar porque não quero soltar nenhum spoiler, mas basta saber que se você entrar em Silo, por mais despretensioso que possa estar sua leitura, com certeza vai te fazer viciar e cair de cabeça em um universo novo. É super recomendado pra todos os fãs de distopia com uma pegada mais política, reviravoltas e aventura no geral. A Intrínseca caprichou e fez um belo trabalho com a edição do livro.


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[Semana Silo] Auto-publicação, pirataria e sucesso

Hoje vamos falar de um papo um pouco mais sério. Chegou a hora de nos aprofundarmos no tema de pirataria, auto-publicação, sucesso editorial e o nosso papel, de leitores, nisso tudo.


Pra quem não está familiarizado com tudo o que está rolando, vale ler o post do primeiro dia e o post do segundo dia, pra se inteirar desse universo GIGANTE chamado Silo! E pra retomar, pra quem não sabe, o autor de Silo, Hugh Howey, auto-publicou o livro, e foi dessa forma que conseguiu o sucesso que tem hoje. Um caso famoso de auto-publicação no Brasil é o da Vanessa Bosso, que faz bastante sucesso atualmente, e o atingiu da mesma forma que o Hugh: através da auto-publicação na Amazon. Ela é autora de 12 livros e publicou-os pela plataforma KDB (Kindle Direct Publishing). Nas primeiras 5 horas em que publicou o seu primeiro livro por lá, "A Aposta", o livro chegou aos mais vendidos. Ela deu uma pequena entrevista, bem breve, pra gente e falou um pouco sobre alguns tópicos bastante polêmicos.

Quando perguntada sobre pirataria na internet, ela respondeu que "Praticamente todas as minhas obras foram pirateadas. A sensação de impotência chega a ser humilhante. Não há o que fazer para combater, infelizmente." Entretanto, precisamos sim de soluções para combater obras pirateadas. Embora aqui caiamos em uma grande discussão sobre a liberdade de acesso de todos à literatura (lembram do "Stop SOPA"?), é natural que, quando um autor escreve um livro, ele não queira obras piratas de seus livros. Isso porque existe um certo sentimento de "furto" quando isso ocorre, porque se você for pensar é isso mesmo: as pessoas estão deixando de pagar por aquilo que consomem e o autor está ficando sem lucro nos livros que foram distribuídos de forma gratuita.

Entretanto, como eu já disse, esse é um ponto bastante delicado e que ainda rende muita discussão. As bases de argumentação são sólidas de ambos os lados, e a gente se sente até perdido nesse meio. Vale pensar que muitas vezes nós boicotamos o próprio mercado no qual tentamos nos inserir. Por exemplo: se você é um leitor ávido, ama a área editorial e um dia pensa em trabalhar no ramo, vai estar se auto-boicotando ao baixar um livro ilegalmente. Um dia vai ser você que vai estar do outro lado, traduzindo, editando, ou porque não escrevendo um livro, e vai saber o quão ruim é quando percebe que todo aquele seu trabalho está sendo distribuído gratuitamente na internet. E você gastou tempo e dinheiro fazendo tudo aquilo, pra uma pessoa ter comprado e distribuído de forma gratuita para outras, que também deveriam ter comprado.

Discussões polêmicas à parte, na entrevista, também falamos sobre leitores que fecham a cara para livros sem editora e nem versão física, e ela nos disse que "O preconceito existe, uma pena." Aqui vale a pena pensar em nós mesmos, que também muitas vezes fechamos a cara para um livro apenas porque foi escrito por um autor brasileiro, ou porque está só em formato de ebook e não possui editora. Se a mudança partir dos leitores, a coisa muda.

Vanessa disse também que "O cenário [editorial brasileiro] está mudando e a demanda aumentando. Esse é um quadro novo e muito promissor para todos nós [autores nacionais]." Temos acompanhado diversos autores nacionais surgindo com o novo boom literário que vivemos no cenário atual brasileiro. E autores bons, com livros bem escritos, histórias intrigantes e bastante bem pensadas. Isso também aumenta o mercado para que mais de nós, leitores, que sonhamos em um dia escrever um livro, comecemos a colocar a mão na massa e tornar o sonho possível.

