"Eu seria filha de vovó? Quem sabe. Mas como? Se chamava minhas tias de titias? Fui descobrindo, com os anos vindos, que eu não devia ser filha de ninguém. (...) Mantive as minhas perguntas em segredo, e assim segurava minhas esperanças, podendo ser filha de quem eu bem entendesse. A filha das flores."
Tudo o quer de mim, é demais, é pesado, não
há paz... ♪ ♫ ♪
Sim, ela. A
Filha das Flores é o romance de estreia da cantora Vanessa da Mata e é regado à
sua melodiosa arte de compor, perceptível em cada frase ritmada e carregada de
poesia. O livro é narrado pela jovem Giza, a quem vemos crescer a cada virar de
página e completar a maioridade bem diante de nossos olhos. A jovem interiorana
é envolta pela atmosfera rural proveniente das exuberantes raízes Mato-grossenses,
cheia curiosidade, ingenuidade e fantasiosa.
O
pequeno vilarejo onde vive fica à beira de uma estrada que liga os dois
extremos do país. Desde cedo foi trabalhadeira, ajudando as tias a confeccionar
buquês e arranjos de flores que cultivavam na propriedade onde moravam e que
abastecia a região. Giza cresceu à sombra das tias, cujo as curvas encantavam
os homens da redondeza, fazendo-a sentir-se deslocada por não parecer
fisicamente com nenhuma delas. Tinha o corpo magro, seios que pareciam limões filhotes
e pernas que se assemelhavam a varetas de mandioca. Por longos anos ficou presa
à infância. Tinha uma paixonite pelo sorveteiro, o Nestor, mas ao completar
dezoito anos, não mais o via com os mesmos olhos.
No
dia de seu aniversário, conheceu Tito. Mas, ao perceber que sua tia Florinda
arrastava asas para o rapaz e, ao surpreendê-los aos beijos no fundo da casa
paroquial, o mundo de Giza desabou. A inocência lhe foi arrancada de maneira
brutal e a admiração que nutria pela tia já não era mais a mesma. Via como a
mulher se insinuava desavergonhada para Tito e decidiu que nunca voltaria a ser
a menina tola de antes. Estava decepcionada, não por não ser capaz de manter a
atenção do rapaz, mas por ter sido ludibriada pela falsa moral que lhe era
pregada todos os dias. Segundo as tias, àquilo era coisa de mulher perdida;
mulher da vida.
"Naquele momento percebi que não a conhecia. Pior, tive medo de que ela não me mostrasse a sinceridade de uma verdadeira amiga e tia que eu pensava que era, que dentro de todos os meus anos de convivência eu agora tinha certeza de que havia submundos guardados com a minha inocência, e que apesar de nunca tê-los visto eles eram reais."
Com
um enredo com um pé na poesia, Vanessa da Mata me surpreendeu. Tive um início
de leitura meio acinzentado e não achei que haveria progresso. Nos primeiros
capítulos há bastante narração, afim de levar o leitor o mais depressa possível
para os acontecimentos mais adiante. Ou seja, é uma longa – mas necessária –
introdução. O livro fica realmente interessante após o aniversário de Giza, da
página cinquenta em diante, e suas descobertas no mundo real. Ela também não
sabe quase nada sobre seu passado, agregando uma boa dose de mistério à trama
e, futuramente, levando-nos a descobrir que há mais segredos naquela vila do
que se possa imaginar.
Vanessa
abordou temas variados, como o descobrimento da sexualidade e do primeiro amor,
o poder que as crenças e a religiosidade exercem sobre a população rural.
Lendas, mitos, divindades. Pintou a simplicidade das moradias e de seus
habitantes, o estardalhaço que causam os mexericos de velhas linguarudas, as
traições encobertas por simples encomendas de buquês e a cada bilhete escrito e
tantas outras realidades que nada diferem do povo que mora na cidade grande. Apesar
de pender para o lado mais dramático o enredo tem certa dose de humor.
"― Você não foi parido, foi cuspido!― E você foi peidado e fede até hoje. Está se queixando, seu falador bundão?
― Olha aí filho duma ... gorda. Um trator nos ultrapassou, sabe a velocidade de um trator, seu homem planta? Reage, desgraça!"
Vanessa
soube, com maestria, captar a essência da escrita como se tivesse passado a
vida a escrever. Para primeiro trabalho, saiu-se maravilhosamente bem trazendo
um linguajar afiado e desprovido de certo pudor, não sendo indicado para
leitores muito jovens. O que, aliás, acredito que não seja o tipo de público
que pretendeu alcançar. Embora a grande maioria dos novos autores nacionais não
seja reverenciada como muitos estrangeiros que simplesmente “explodem” por aí,
acredito que ainda verei o dia em que vibraremos com as inúmeras adaptações de
obras nacionais para as telonas. Ê sonho!
Mas
é FATO que, além de talentosa cantora, Vanessa tem no sangue também, o dom de
brincar com as palavras! Então, encomendem seus ramalhetes e deixem que
Giza adentre as portas de sua casa e lhe proporcione boas horas de proza!
Adorei a sua resenha, querida! Comprei no sábado este livro da Vanessa e também o da Fernanda Torres. Doida para ler! Beijos!
ResponderExcluirIlmara
Oi, tudo bom?
ResponderExcluirPassando para deixar um comentário rsrs
Me falaram muito bem desse livro, fiquei curiosa para lê-lo.
Mas não o acho nas livrarias, uma pena :(
Beijos*-*
Território das garotas
http://territoriodascompradorasdelivro.blogspot.com.br/
Apesar do livro parece muito bom, não é o tipo de leitura que pretendo fazer por agora. É bom esses livros que mostram o crescimento e tudo mais, amadurecimento.
ResponderExcluirNão sou fã das músicas dela, mas a respeito e agora ganhou minha admiração por fazer uma obra tipicamente brasuca, e com primor.
ResponderExcluirParabéns a ela, e que ela seja reconhecida como uma boa autora e consiga mais sucesso e com isso mais livros.
Quanto a resenha, achei que ficou ótima, me deixou com vontade de ler, mesmo eu não sendo tão familiarizado com leitura nacional.
Por último, acho raro ver resenhas desse tipo de livro - geralmente, são mais para público adolescente feito por gringos - acho que acrescenta muito ao blog ter às vezes resenhas de livros assim.
ResponderExcluirNossa não sabia que ela tinha escrito um livro, essa foi novidade.
A história não me despertou curiosidade, mais quem sabe não arrisco a leitura um dia desses né?
Bjs
Tais
http://www.leitorafashion.com.br
Gente, não sabia que ela tinha escrito um livro. Que surpresa.
ResponderExcluirO enredo que o livro traz consigo é bem bom, mas não sei se é o tipo de leitura que me agrada.
Beijos
Vanessa da Matta,é linda excelente cantora e compositora conheço quase tudo:Como escritora deve ser legal tam´bem vamos conhecer.Parabéns!!!
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