Dias Perfeitos - Raphael Montes

A literatura brasileira tem sido muito apaixonante, mas é a primeira vez que experimentei uma ficção policial nacional. Não me arrependi.

“Dias Perfeitos” conta a estória de um estudante de medicina chamado Téo e de seu amor obsessivo por Clarisse. Acho que obsessivo é pouco... Téo é um homem muito, muito reservado, que tem apenas uma única amiga (ah, mas vou falar dela daqui a pouco) e que é desprovido de qualquer sentimento. Não estou dizendo que ele seja cruel, não de início. Ele só não sente essa necessidade de nutrir vínculos com outras pessoas, e se é mesmo capaz. Porém ele conhece Clarisse em um churrasco que não queria ir e descobre nela uma moça rebelde, completamente diferente das poucas pessoas que ele entrou em contato. E aquele jeito dela, de menina travessa, faz o rapaz entender que ele não só podia nutrir o amor, como também que seus sentimentos eram arrebatadores. Até demais.

Depois da rejeição que ele sofre de Clarisse, Téo tenta fazê-la se apaixonar por ele. Como? Bem, acontece que Clarisse estava escrevendo um roteiro, e iria viajar para se concentrar (coisa de escritor, rsrsrs). Ele a sequestrou levando-a para Teresópolis (onde Clarisse pretendia ir), forçando a moça a passar um tempo com ele, tentando mostrar a ela que eles foram feitos um para o outro. O problema é que Téo, além de cegamente apaixonado, não conseguia perceber a gravidade do que estava fazendo. E nem de que, com aqueles atos, ele iria chegar em um poço sem nenhum fundo.

"Encontrara o Vogue de menta em uma padaria do centro. Havia comprado dois maços, mas, na volta ao hotel, decidira fazer Clarisse parar de fumar. Sem que ela notasse, cortaria da rotina. Um processo gradual. No início, teria que inventar desculpas e suportar os desaforos da abstinência. Ao final, atingiria o objetivo."

O título é uma clara ironia. Pelo menos para Clarisse, já que para Téo, passar aquele tempo com ela, é ótimo. Afinal, para ele, é perfeitamente compreensível ter que amarrar, amordaçar, drogar a garota que ele ama. Caso contrário os gritos dela poderiam chamar a atenção de alguém ou, pior, ela poderia fugir. E se fugisse como ele iria fazê-la se apaixonar por ele? Idiota! O mais mórbido, talvez, seja o fato de que as circunstâncias contribuíram para que todos acreditassem que Téo e Clarisse eram um casal apaixonado! A família de ambos achava que eles estavam apenas fazendo um roteiro amoroso, então o “sequestro” de Clarisse em nada era estranho. Tudo isso ajudava Téo a passar mais tempo com ela sem ser incomodado.

Porém o rapaz não é nada comum. Na sinopse do livro diz que ele “justifica suas atitudes com uma lógica impecável”. E é verdade! Raphael Montes conseguiu montar um drama muito bem feito, em que o leitor vê tudo por essa mente louca. Pois ao mesmo tempo em que o leitor sabe que todos aqueles atos de Téo são insanos, é perfeitamente “lógico” (do ponto de vista do personagem) o que ele está fazendo. Mas não, não nos enganamos com relação a ele, e isso percebemos logo nas primeiras linhas do livro. Pois é no início que Téo fala sobre sua única amiga, Gertrudes. Até aí estaria tudo bem, se Gertrudes não fosse um cadáver da aula de anatomia. É, isso diz bastante sobre nosso personagem. Muito diferente de Clarisse, que é sempre muito viva, muito sociável, muito livre. E esperta o suficiente para saber o que fazer, ao invés de apenas aceitar o seu destino.

Acho que até aqui vocês entenderam o quanto o adorei esse livro, o quanto a estória me surpreendeu, tanto pela lógica quanto pela loucura. E, sim, tenho que confessar que adorei o cenário carioca. Porém todo o enlace, toda a construção... Não tem como o livro não prender. E não tem como, principalmente, o final não te deixar desnorteado, para não dizer o mínimo, rsrs. Espero que os apaixonados por esses novos livros nacionais deem oportunidade também para essa estória.
Comentários
4 Comentários

4 comentários:

  1. Excelente resenha. Deu muita vontade de ler o livro.

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  2. tenho lido bons comentários, mas não me sinto atraida a ler esse tipo de livro!
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  3. Oi, Pamela
    Adorei sua resenha. Depois da leitura que fiz do livro, concordo com você: é intenso, a loucura e a lógica tb me surpreenderam. Tive um misto de indignação e náusea, ao mesmo tempo uma louca compreensão da obsessão de Téo... amei a reviravolta.
    Adorei o final, fiquei sorrindo, cúmplice da loucura toda! Me senti perversa, rsrs... O autor já comentou que esse final gera polêmica, mas pra mim funciona bem quando é coerente com a trama. Para o cinema ele escreveu dois finais. E talvez seja o outro escolhido.
    Beijooooo!

    A minha resenha do livro está aqui: Ler para Divertir

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  4. Eu havia recomendado uma amiga comprar esse livro, mesmo eu sem tê-lo lido, e ela gostou bastante!Finalmente, meses depois dela, eu o li e gostei também. Se fosse para resumir em uma palavra seria: sinistro! Tem umas cenas doentias, e há todo um clima de "isso não pode estar acontecendo" - tanto que parece um conto de fadas de terror, com várias referências.
    Bom, para finalizar faço parte do grupo que não gostou do final.

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