Sobre o processo de publicação na Amazon, ela disse que é "descomplicado, parece brincadeira de criança", e que "O que realmente importa nessa carreira [de escritor]: paciência, persistência, humildade, foco e um pouco de sorte." Está aí, portanto, um exemplo de como o KDB pode funcionar, sim, na carreira de escritor!

Além disso, existe também o Wattpad, que é uma plataforma de leitura em que você lê livros de graça de autores que são, em sua maioria, estreantes e sem editora. Vários autores começaram suas carreiras por lá, inclusive a Vanessa Bosso. Ela disse que "O Wattpad é um excelente canal de divulgação. Passei alguns meses por lá e o resultado foi incrível."

Com tudo isso colocado, espero que tenha dado pra refletir um pouco sobre alguns tópicos importantes desse mundo novo de publicação de livros da atualidade. Existe muita procura dos leitores, sim, mas não podemos negar que as formas de publicação em editoras e com livro impresso ainda representam um sonho bastante inatingível para alguns autores. Cabe a nós pensarmos em mudanças nesse mercado, em como nós, leitores, podemos mudar a forma de ver algumas coisas, e a forma de ajudar autores bons e promissores a achar o seu lugar ao sol. Se pararmos pra pensar na história do Hugh, que começou sua vida de escritor colocando seu livro a venda na Amazon e hoje está sendo publicado em vários lugares do mundo e inclusive terá um filme de sua obra, podemos ver que é possível.

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[Semana Silo] Vamos falar sobre Hugh Howey!

Ainda na semana Silo, hoje falaremos sobre o autor, Hugh Howey. Além disso, falaremos também sobre auto-publicação, sucesso da Amazon, livros sem editoras... enfim!



Que susto!
Esse aí do lado é o Hugh Howey. Ele é o autor do livro Silo, que tem duas continuações: Shift e Dust. Ele nasceu em 1975 e desde a escola sempre quis escrever um livro, tendo tentado VÁRIAS vezes. (Ele também era muito interessado em futebol e xadrez!)

Entrou na faculdade, morou em um barco por boa parte do seu tempo nela, mas largou o seu porto seguro e decidiu navegar até o Sul. Depois de muitas aventuras, ele voltou para os Estados Unidos e começou uma carreira como capitão de iate. Viajou muito a trabalho e, aí no meio, conheceu sua esposa Amber, que colocou uma âncora nele e, por fim, compraram uma casa.

Fisicamente Hugh estava mais quieto, mas sua mente continuava na ativa, criando muitas histórias e conectando todas elas, levando-o a lugares fantásticos. Foi assim que ele começou a  partilhar as histórias de Molly Fyde, inspirada em sua mulher. Foi com a série de Molly que Hugh começou a fazer sucesso.

No outono de 2011, Hugh lançou um pequeno conto chamado Silo e publicou-o em ebook pela Amazon. O conto atingiu um grande público leitor que implorava por mais histórias do universo de onde esse conto viera. Quando ele finalmente lançou uma "versão completa" do ebook de Silo, o livro chegou a ficar por um tempo considerável no top 100 livros mais vendidos da Amazon, chegando ao primeiro lugar dos mais vendidos de ficção-científica. Chegou ao topo dos mais vendidos no Reino Unido e na Alemanha também.

Ridley Scott e Steve Zaillian pensaram que a história daria um filme em potencial e a 20th Century Fox comprou a ideia. Foi assim, meus amigos, que o livro atraiu também a atenção da editora Random House, que publicou o livro físico nos Estados Unidos. E esse foi o sucesso estrondoso e rápido de Silo, que já tem até Graphic Novel. Hugh também tem um canal no Youtube, e posta de vez em quando algumas coisas legais sobre sua vida e sobre a série Silo.

O mais curioso é pensar que tudo isso veio a partir da publicação de um ebook na Amazon! Muitas pessoas pensam que isso não dá  certo, que a auto-publicação é um erro e que tudo dá errado quando você se auto-publica.

Entretanto, essa tem sido a saída de vários autores que, por mais que tenham histórias geniais e muito bem escritas, perdem a chance em editoras grandes por N razões. As razões vão desde desinteresse das editoras por determinados gêneros até falta de fé em alguns autores ou histórias. É claro que, considerando o lado delas, é tudo uma questão de negócios, e se elas pensam que não é interessante, não tem muito o que fazer.

