Diferente do que eu esperava, mas um livro bem legal.
Cíntia leva uma vida fácil: amante de um criminoso, vive em um apartamento bem localizado em Florianópolis com cartão de crédito à sua disposição. Ela sabe muito pouco sobre o que Walter faz, mas ao presenciar um assassinato cometido por ele, ela se assusta com a frieza e tem noção de quão perigoso ele é/pode ser. Temendo a própria vida, ela decide fugir, mas é impedida por um capanga que a aborda próximo à rodoviária. Na tentativa de se defender, acaba atirando no cara - e, com a confusão, acaba presa pela polícia.
Então ela recebe uma proposta: entregar seu amante passando todas as informações que sabe e, em troca, assumir uma nova identidade e uma ficha limpa. Ela foi convidada por Henrique a ser uma agente da ADQS - uma agência secreta que investiga crimes que a polícia não consegue resolver. Entre ficar presa sem poder mandar dinheiro para sua irmã (cuja existência ela mantém em segredo) e poder ser morta a mando do ex, ela aceita e passa a se chamar Tais Torres. Ela agora é uma agente secreta solucionando crimes e tentando levar uma vida longe de confusões.
Depois de ler algumas resenhas positivas e ter me apaixonado pela capa, pude participar do booktour organizado pela Samantha Rosa (Da Imaginação à Escrita) e, apesar de não superar minhas expectativas, foi uma boa leitura. A ideia do livro me empolgou muito - sério, eu queria muito ler sobre agentes secretos no Brasil. Acho que a sensação de familiaridade ajuda muito, afinal eles teriam que trabalhar com a nossa realidade, com as nossas leis... e, num país onde a justiça parece andar a charrete, eu queria ficar confabulando, enxergar soluções para os crimes "rotineiros" daqui. Ou seja, eu tinha lá minhas expectativas, mas nada de mais, já que eu li poucos livros assim e esperava ser surpreendida. De fato, me chegou uma história fácil de ler, de se envolver e de se apegar, mas difícil de engolir.
De início, o foco é totalmente na Cíntia/Taís e, através desta visão vamos conhecendo a rotina na ADQS. Conhecemos também os outros agentes com quem ela vai trabalhar - todos assumiram novas identidades por conta de um passado sombrio. Aos poucos vamos nos tornando íntimos deles e ficamos curiosos para entender o que os fez parar ali, mas isso é segredo para a maioria. Depois, com o crescimento dos agentes, todos passam a ter destaque e também desenvolvem suas rotinas - de forma que nos apegamos, torcemos e ficamos curiosos. Por algum motivo, eles me lembraram Guardians (Lucy Rangel), onde tínhamos vários personagens - acho que o que têm em comum é o fato de, em ambos os livros, todos serem muito bem desenvolvidos e a capacidade das autoras cuidarem de tantas personalidades diferentes.
O romance me surpreendeu, pois eu apostava no envolvimento que me parecera óbvio e fui logo "desenhando" toda a história clichê na minha cabeça e quando aconteceu, fiquei com a maior cara de boba e quase ouvi a autora rindo da minha cara no maior "HÁ! PEGADINHA DO MALLANDRO! ié ié". Gostei de como ela conduziu este envolvimento e ri muitas vezes das histórias que eles inventavam para a vizinha futriqueira.
A divisão do livro também foi bem interessante, pois cada capítulo traz um novo caso (que vão de encontrar um traficante numa escola à prisão de um deputado). É como se o livro fosse dividido em episódios. Gostei bastante desta forma de apresentar e solucionar os casos (sem contar que cada início de capítulo conta com uma ilustração - os detalhes gráficos estão bem bonitos).
O grande problema é que me deparei, inicialmente, com casos interessantes, mas resolvidos de forma simplória. Eu só conseguia pensar no princípio da ADQS e questionar "jura que a polícia não conseguiu resolver isso? Precisa de uma agência secreta?" e logo fui me contentando e fiquei acomodada durante a leitura: a cada capítulo, chegava um novo caso e, por mais tensão que o envolvesse, eu sabia que dali a poucas páginas tudo ficaria bem. Faltou complexidade e seriedade para tratar dos assuntos abordados. Existem várias regras na agência, mas é tão simples quebrá-las. Veja bem, é expressamente proibido namoro entre os agentes, mas eles vivem em um clima de intimidade tão grande que a regra nem parece ser levada a sério. Sei lá, eu imaginava que os agentes seriam bem mais impessoais, sérios e, em pequenos gestos, surgiria uma atração que resultaria em um amor proibido onde ficaríamos apreensivos de verdade, mas, no fim, todos são tão íntimos que parece impossível que alguém não se envolva. Claro, eu gostei de cada agente - toda essa dinâmica deles, as gracinhas, a união tornou-os mais agradáveis e dava vontade de tê-los como amigos, mas não consigo concebê-los como agentes secretos, entende? A localização da agência também foi um obstáculo para mim, mas acredito que isso seja extremamente pessoal. Ela fica em São Paulo, um lugar bem afastado, sem nada por perto. Tipo, onde existe um lugar assim? Eu sei que não conheço nem 80% das cidades que muitas histórias se situam, mas eu esperava reconhecer esta cidade, sabe? Infelizmente a edição deixou passar alguns erros de ortografia e a letra parece ser em negrito (isto no início assusta, mas logo acostumei e não passou de um detalhe sem importância).
Assim que terminei de ler, fui conversar com a autora para saber se teria uma continuação e, felizmente, ela disse que sim. Acabamos conversando e falei tudo que achei da obra e fiquei bem feliz com a receptividade da Fabiana. Estou ansiosa pelo próximo livro e tenho certeza que ele virá ainda melhor.