Alguns autores seletos, como o Hugh, acabam fazendo bastante sucesso. Mas vale lembrar que essa é a exceção, não a regra. Muitos autores que escrevem bem demais e tem histórias originais, divertidas e bem feitas acabam não atingindo o sucesso merecido. Por isso, vale também lembrar que nós, leitores, precisamos dar chances para livros de autores que ainda não tem editora e são "apenas" ebooks. Além disso, cabe aqui também chamarmos a atenção para a grande facilidade que se tem hoje em piratear livros a partir de ebooks comprados. Com apenas uma plataforma, você pode fazer o upload de um arquivo pago e prejudicar, e muito, o lucro e o sucesso de um autor.

Mas vamos deixar esse papo para amanhã! Não se esqueça de que a promoção valendo 1 kit do livro aqui no blog ainda está rolando, é só ir até o primeiro post da semana e participar. Além disso, fique de olho no Twitter e no Facebook do blog, porque sortearemos mais kits e livros!

[Semana Silo + Sorteio] Silo?

Mais uma semana temática aqui no blog, pessoal! E dessa vez, será sobre o livro SILO, que é o mais novo livro da editora Intrínseca.


MAS POR QUE esse livro é tão especial e por que é que ele precisa de uma semana temática só pra ele? É basicamente o que eu vou tentar explicar aqui hoje nesse post! Isso não é uma resenha (a resenha ainda vai vir!), mas eu quero que vocês tenham um apanhado geral do que é o livro e de porque ele é tão legal.


Silo, então, é um livro que se passa num futuro em que a superfície terrestre fica inabitável. Gases tóxicos e corrosivos tomaram conta da Terra. O Silo é um abrigo subterrâneo gigantesco, composto de uma escada, vários andares e, em cada andar, vários setores. Uma grande sociedade então se forma debaixo da terra, e no momento em que se começa a contar a história, gerações e gerações já se passaram desde que puderam  habitar a superfície, e isso já  é lenda. Ninguém mais acredita que a superfície terrestre um dia foi habitada, e todos acham que o mundo sempre se resumiu ao Silo. Tudo é feito no Silo, desde cultivo da terra e gado até manejamento de petróleo para fazer plástico, fitas, etc.

O grande problema é que, a fim de monitorar a superfície terrestre, existem sensores e câmeras do lado de fora do Silo que ficam o tempo todo buscando alguma alteração na superfície. Esses sensores e câmeras precisam ser constantemente limpos, para melhor visibilidade. Para fazer a chamada "Limpeza", então, existem alguns condenados por crimes contra o Silo. Eles saem, limpam as câmeras e os sensores, e acabam morrendo na atmosfera tóxica. Esses criminosos sempre são determinados pelo Xerife e o Delegado, que "combatem" os crimes contra o Silo (basicamente, qualquer dúvida de que existe alguma manipulação dentro da sociedade, qualquer desejo de sair e descobrir o que há lá fora já constitui um crime contra o Silo).


Quando o próprio Xerife pede para ser mandado para a Limpeza, a prefeita Jahns precisa encontrar alguém para repô-lo, e seguindo a sugestão do delegado Marnes, vai até as profundezas do Silo, na área da Mecânica, para propor a Juliette que assuma o cargo. É assim que Juliette se vê no meio de uma grande guerra de poderes, e se questiona se as regras e a história do Silo são realmente verdadeiras e devem ser cumpridas.

OK! PAREI DE FALAR!
O mais legal de tudo isso é que esse livro tinha sido uma auto-publicação do Hugh Howey, que escrevia enquanto trabalhava em uma livraria, durante suas horas de almoço, por quase 3 anos. Começou como um conto pequeno, de pouco mais de 60 páginas, que arrebanhou milhares de fãs. Assim, o autor começou a desenvolver mais a história e acabou se auto-publicando pela Amazon, vendendo demais. Ele atraiu os olhares de grandes editoras e acabou chegando ao topo de Best-Sellers na Alemanha e no Reino Unido. Os direitos de Silo já foram até vendidos para a 20th Century Fox!


Essa semana vai ser demais! Falaremos um pouco mais sobre o livro, teremos resenha, falaremos sobre o autor, sobre autopublicação e muito mais. Só pra deixar vocês com ainda MAIS água na boca, confiram o booktrailer aí embaixo:


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Belleville - Felipe Colbert

Depois de perder a mãe e ser surpreendido com um problema de saúde do pai, Lucius se muda para Campos do Jordão para cursar matemática . Lá tem o melhor curso e, com o apoio financeiro do pai, ele aproveita o momento para desfazer amarras, mesmo que se preocupe muito com a saúde do "velho". Ele encontra uma casa bem antiga, mas considerando o valor, estava ótimo. Depois de instalado, ele encontra uma fotografia de uma garota enterrando algo perto de um pilar - até onde ele vai e encontra uma caixa com uma carta. Nesta carta, a garota fala do sonho do pai dela, que não pode ser realizado, e pede para que o próximo morador dê continuidade: construir uma montanha-russa para sua pequena no quintal de casa. Trata-se de Belleville

"O que eu não sabia, ainda, é que não era eu quem construía os trilhos. Eles já estavam lá, a minha espera."

Apesar de empolgado com o desafio, ele percebe que é impossível, deixando a missão para o próximo - reiterando o pedido inicial de Anabelle com outra carta. O que ele não esperava é que ela encontrasse o papel naquele mesmo lugar junto da dela - 50 anos antes. Inicia-se assim, uma troca de cartas entre os dois: desacreditados e achando serem alvos de algum desocupado. Como aquela garota achava estar em 1964? Como aquele cara era do futuro? Talvez essas coisas não tenham explicação, mas o que surge a seguir parece fazer parte deste encanto - amizade, paixão e amparo.

Não há outra palavra para definir minha sensação com este livro a não ser: encantada. Essa é, definitivamente, uma história mágica. Mas não daquelas em que os personagens são transformados de uma página pra outra, acreditam em tudo em que lhe vêm - definitivamente não. Lucius e Anabelle me acompanharam no estranhamento aos fatos. Gente, como assim você conversar por cartas com alguém que está no mesmo lugar que você, mas, hm... 50 anos antes?

"Eu precisava me expressar, manter aquele contato. Era o único refúgio para a vida solitária em que encontrava. Só que, dessa vez, deveria escrever de maneira mais objetiva. Apenas dessa forma a história pararia de rebobinar na minha cabeça."

Foi impossível não lembrar de A Casa do Lago (já assistiu? Um dos romances mais lindos que vi) onde os personagens moram na mesma casa, mas com um tempo de diferença (parece confuso, porque o tempo presente de um é passado para o outro) só que em Belleville temos uma diferença gritante - muitos anos, muitos costumes e problemas os separam. É sempre complicado trabalhar com esta questão de viagem no tempo, porque, bem, não existe uma explicação, né? Até as teorias me são absurdas. Então, é preciso estar aberto aos paradoxos. 

O livro é narrado pelos dois personagens (Lucius e Anabelle) e as vozes são levemente diferentes. O autor teve o cuidado de inserir - sutilmente - expressões e palavras utilizadas em cada época (seja no nosso presente ou no passado), assim como lembrou de expressar a confusão dela ao se deparar com certos termos. Fiquei ansiosa pelas cartas - elas deram um charme muito especial ao livro. 

"Todavia, o papel que tinha nas mãos agora era uma carta de esperança, não de desistência. E a fábula de nós três - Belleville, Lucius e eu - ainda demoraria para ter um final."

A única coisa que me causou estranheza foi, perto do início, Lucius falar que com Anabelle se sentia à vontade, poderia ser ele, mas me parecia que eles não tinham essa intimidade. Por outro lado, por não se conhecerem pessoalmente, eles puderam mostrar exatamente o que eram depois. Fiquei tão agoniada perto do final do livro que sonhei com a continuação da história! Estava muito tensa, sério! Eu sofri tanto por Anabelle que nem sei dizer. 

Me remexi inquieta tantas vezes enquanto lia, porque eu sou taurina, extremamente pé no chão e o protagonista fez umas coisas que... meu Deus, eu jamais teria coragem, ainda mais se tratando de dinheiro! Eu nunca tomaria as atitudes que ele tomou (ou seja: eu jamais poderia viver algo parecido rs). Eu temia pelo que ele teria que enfrentar, quando a realidade se abatesse sobre ele. Mas isso é algo pessoal, né? 

Ultimamente tem sido difícil eu dar 5 estrelas para um livro, mesmo que eu goste muito. Mas Belleville é tão perfeito que não consigo avaliar de outra forma. Ambientes vívidos, história linda e apaixonante. Mais do que indicado.

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